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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Estados policiais à moda do "Ocidente"

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Espionagem britânica interceptou conversas de centenas de jornalistas e considera repórteres investigativos “ameaça”. Europa quer ampliar vigilância sobre internet. Jornais brasileiros calam-se.

Por Antonio Martins, no site Outras Palavras

O serviço secreto da Grã-Bretanha adquiriu poderes para interceptar, a partir de cabos de fibra ótica, as comunicações mantidas, via internet, por cidadãos de qualquer nacionalidade. Esta invasão é praticada sem autorização judicial, e resulta na captura e armazenamento de um enorme volume de informações. Jornalistas de algumas das publicações mais conhecidas do mundo estiveram entre os alvos. Estes profissionais – em especial os repórteres investigativos – “representam uma ameaça potencial à segurança”, segundo documentos de circulação reservada. Como se fosse pouco, os governos da Grã-Bretanha e de outros países europeus preparam-se para intensificar medidas de controle e vigilância social – usando como pretexto o atentado contra o Charlie Hebdo.

Este conjunto de revelações amedrontadoras foi feito nos últimos dias pelo diário londrino The Guardian, com base em documentos vazados por Edward Snowden, ex-agente da CIA hoje perseguido pelos Estados Unidos e refugiado em Moscou. Houve intensa repercussão em diversas partes do mundo. Mas a mídia brasileira, que se diz frequentemente ameaçada de controle estatal, preferiu… omitir o fato de seus leitores.

Os novos sinais de que a liberdade de expressão está se tornando algo fictício nas “democracias ocidentais” surgiram nesta segunda-feira (19/1). Após checar documentos fornecidos por Snowden, o Guardian confirmou um “experimento” de espionagem praticado pela principal agência de “inteligência” britânica,. Batizada com nome orwelliano de Quartel-General de Comunicações do Governo (GCHQ, em inglês), ela trabalha em estreita colaboração com a NSA (Agência Nacional de Segurança), dos EUA. Agiu em novembro de 2008. Praticou então, segundo o jornal, uma das “inúmeras drenagens nos cabos de fibras óticas que constituem a espinha dorsal da Internet”.

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Fonte do texto e ilustração: Outras Palavras

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Metendo a mão no bolso do sindicalizado através da fraude do "Congresso"

Um comentário:
Sorriam, filiados e filiadas do Sinditest! Melhor, gargalhem. Em breve, vocês verão seu contracheque com uma agradável surpresa: sua mensalidade sindical arrebatada em dobro! Sim, um aumento de 100%. 

Não que isso em si seja um descalabro: debatido decente e democraticamente, depois de amplo conhecimento em toda a base, pode-se com tranquilidade concordar em elevar o desconto de 0,5 para 1% sobre o Vencimento Básico, numa votação realizada numa assembleia geral normal. Afinal, o assunto nem é tema do Estatuto do Sinditest.

No entanto, a Diretoria “Sindicato é pra...” (pra quê mesmo? Iludir?) vai meter a mão em seu bolso após realizar uma gigantesca fraude num processo que ela, a Diretoria, chamou de “Congresso da Reforma Estatutária”, ocorrido no final de 2014. Nessa fraude - em que muitas vezes passaram listas de abaixo-assinado para parecerem listas de presença de assembleias fictícias - a Diretoria quer dar a impressão de que teria havido um “Congresso”, cujo quórum estatutário de 20% do total de filiados (cerca de 1.200 pessoas) teria sido atingido, com isso legitimando as mudanças desejadas. Entre as mudanças, a elevação de 0,5 para 1% no desconto da mensalidade.

Na enorme fraude do “Congresso”, forjaram atas (e listas de “presença”) de assembleias que teriam sido realizadas no Centro Cirúrgico, nas UTIs, na creche e no laboratório do HC. Quem consegue imaginar uma “assembleia” em pleno Centro Cirúrgico? E com supostamente 51 servidores do HC! Ainda assim, a fraude colossal não chegava perto do quórum necessário.

