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quarta-feira, 30 de abril de 2014

Revista Placar e a naturalização do feminicídio no Brasil

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Placar deste mês trouxe na capa o goleiro Bruno, acusado e condenado pela morte de Eliza Samudio. O curioso é a edição estar defendendo o jogador, com cara de vítima, a manchete diz “Me deixem jogar”. A principal matéria da revista conta o cotidiano de Bruno na prisão onde ele afirma que não tem privilégios por ser jogador.

Por Mariana Serafini, no Portal Vermelho

A matéria causou revolta na internet e rapidamente grupos de ativistas feministas se mobilizaram. Uma “sugestão de capa” foi criada por Cynthia Beltrão e Rosiane Pacheco onde o destaque é para Eliza Samúdio, e a suposta manchete diz “Eu queria ter visto meu filho crescer”. O protesto criativo repercutiu positivamente nas redes sociais. 

Para Elza Campos, coordenadora nacional da União Brasileira de Mulheres (UBM), o que a revista Placar fez, ao trazer o goleiro Bruno na capa como uma vítima, foi legitimar a violência contra a mulher. Segundo ela, isso não causa necessariamente espanto porque é uma atitude repercutida diariamente pela grande imprensa, que constantemente inverte os valores ao vitimizar o criminoso e culpabilizar a vítima. 

A capa da Placar causa constrangimento às vítimas, principalmente constrangimento moral. Isso é reflexo de uma sociedade com pensamento patriarcal dominante onde as mulheres são culpabilizadas pela violência sofrida”, afirma Elza. 

Elza alerta para o público ao qual a revista é destinada. “A Placar tem um papel importante junto aos homens que leem a revista. O que ela fez foi reforçar a violência simbólica”. 

Para Elza, a emancipação, o empoderamento, e a libertação humana da mulher estão diretamente ligados ao debate em torno da democratização da mídia: “como trabalhamos estas questões se a mídia tem o poder de repassar o que ela quer e não necessariamente o que diz respeito à vida de milhares de mulheres trabalhadoras?”, questiona. 

Ela classifica como grave a imprensa naturalizar o feminicídio da forma como a revista Placar fez ao mostrar o goleiro Bruno na capa. A violência contra a mulher é uma questão latente e que, apesar das mobilizações de entidades e do próprio governo federal em defesa das mulheres, parece só aumentar. Entre 1980 e 2010, mais de 92 mil mulheres foram assassinadas. Destas, 43,7 mil na última década. Em dez anos, a violência contra a mulher praticamente dobrou; em 2010, uma mulher era vítima de homicídio a cada 1 hora e 57 minutos, enquanto em 2001 a média era de 2 horas e 15 minutos. 

O blog Blogueiras Feministas também publicou um artigo em repúdio à revista. “A capa da Placar com Bruno faz parte da normalidade de um país no qual quase metade dos homicídios de mulheres são cometidos por pessoas próximas, geralmente marido, namorado, amigo, filho, pai. A outra metade das mortes não é suficientemente estudada, como se a violência contra o gênero feminino fosse mais grave somente quando recebe o carimbo da ‘violência doméstica’”, diz a nota.


Relembre o caso
Em 2010 o goleiro Bruno Fernandes, ex-jogador do Flamengo, foi condenado há 22 anos de prisão, acusado como responsável pela morte de Eliza Samudio, a modelo de 25 anos com quem teve um filho em um relacionamento extraconjugal. Desde então ele cumpre a pena na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, Minas Gerais. 

Segundo a polícia, o crime foi cometido porque Bruno não queria reconhecer a paternidade da criança. Ele foi julgado junto com quatro cúmplices que foram condenados a 15 anos de reclusão, cada um.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Depois daquele fim de greve do HC...

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Quantos se lembram de que, na greve dos 100 dias de 2007, a paralisação no HC já havia sido condenada pela Justiça?  Em 2007, a greve começara em 28 de maio e, logo na primeira quinzena de junho, o MPF já ordenava a volta ao trabalho, sob pena de multa pesada diretamente cobrada do Sinditest.  Por volta de 21-22/06 daquele ano, os grevistas do HC voltaram ao trabalho, protestando muito.

Mas a greve precisava continuar. O Comando Local de Greve debateu muito o que fazer e tomou algumas iniciativas.  Uma delas, a aludida pela matéria acima da Gazeta do Povo, rendeu uma foto grande, de centro de capa, na edição de 26/junho/07 do jornal, aumentando a visibilidade da paralisação perante o povo de Curitiba e do estado [foto abaixo; clique para ampliar].

