A COVID-19, causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), costuma evoluir com uma severa pneumonia intersticial bilateral, levando a insuficiência respiratória fatal. Em 29/04, a pandemia estava confirmada em mais de 3 milhões de pessoas em 185 países e regiões, com taxa de mortalidade geral de mais de 6% dos infectados. Uma avaliação preliminar dos casos parecia indicar que a doença atacava somente o aparelho respiratório.
Três pesquisadores ligados à Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins - David A. Kass, Priya Duggal e Oscar Cingolani – desde fins de março deste ano notaram que muitos pacientes jovens com COVID-19 estavam chegando para atendimento na UTI do hospital daquela instituição. Isso diferia de uma visão prévia de que a pandemia seria uma patologia eminentemente de idosos e que ela só bem excepcionalmente afetava os jovens. Viram que isso também estava ocorrendo em UTIs em outras partes dos EUA.
Em correspondência publicada pela tradicional revista médica inglesa The Lancet, eles comunicam ter constatado também que muitos desses jovens pacientes eram obesos, um problema de saúde pública nos EUA, onde a prevalência de obesidade está na casa dos 40%, em contraste com 6,2% na China, 20% na Itália e 24% na Espanha.
Esses pesquisadores estudaram uma amostra de 265 pacientes (58% deles, homens), verificando uma relação inversa entre idade e IMC (Índice de Massa Corporal) – ou seja, quanto menor a idade, maior o IMC (que é um indicador genérico de peso normal, de sobrepeso e de obesidade franca). Nessa amostra, apenas 25% dos pacientes tinham IMC abaixo de 26 kg/m2 (limite máximo de peso normal) e 25% deles passavam dos 34,7 kg/m2 (obesos). A mediana do IMC era 29,3 kg/m2 e não havia diferença entre sexos.
Como a obesidade pode dificultar a função respiratória? Ela restringe a capacidade de ventilação porque dificulta a movimentação do músculo diafragma (fundamental para a respiração normal), prejudica a resposta imune ao vírus, favorece inflamações, induz diabetes e um stress oxidativo que afeta negativamente a função cardiovascular.
Os pesquisadores concluem que, nas populações com alta prevalência de obesidade, a COVID-19 afetará segmentos jovens bem mais do que anteriormente relatado. E recomendam que autoridades públicas devem informar esse aspecto à população jovem, aumentar a testagem do coronavírus nos indivíduos obesos e manter maior vigilância sobre este grupo de risco, buscando reduzir a prevalência da COVID-19 em sua forma grave.
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Fonte: The Lancet * May 04, 2020
DOI:https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)31024-2
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