Então, pasmem, leitores: há uma ata descrevendo uma “assembleia” em pleno almoço de confraternização na sede social da rua Marechal Deodoro, em 7 de novembro passado... Podem mentalizar a imagem daquele salão cheio de mesas com as pessoas brandindo seus talheres e ao mesmo tempo “em assembleia” para deliberar sobre assuntos do Estatuto? Aquilo foi o cume da fraude, porque naquele almoço explicitamente a presidente da Diretoria PSTUísta conclamou, ao microfone, para os convivas se dirigirem até determinada mesa e colocarem suas assinaturas em apoio às modificações do Estatuto. Quem na boa fé foi lá assinar nem sabia do que se tratava.

Este Blog, desde outubro, denunciou a fraude do tal “Congresso”, em postagens como “O Congreço do Sinditest. Congresso?”, “Um sindicato alienado e dois congressos”  “Fracasso anunciado”  e outras. Não adiantou. Eles prosseguiram na perpetração da fraude.

E, tendo começado mal, prosseguem mal, tentando legitimar sua fraude, tal como aparece em matéria publicada hoje (28) no site do Sinditest. Obrigam-se a mentir deslavadamente ao afirmar, nessa matéria, que “Foram realizadas ao todo 30 Assembleias na base formal (legal) de representação do sindicato... Em todas essas Assembleias, as propostas de alteração apresentadas pela Diretoria do Sinditest foram aprovadas por maioria ou por unanimidade.” Bem, caros leitores, já citamos acima a “assembleia do almoço”; se você porventura foi a esse almoço, terá sido testemunha ocular do tipo de “assembleia” ali ocorrida.

O processo todo foi feito de maneira fraudulenta, autoritária e no atropelo, sem a menor consideração com as sugestões de método que a OPOSIÇÃO havia apresentado para a Diretoria do sindicato desde julho/2014. Depois que convocaram na marra a fraude congressual, a OPOSIÇÃO avaliou que o processo estava equivocado e entregou à Diretoria um Manifesto expondo os motivos pelos quais não iria participar e validar aquilo. Esse documento, subscrito por cerca de 70 servidores, reproduzimos abaixo:


MANIFESTO 

"Curitiba, 2 de outubro de 2014 

À Diretoria do Sinditest-PR gestão 2014-2015 

Srs. Diretores, 

Vimos, por meio deste, MANIFESTAR nosso posicionamento diante da convocatória, publicada no site do sindicato, de um “II Congresso do Sinditest” indicado para o início de novembro. Após examinar o conteúdo daquela convocatória, referenciando-nos em toda a luta de anos em busca de uma profunda e democrática reforma do Estatuto desta entidade sindical, expressamo-nos nos seguintes termos: 

CONSIDERANDO que a atualização do defasado Estatuto do Sinditest é imperiosa no sentido da democratização maior de nosso movimento sindical, 

CONSIDERANDO a insegurança jurídica causada pela instabilidade do registro do sindicato junto ao MTE, corroborada pela utilização de um CNPJ provisório, 

CONSIDERANDO que tal reforma de estatuto consta como promessa de campanha da atual gestão “Sindicato é pra lutar”, 

CONSIDERANDO que uma reforma do estatuto, para ter legitimidade e aceitação, precisa dar-se num processo unitário, nitidamente democrático, de debate aprofundado e sem atropelos, 

CONSIDERANDO que a convocatória emitida na matéria no site do Sinditest em 22/09/2014 (“Edital no. 1”) não configura um verdadeiro Edital de Convocação de Congresso por carecer de alguns elementos imprescindíveis, em especial as regras do processo congressual e apenas exibir datas e uma proposta de pauta, 

CONSIDERANDO que o item fundamental “Reforma do Estatuto” está diluído em meio a outros itens nessa mesma pauta do “Edital no. 1”, 

ENTENDEMOS que a proposição de tal Congresso, nesses termos, é equivocada, feita de afogadilho para atender interesses obscuros, não propiciará um debate paciente e aprofundado do Estatuto para bem reformá-lo (objetivo central) e, portanto, não merece ser considerada como instância legitima dos TAEs representados pelo Sinditest. Assim sendo, nós nos recusamos a convalidar uma iniciativa que partiu de modo estritamente unilateral da Diretoria atual do Sinditest, apesar da boa disposição de diversos membros da base de contribuir para a construção de um processo unitário, e alertamos a categoria acerca da impropriedade desse evento na forma como está apresentado, sem prejuízo de outras iniciativas que resguardem aspectos legais sobre a reforma estatutária capitulados no estatuto vigente. Pugnamos, não obstante, com a esperança de que um processo reformador do Estatuto ainda possa se dar, desde que com lisura, transparência, espírito unitário e efetiva democracia sindical. Colocamo-nos à disposição para construir tal processo. 