Ocupação do CCE no Centro Politécnico na Greve de 2007
Na foto: Márcia Messias, Aguinaldo Cruz, José Belotto, Luciano Andrade, 
Gessimiel "Paraná", Guaracira Flores, Ivandenir Pereira e Dodô.

Na saída da assembleia matinal de hoje (29) no RU, um servidor do HC que integrou a greve e o CLG em 2007, lembrou-me daquela judicialização e do que se fez em seguida para manter o pique do movimento, que, afinal, obteve um bom Acordo de Greve em fins de agosto.  E recomendou à lamuriosa direção atual do Sinditest uma conhecida frase da Bíblia (Atos dos Apóstolos 3), dita pelo apóstolo Pedro ao semiparalítico: "Levanta-te e anda!".

Sem HC, assembleia de greve no RU busca manter motivação

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Mover, via Sinditest, ação judicial contra a UFPR pela contratação emergencial de terceirizados para atuarem nos dois RUs reabertos foi um dos encaminhamentos aprovados na assembleia da manhã de hoje (29), que reuniu cerca de 150 pessoas no RU Central.  

O 2o. vice-presidente do Sinditest, Márcio Palmares, em sua avaliação do atual momento de greve, carente de quaisquer notícias novas quanto a negociações com o MPOG, esforçou-se para minimizar a derrota representada pelo fim da greve no HC situando-a num plano mais geral de uma guerra que, segundo ele, só começou em 2011.  Comentou Palmares que, numa guerra, tem-se naturalmente vitórias e derrotas, sendo a suspensão da greve hospitalar uma defecção relevante na luta, mas ao lado das vitórias de se ter arrancado ao CoUn da UFPR uma moção de apoio à greve e de o movimento da FASUBRA já ter completado 41 dias.

Uma ação coordenada da "direita da UFPR", que na visão de Palmares inclui também o chamado "C7" (grupo integrado por centros acadêmicos das Engenharias), estaria por trás de toda a investida realizada para acabar com a greve no HC usando o Ministério Público Federal.

O também diretor José Carlos Assis comentou que os trabalhadores da Funpar estavam revoltados na assembleia deles realizada também esta manhã no HC, pelo fato de a Reitoria ainda não ter enviado contraproposta patronal àquela feita pela Comissão sindical do Acordo Coletivo de Trabalho.  Paira sobre as cabeças de quase mil funparianos a ameaça da demissão geral ordenada pela justiça.  Há um indicativo de greve do pessoal da FUNPAR para 14 de maio.

O assessor jurídico do sindicato, Avanilson Araújo, ainda acredita que haja alguma chance de sucesso do recurso impetrado pelo Sinditest junto ao TRF de Porto Alegre, porque há muitos erros processuais na decisão tomada pela Justiça Federal intimando o fim da greve do HC.  Um deles, o fato de que o juiz local que tomou a decisão não pode determinar penalização de grevistas com corte de ponto e sindicâncias se a greve, sendo nacional (da FASUBRA), não foi decretada ilegal, e esta é condição sine qua non para propor sanções.  Embora deva manter a esperança na vitória do recurso, que permitiria retomada da greve no HC, o advogado também recomendou não alimentar excessivas ilusões no Poder Judiciário.


Entre os encaminhamentos aprovados na assembleia estão:

- Mover, via Sinditest, ação judicial contra a UFPR por contratar, sem respeitar a lei de greve, terceirizados (nutricionistas) para atuarem nos dois RUs reabertos (Botânico e Agrárias) e também na Assessoria de Comunicação Social (dois jornalistas);

- Exigir que o site da UFPR divulgue a Moção de Apoio à Greve da FASUBRA aprovada no CoUn na semana passada;

- Levar à próxima sessão do CoUn o questionamento do porquê da reabertura dos RUs supracitados, uma vez que o próprio CoUn aprovou moção de apoio à greve;

- Moção de Apoio da Greve do Sinditest à greve dos professores e trabalhadores da rede estadual de educação, comandada pela APP-Sindicato;

- Usar recursos do fundo local de greve para repor os salários cortados dos grevistas, caso ocorra esse corte e destinar recursos desse mesmo fundo para auxiliar na reposição de salários cortados de servidores de outras IFES em greve;

- Organizar a caravana a Brasília, cujos ônibus devem sair entre 6 e 7 horas da manhã de 5 de maio. 