Sendo o que tínhamos a expressar, subscrevemo-nos, como filiados da base do Sinditest-PR, no verso deste documento."

Riso feliz da hiena que não tosse

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Começou mal o segundo mandato da presidenta Dilma. As medidas que ela recentemente endossou na área econômica e duas Medidas Provisórias (MPs 664 e 665*) irritaram profundamente os trabalhadores.  Por isso as Centrais Sindicais CTB, CUT, Força Sindical, UGT, CSB e UGT realizaram hoje (28) um primeiro "Dia Nacional de Lutas" em defesa dos direitos da classe trabalhadora.  Em Curitiba, o ato de protesto ocorreu na Praça Santos Andrade, das 10 às 12 horas, reunindo cerca de 300 manifestantes.  Os discursos foram duros contra a presidenta.

Foi muito divulgada entre os trabalhadores, na campanha presidencial de 2014, uma afirmação de Dilma, de que não se mexeria em direitos dos trabalhadores "nem que a vaca tussa".  Tossindo ou não tossindo, medidas que alteram os modos de acesso a alguns direitos trabalhistas foram tomadas no fim do ano.  Não por causa de bovinos, mas por causa da Hiena que se chama mercado capitalista, onde prevalece a vontade do grande capital financeiro.


Essa hiena maldita, ao longo dos mandatos Lula e Dilma, esteve ululando para garantir seus privilégios de classe dominante e abastada. Através do seu principal braço político - a mídia hegemônica - não passa um dia sem exigir que se mude a rota do país e se penalize os trabalhadores para enfrentar a dita "crise" econômica.  Pois a hiena capitalista, neste momento, demonstra ter dobrado em parte a presidenta Dilma, inclusive impondo um soldado das hostes financeiras: o novo ministro da Fazenda Joaquim Levy.

Grande burguesia financeira, cheia de privilégios, mama nas tetas da vaca Brasil

O ato das Centrais de hoje foi um primeiro alerta à presidenta e um primeiro ensaio, para esquentar os motores, para novas mobilizações.  A próxima manifestação será uma Marcha programada para 26 de fevereiro.  Essas demonstrações de combate da classe trabalhadora se propõem a constituir forte resistência para impedir que o ministro Levy imponha uma agenda de austeridade e arrocho no país, que só trará recessão e reverterá avanços obtidos até aqui no campo dos salários e do emprego.  Porque a luta é para que os ricos deixem de ser poupados pelos governos e passem a contribuir com parte de suas imensas fortunas para o esforço de superar as dificuldades econômicas atuais. 
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(*)As MPs 664 e 665 alteram (dificultando acesso) as formas de conceder alguns benefícios trabalhistas, como o seguro-desemprego, o abono salarial, o auxílio-doença e a pensão por morte.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Cartazes de verão

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Eles dizem que lutam, logo, não precisam prestar contas à base...

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A chapa que hoje comanda o Sinditest prometeu publicar balancetes trimestrais das contas da entidade. Não cumpriu. Muitos meses depois do início desse descumprimento, agora em meados de janeiro/2015, a chapa “Sindicato é pra lutar” emite em seu site uma matéria com planilhas das contas de 2014. Ainda assim, faltando os meses de maio e dezembro.

No texto dessa matéria, a Diretoria PSTUísta até admite esse descumprimento como falha grave. Mas para aí. Logo arranjam a desculpa: eles “lutaram demais” em 2014 e não deu tempo para cuidar das tarefas administrativo-financeiras da maneira prometida em campanha. Ah, como eles lutaram (só eles), coitadinhos, e com isso descuidaram da prestação de contas. 

Pois era para fazer prestação das contas de 2013 até março de 2014 em assembleia geral comandada pelo Conselho Fiscal, mas nada! E isto é determinação estatutária... Penalização por isto? Nenhuma. 

Pois era para fazer prestação de contas do Fundo de Greve (3 meses de desconto em dobro da mensalidade sindical) logo depois de finda a greve nacional em junho/2014, mas nada! Prometem mostrar na internet as planilhas dos gastos da greve ainda em janeiro, tardiamente. Vamos conferir.

A assembleia de março de 2014 no HC, que fez uma apresentação sumária dos resultados da Auditoria Interna, definiu que o contador Ewerton deveria ser demitido o quanto antes. Pois ele só largou a contabilidade do sindicato no final de 2014, ou seja, 9 meses depois da decisão.

Estamos, por ora, na boa fé, contando que se trate apenas de incompetência administrativa, e não haja elementos escusos motivando tanto atraso.

A Oposição sindical à Situação PSTUcana na Diretoria tem o papel de fiscalizar e cobrar. Ou não seria oposição. No entanto, na esfarrapada desculpa pela falha com as contas, até para Oposição sobra culpa da incúria deles, quando dizem que a Oposição “conseguiu lançar campanhas difamatórias contra nós e esvaziar algumas assembleias, espalhando dúvidas na base devido à ausência da prestação de contas.” Ora, diacho! A Situação PSTUcana não presta contas nos prazos devidos e a Oposição não tem o direito de ter dúvidas... Qualquer filiado da base teria direito a dúvidas! Palhaçada!

Para arrematar a incompletude dessa “prestação” de satisfações, a matéria publicada pela Diretoria PSTUcana adverte que as planilhas publicadas são “apenas uma prévia, pois é preciso fazer alguns ajustes e não conseguimos ainda concluir o balancete dos meses de novembro e dezembro.” Não só isso, também está faltando a planilha de maio, perceberam?

Temos certeza de que, nas planilhas publicadas até agora, existem vários elementos merecedores de uma análise minuciosa. Mas isso é assunto para futuras postagens.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A família enojada do ladrão enojado

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Há menos de dois meses, o senhor ladrão Paulo Roberto Costa que, junto ao condenado doleiro Alberto Youssef, ostenta o papel de oráculo da verdade em nossa imprensa, disse, ao vivo e a cores, pela TV Senado, que estava “enojado”, já em 2009, da roubalheira que ele próprio praticava.

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço

E que resolveu fazer a delação premiada motivado pela família, também enojada com tudo aquilo:

- Quem me colocou com clareza para eu fazer a delação foi minha esposa, minha filha, meus genros e meus netos. Falaram pra mim: ‘Paulo, por que só você? E os outros? Cadê os outros? Você vai pagar sozinho?’. Fiz a delação para dar um sossego a minha alma e por respeito e amor à minha família.

Hoje (25), o repórter Aguirre Talento, na Folha, mostra o que rendeu o “nojo” da família Costa: as filhas de Costa, Ariana Azevedo Costa Bachmann e Shanni Azevedo Costa Bachmann, e seus genros, Marcio Lewkowicz e Humberto Sampaio de Mesquita.

Todo mundo leva “livre, leve e solto”, mesmo tendo conscientemente participado de todo o esquema.

Eram eles que abriam e operavam as contas no exterior por onde passava a nojenta bufunfa familiar:

"A conta na Suíça foi aberta em nome do executivo, de sua mulher e de uma das filhas. Os dois genros assinaram a documentação para criar uma conta no Royal Canadian Bank em Cayman, um paraíso fiscal no Caribe. Essa conta tinha um saldo de US$ 2,8 milhões".

Dr. Moro, francamente, eu também quero ficar “enojado”, se a coisa funciona assim.

Youssef recebe “comissão” sobre o dinheiro roubado, mesmo já sendo um condenado por corrupção que descumpriu os termos de sua primeira delação.

A família de Costa não tem, ao que se saiba, informações a fornecer.

Eu que sou um curioso do Direito dos velhos tempos – não deste “moderninho” hoje praticado – aprendi que a eventual pena jamais pode exceder à pessoa do réu.

Se não tem pena “por lote”, também não tem “perdão a lote”.

Qual é o problema da família Costa de cumprir uma pena menor, possivelmente em regime aberto até, por sua participação no esquema? Eles são melhores que as outras pessoas?

Quer dizer que amanhã, se um traficante de drogas fizer uma delação premiada ele pode colocar, digamos, seu irmão, também traficante, no “lote de perdão”.