Globo desaba fantasticamente

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13% num ano. 30% em dez anos … Melhor subir a escadaria da Penha !

Por Paulo Henrique Amorim, no site Conversa Afiada

Saiu no “Outro Canal”, da Folha SP (outra que desaba…), de Keila Jimenez:

“Globo perde público rápido e se aproxima da Record”

Só a Copa pode salvar a Globo, que perde audiência “vertiginosamente”, diz a Keila!

(Aqui pra nós, amigo navegante, se o destino dos filhos do Roberto Marinho – eles não têm nome próprio – está nas mãos do Galvão, melhor subir a escadaria da Penha… E isso tudo sem mostrar o DARF).

(Clique aqui para ler “o PT deve uma Ley de Medios ao Brasil”.)

A Globo deve encerrar abril com média diária de 13 pontos.

Contra 13,6 de março.

A diferença entre ela e a Record nunca foi tão pequena.

A Record tem 6,6 e o SBT, 5,5.

“A líder não consegue estancar a fuga de Globope anual, perdendo cerca de 13% de audiência nos últimos doze meses”

13% em doze meses.


Não fosse uma empresa para-estatal, que vive de BV, já tinha caído todo mundo: dos filhos do Roberto Marinho ao Gilberto Freire com “ï”.

A última do “i” foi o desastre retumbante do “relançamento” do Fantástico:

“Mudança na forma não melhora o Fantástico – recauchutado, o programa marcou 17,7 pontos de audiência, abaixo da média alcançada este ano”, diz Mauricio Stycer, na “Crítica – Televisão”, da mesma Folha.

Será que o Globope resolveu “acertar a margem de erro”, logo agora que o instituto alemão de pesquisa está para chegar ?

Qualquer dia desses um dos filhos do Roberto Marinho – eles não têm nome próprio – vai culpar o Globope…

domingo, 27 de abril de 2014

Finda a greve no HC, como fica o pique do movimento?

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De maneira assemelhada ao ocorrido na greve da UFPR de 2007, novamente o poder judiciário foi acionado (pelo MPF) para forçar o Sinditest a encerrar a paralisação no Hospital de Clínicas da UFPR. Além disso, em audiência no dia anterior, a Reitoria da UFPR havia pedido para ser excluída do polo passivo da ação (condição de ré), deixando o sindicato sozinho com o rojão. Assembleia extraordinária realizada na manhã de sexta-feira (25), no HC, aprovou a volta ao trabalho no mesmo dia.  O não-acatamento da decisão judicial poderia implicar na cobrança de multa pesada sobre o sindicato: 10 mil reais por trabalhador que continuasse em greve, podendo atingir mais de 1 milhão.

A pergunta óbvia do momento é: "e agora, José?"  Como fica a greve no restante de bases sindicais representadas no Sinditest depois da perda de uma fatia importante do movimento?  Ainda há tentativas de assessores jurídicos do sindicato com seus recursos junto ao TRF, mas é remota a chance de obter sucesso.  Para complicar mais o quadro, além da multa, a Justiça Federal quer que haja desconto de dias parados dos grevistas do HC e instauração de sindicâncias individualizadas sobre cada um deles.

O baque é sério.  Em 2007, o Comando Local de Greve na gestão Belotto queimou as pestanas para achar meios de manter o pique e a visibilidade do movimento local, enquanto se aguardava o fecho das negociações em Brasília, na época mais promissoras do que hoje.  Mas aquela greve se manteve e ainda conseguiu realizar algumsa ações.  E obteve vitórias salariais no Acordo Final de Greve.

Uma pequena chama de esperança ainda se mantém acesa em torno de possíveis consequencias da caravana a Brasília, programada para 6 e 7 de maio.  Talvez esse movimento de pressão diretamente na capital federal surta algum efeito, talvez não, posto que o governo tem sido diariamente pressionado pela grande mídia de direita (do Brasil e do estrangeiro até) para controlar mais duramente a inflação e cortar a "gastança social", e nesta "gastança" se inclui a folha de pagamento dos servidores.

As próximas assembleias e outras atividades delinearão mais claramente se a greve se mantém, apesar do baque do HC, ou se declinará paulatinamente. Mas o cenário é predominantemente desfavorável, este ano, ao alcance de alguma negociação efetiva.