E um primo?

Um amigo, mesmo que estes não tenham nada com que colaborar na investigação?

Numa coisa, porém, o uso da palavra “enojado” procede.

É como qualquer pessoa se sente vendo este tipo de barganha absurda, onde – além daqueles que têm, de fato culpa no evento criminoso – vão a execração pública todas as pessoas que “alguém disse que Youssef disse”, mas os que têm culpa provada de atos ilegais ficam impunes, agora e para sempre.

Vitória da esquerda grega chacoalha Europa

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Tsipras, vitorioso na eleição parlamentar de ontem

O triunfo da coligação de esquerda Syriza, de Alexis Tsipras, futuro primeiro-ministro da Grécia, representa mais que a inédita vitória, em solo europeu, de corrente inimiga da estratégia de austeridade.

Por Breno Altman, no site Opera Mundi

A envergadura histórica dos resultados eleitorais vai além: pela primeira vez desde o final da União Soviética, um partido de esquerda, anticapitalista, conquista o governo de uma nação do velho continente.

A vida política da região esteve marcada, desde os anos noventa, pela dança de cadeiras entre duas variáveis do neoliberalismo: a conservadora e a social-democrata.

A exceção é o nacionalismo russo de Putin e outros Estados menores, ex-integrantes do antigo espaço soviético, mas cuja identidade não está marcada por paradigmas socialistas.

As agremiações sociais-democratas, contudo, foram paulatinamente deixando de ser expressões reformistas do campo progressista para se converterem em opção mais branda da hegemonia do capital financeiro.

Suas gestões pouco ou nada se diferenciam, no fundamental, do que é defendido e praticado por legendas propriamente de direita. Chegam mesmo a compor governos de unidade nacional, como é caso alemão e o da própria Grécia até este domingo (25/01).

O Pasok, aliás, virou pó, com menos de 5% dos votos, com os eleitores esculachando a aliança de governo dos sociais-democratas com a principal legenda da direita, a Nova Democracia.

O fato é que a esquerda europeia esteve circunscrita, antes da ascensão do Syriza, a papel secundário, desempenhado por partidos comunistas e outros grupos com sérias dificuldades para se viabilizarem como alternativa de poder.

O jogo, agora, mudou.

O Syriza (em grego, abreviatura para Coligação da Esquerda Radical) tem fisionomia semelhante ao PT brasileiro.

Mais do que partido clássico, trata-se de frente orgânica. Aglutina inúmeras correntes, em espectro que vai do trotsquismo à social-democracia, ao redor de um programa de caráter socialista.

Sua principal força propulsora são os movimentos sociais e populares que se rebelaram contra o garrote financeiro imposto sobre a Grécia desde a crise de 2010.

Mas o cenário com o qual Tsipras e seus correligionários irão lidar é oposto ao percurso petista após a conquista eleitoral de 2002.

O ex-presidente Lula pode implementar políticas públicas de natureza distributiva a partir do reordenamento orçamentário, sem graves choques com o sistema financeiro mundial e sem a obrigatoriedade de reformas estruturais.

Ainda que esta orientação viesse a entrar em fadiga, como vem ocorrendo nos últimos quatros anos, a verdade é que o petismo pode promover a expansão de emprego, renda e direitos, durante longo período, sem confrontar o modelo rentista e as forças que o sustentam.

O Syriza, no entanto, somente será capaz de enfrentar a calamitosa herança social e econômica deixada por seus antecessores se fizer mudanças profundas e enfrentar o centro dirigente do imperialismo europeu.

O nó górdio é a dívida pública.

Sem estancar esta sangria, o Estado grego continuará insolvente para atender as reivindicações das ruas e retomar o crescimento.

Tsipras sinalizou, nas semanas derradeiras de campanha, disposição para negociar, evitando a ruptura com a União Européia e o euro.

Mas seus interlocutores, particularmente França e Alemanha, estão em sinuca de bico.

Se aceitam um pacto que alivie a vida helênica, outros países engastalhados — como Portugal, Espanha, Itália e Irlanda — podem pedir as mesmas facilidades. Os grandes bancos e fundos não admitem concessões dessa magnitude.

Caso a opção da chamada troika (formada pela Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional) seja bater o pé em defesa dos acordos firmados pelo governo de centro-direita que foi derrotado nas urnas, o Syriza viverá sua hora da verdade.

Teria, grosso modo, em circunstâncias de intolerância das instituições financeiras, dois caminhos pela frente.

O primeiro seria o da ruptura unilateral dos compromissos de ajuste fiscal e pagamento da dívida, além do vínculo com a moeda única, colocando em xeque todo o sistema europeu.

As consequências iniciais poderiam ser dramáticas para o povo grego, até que a retomada da soberania nacional pudesse fazer a economia respirar, liberta das sondas predadoras de seus credores.

Além da maioria parlamentar que formou graças à composição com um pequeno partido nacionalista de direita, o Gregos Independentes, Tsipras eventualmente contrabalancearia dificuldades materiais com a mobilização dos trabalhadores gregos e o alastramento desse estado de ânimo por outras nações do sul europeu.

Outro caminho seria o da submissão, acatando ditames da troika e aceitando, como compensação, algumas alterações cosméticas. Mas pagaria elevadíssimo preço político por tamanho recuo.

O Partido Comunista, por exemplo, com 15 deputados eleitos, hipotético aliado, anunciou que se recusa a compor o novo gabinete porque sua direção está convencida sobre a tendência de Tsipras à capitulação, além de criticar sua disposição de continuar na União Europeia e na Otan.

Quem viver, verá.

Aconteça o que acontecer, porém, a Grécia se transformou no epicentro dos principais lances políticos dos próximos tempos.

A Europa está aturdida por um fenômeno que talvez abra novo ciclo político, no qual se viabilize uma esquerda antagonista vocacionada para conduzir o continente a outro modelo de desenvolvimento.

sábado, 24 de janeiro de 2015

Centrais Sindicais convocam classe trabalhadora para Dia Nacional de Luta

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Em defesa dos direitos da classe trabalhadora, a CTB e as demais centrais CUT, Força Sindical, NCST, UGT e CSB convocam a população para sair às ruas, na próxima quarta-feira (28), em protesto contra a decisão do governo em reduzir benefícios trabalhistas. 

Em Curitiba, a mobilização será a partir das 10 da manhã de 28/01 na Praça Santos Andrade.

As centrais se reuniram com o governo federal na última segunda-feira (19), e reivindicaram a revogação das medidas provisórias 664 e 665, anunciadas em dezembro do ano passado. Se aprovadas, as medidas tornarão mais difícil o acesso ao seguro-desemprego, abono salarial (PIS-Pasep), auxílio-doença, pensões, seguro-defeso e auxílio-reclusão entre outros. 


A ênfase numa política econômica conservadora, ditada pelo sistema financeiro, está levando o governo a uma perigosa rota de colisão com os movimentos sociais, que tiveram papel decisivo na reeleição de Dilma”, alertou o presidente nacional da CTB, Adilson Araújo.


O "Jornal do Trabalhador", editado unitariamente pelas centrais para convocar o Dia Nacional de Lutas, sugere uma receita com quatro medidas: (1) instituição do Imposto sobre Grandes Fortunas; (2) taxação das remessas de lucros e dividendos ao exterior (que, de quebra, contribuiria em muito para o controle do déficit externo em contas correntes); (3) revisão das desonerações (sobretudo em ramos controlados por multinacionais, que com a renúncia fiscal ampliaram seus lucros e, ao mesmo tempo, as remessas às matrizes); e (4) redução dos juros (que originam o déficit público).

Nada de preces para Showtrick - Cap. 6

Um comentário:
A primavera envolvia a cidade de Orlando. Tudo parecia estar muito calmo, descontando as ocorrências policiais típicas de toda cidade grande. No gramado diante da sede da USCU os passarinhos pipilavam e brincavam entre si, destemorosos, desconhecendo o que ia pela cabeça dos humanos que se movimentavam dentro do prédio. Se soubessem, talvez desistissem de cantar.

Fazia já uns meses desde o trágico desaparecimento de John Dick no outono. Mas isso não alterou a rotina da USCU e de seus dirigentes principais. Salvatore e Showtrick preparavam uma grande recepção, um almoço, onde fariam sua tradicional demagogia com a massa de filiados mortos de fome e anunciariam a venda do imóvel de Alafaya como mais uma promessa de campanha cumprida.