O cerco

Um comentário:
Replicados com disciplinado zelo pela emissão conservadora, disparos regulares da mídia internacional defendem a rendição inapelável do Brasil aos ditames da restauração neoliberal.  O tom é de ‘basta!’. ‘Intervencionismo, ineficiência e corrupção’ formam o tripé de um mantra repetido à exaustão pelo dispositivo midiático para qualquer tema ou circunstância.

Por Saul Leblon, no site Carta Maior

Explica-se: a dissidência brasileira na crise afrontou com sucesso o sopro de morte da austeridade optando por políticas contracílicas baseadas em crédito estatal, investimentos públicos (PAC 2), fomento à habitação, valorização do poder de compra do salário mínimo e geração de empregos.

O saldo gerou uma inércia de demanda e geração de empregos que resiste até hoje como uma gigantesca costela de pirarucu entalada na garganta dos mercados.  Se isso funciona, como é que fica a restauração neoliberal aqui e na América Latina?

É preciso desqualificar um passado que pode ser usado para credenciar novas heterodoxias no futuro e, sobretudo, nas urnas.

Chegou a hora de colocar as cordas, os pescoços e as agendas nos devidos lugares, diz o jogral que nunca desafina.

Ponto número um: o Brasil é um grandioso caso de desastre intervencionista.

Ou não é isso o que reafirma o caso da refinaria de Pasadena, agora brindado com a obsequiosa decisão da juíza Rosa Weber de criação de um palanque nacional para a mídia e seus candidatos execrarem a Petrobras em plena campanha sucessória?

Ponto número dois: o país deve aceitar os termos da rendição incondicional que a emissão conservadora local e forânea advoga diuturnamente.

A saber: fim da intervenção estatal na agenda do desenvolvimento; choque de juros ‘para trazer a inflação à meta’ - conduzido por um BC ‘independente’ (das urnas); esvaziamento do BNDES, privatização do pré-sal (tese que ganha agora uma corneta de difusão eleitoral, graças à CPI); cambio livre, arrocho na ‘gastança social’ etc.

O tom imperativo da ofensiva estrangeira remete ao jornalismo da ‘guerra fria’ contra governos não alinhados, nos anos 50/60.

Três exemplos dos últimos quinze dias:

Financial Times: Nova matriz econômica do Brasil ouve anúncio de morte (07/04/2014).

The Economist: Trabalhador do Brasil é gloriosamente improdutivo (17/04/2014).

New York Times: Brasil grandioso se desfaz (21/04/2014).

O denominador comum é a incompatibilidade entre ‘dirigismo’ estatal e ‘gastança fiscal’(assim, vinculados, como xipófagos), e redução do juro para a retomada do investimento.

Como na ‘guerra fria’, o silogismo é ilustrado não raro com exemplos grotescos.  Filas no recente Festival de Música Lollapalooza, em São Paulo, abrem a ‘reportagem’ da Economist, por exemplo, para ilustrar a evidência da improdutividade do trabalhador brasileiro.


quarta-feira, 23 de abril de 2014

Greve do HC sob ameaça da justiça mostra resistência dos trabalhadores

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Na manhã de hoje (22), depois da assembleia geral, os trabalhadores em greve foram até o gabinete do reitor para saber sua posição acerca da determinação judicial de que ele mande encerrar a greve do HC, promova o corte de ponto e sindicâncias individualizadas sobre os grevistas.  O reitor, visivelmente contrariado por ter de ir ao encontro dos grevistas, respondeu que iria cumprir o mandado da Justiça.

Por problemas técnicos não conseguimos inserir aqui no Blog o vídeo dessa conversa, mas ele pode ser visto no link abaixo:


terça-feira, 22 de abril de 2014

Preparar a caravana da greve a Brasíia

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Independente dos objetivos de certas correntes do movimento dos técnicos que podem almejar mais o ataque político-eleitoral ao governo Dilma, a greve atual deve apostar na construção da caravana para Brasília, para pressionar diretamente as autoridades do governo federal.

No recente encontro entre lideranças do movimento de entidades sindicais federais, incluindo a FASUBRA em greve, o representante do MPOG deixou uma porta aberta ao diálogo para possível negociação salarial, que deve ser aproveitada. A caravana pressionará nesse sentido.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Xadrez do conservadorismo no Brasil

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A direita não quer nenhuma mudança, nenhum avanço, de preferência o retrocesso aos tempos de FHC.  A ultraesquerda só quer o avanço ideal total e imediato, ou nada, ou que fique como está.  Na prática atuam pela conservação do status quo.

domingo, 20 de abril de 2014

A piada imortal

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Já descobrimos o Brasil e não todo o Brasil. Ainda há muito Brasil para descobrir.  Não há de ser num relance, num vago e distraído olhar, que vamos sentir todo o Brasil.  Este país é uma descoberta contínua e deslumbrante.