- Marla, venha aqui na presidência, precisamos conversar sobre a nova edição do "USCU News"! – ordenou Salvatore pelo telefone à sala da imprensa.
- Me deixa terminar teu photoshop pra te deixar menos gordo na foto, Salvatore! Já chego aí...

Em dez minutos o presidente da USCU e sua diretora de imprensa estavam juntos discutindo as matérias do próximo jornal do sindicato, definindo que seria distribuído no grande convescote marcado para dali a 10 dias. Era essencial demonstrar que a diretoria, conforme prometera aos filiados, tinha efetivado a promessa de se livrar do imóvel de Alafaya e tinha sido por um bom preço. Mais um ponto para a gestão de Salvatore. Marla, apesar de seus secretos planos pessoais, colaborava para enaltecer seu chefe e iria fazer um jornal conforme a encomenda para produzir ilusões na categoria. Jornalismo não era, era política, e nisso os escrúpulos dela ficavam guardados na geladeira de casa.

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- Marla, estou meio cabreiro ainda com essa história da venda de Alafaya e essa morte esquisita do Dick... O que lhe disse Salvatore?, perguntou Joey, parado na pia do banheiro onde escovava os dentes, de cuecas.
- Cacete, Joey, você está com essa mesma cueca há uma semana! Joga no cesto de roupa pra lavar!!
- Tá OK, eu troco a cueca, mas ouviu o que eu falei da USCU?
- Ouvi, sim, claro, tem umas coisas estranhas, mas temos que ir em frente com nosso plano, certo? Isso é rolo do Salvatore e do Showtrick, não temos que nos meter, vamos fazer só o que pedirem e pronto. Não somos responsáveis, não seremos.
- Isso é o que eu não sei, afinal botamos nossas assinaturas em alguns documentos...
- Porra, escova logo esse dente e vem deitar.

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Manhã ensolarada de primavera aquela em que a USCU realizou seu almoço de confraternização dos filiados. Chegando ao amplo salão onde acontecia a comilança, cada trabalhador recebia um exemplar do jornal da USCU. O grande destaque na publicação era a venda do terreno de Alafaya, cujo texto trazia como ilustração um fac-simile de um trecho da escritura de venda, sob o carimbo de “promessa cumprida”.

O ambiente estava bastante festivo, o ar preenchido pelo som de risadas e de talheres em ação. Salvatore, Showtrick, Marla, Joey e outros dirigentes da USCU estavam exultantes com o sucesso do almoço, mais seguros de si do que nunca. A morte de John tinha já ficado para trás. Entre um gole e outro de uísque especial “para a diretoria”, ironizavam os poucos membros da oposição sindical ali presentes. De fato, estavam no auge da popularidade, ainda que por baixo daquela sede social corresse um rio de excremento.

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- Tem coisa aqui?, pensou Max Deutsch em casa enquanto passava e repassava a matéria escrita por Marla  Menganini sobre a venda do terreno de Alafaya no " USCU News", o jornal da União de Servidores..

Max foi ao almoço de confraternização da USCU, pegou o jornal e ficou contemplando a desenvoltura alegre dos dirigentes sindicais, enquanto mantinha um sorriso irônico no canto da boca. Guardou o jornal no bolso de trás da calça, cumprimentou um monte de amigos, fez sua refeição e foi embora cedo.

Em casa, sacou do bolso o jornal e reexaminou a matéria sobre o imóvel de Alafaya. Com os olhos postos na ilustração da escritura, de repente uma interrogação lhe veio ao pensamento. A foto da escritura era parcial, mas... Mas por que diabos a venda de um terreno situado em Alafaya, a leste de Orlando, tinha sido registrada num cartório da cidadezinha de St. Cloud, ao sul? Por que não na própria Alafaya ou mesmo em Orlando? A dúvida cresceu na cabeça de Max e ele passou a desconfiar daquela transação. Resolveu tirar a limpo sua dúvida e iria nos próximos dias ao cartório de St. Cloud para averiguar, se possível pegar uma cópia da escritura inteira. Não fazia então ideia da quantidade de coisas esquisitas que iria desvelar.