Por Nelson Rodrigues, no Jornal dos Sports, em 27/05/1962

Amigos, eu ando falando muito do Brasil.  E muita gente já rosna, com tédio e irritação: - “Você está descobrindo o Brasil?”  É exato.  Estou sim, estou descobrindo o Brasil.  Eis que, de repente, cada um de nós, cada um dos setenta milhões de brasileiros passa a ser um Pedro Álvares Cabral.

Já descobrimos o Brasil e não todo o Brasil.  Ainda há muito Brasil para descobrir.  Não há de ser num relance, num vago e distraído olhar, que vamos sentir todo o Brasil.  Este país é uma descoberta contínua e deslumbrante.  E justiça se faça ao escrete: - é ele que está promovendo, quem está anunciando o Brasil.

A princípio, o sujeito pode pensar que o escrete revelou o Brasil para o mundo.  Isso também.  Todavia, o mais importante e o mais patético é a descoberta do Brasil para os próprios brasileiros.  Pergunto: - o que sabemos nós do Brasil?  Pouco ou, mesmo, nada.  A partir de 58, o Brasil começou a aparecer aos nossos olhos.  

Digo mais: - foi o escrete que ensinou o brasileiro a conhecer-se a si mesmo.  Tínhamos uma informação falsa a nosso respeito.  Sempre me lembro de um amigo meu que era um bem, um símbolo nacional.  Exuberante como um italiano de Hollywood, um italiano de anedota, o sujeito tinha o gosto do berro e do gesto largo.  Se via um vago conhecido, ele abria os braços até o teto e se arremessava com a efusão de um amigo de infância.  Tipo gozadíssimo.  E o Fulano costumava dizer, aos uivos: - “Eu sou um quadrúpede!” E para evitar dúvidas, ampliava: - “Eu sou um quadrúpede de 28 patas!”

Esta autocrítica jocunda e feroz era o que todos nós fazíamos.  O sujeito, aqui, não acreditava nem nos outros nem em si mesmo.  E aquele que se nega está, ao mesmo tempo, negando a própria terra.  Quando dissemos: - “Eu sou uma besta!” – estamos vendo bestas por toda parte.  Não havia nenhum ufanismo no Brasil.  Em absoluto.  Como o meu amigo citado, cada um de nós era um Narciso às avessas, que cuspisse na própria imagem.

Em 58, o escrete ainda embarcou desconfiado.  Mas já uma dúvida instalava-se em nosso espírito.  O sujeito já não sabia se era ou não uma besta chapada ou, na melhor das hipóteses, uma semibesta.  A campanha de 58 viria clarificar o problema.  Chegamos na Suécia ainda perplexos.  Vencemos a Áustria e empatamos com a Inglaterra.  Vem, finalmente, o jogo com a Rússia.

Eu vou dizer o momento exato em que se inaugurou o verdadeiro Brasil.  Foi após o hino nacional brasileiro.  Os jogadores ainda estavam perfilados e trêmulos.  A Rússia seria uma prova crucial.  Mais do que nunca dava em cada jogador o dilema: - “Ser uma besta ou não ser uma besta?” E então soou, naquele escrete contraído, a voz de Garrincha.  Com a sua candura triunfal, dizia o Mané para o Nilton Santos: - “Aquele bandeirinha tem a cara do ‘seu’ Carlito!”  Houve então o riso incoercível, total.  Foi o bastante. O escrete tomou-se de uma nova e feroz potencialidade.  E da piada de Garrincha partiu para a vitória.

Ali, começava o verdadeiro Brasil.  Ninguém sabe, mas foi uma piada que derrotou a grande, a colossal, a imbatível Rússia.  A mesma piada deu ao brasileiro a sensação da própria grandeza.  Com um quase pânico, o homem do Brasil percebeu que era genial.     
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Fonte: RODRIGUES, N.  A pátria de chuteiras. RJ: Nova Fronteira, 2013.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Greve do HC considerada ilegal pela Justiça, a pedido do MPF

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Ontem à tarde (17), a Reitoria da UFPR recebeu notificação da Justiça Federal, informando sobre a decretação de ilegalidade da greve dos servidores do HC e ordenando que a UFPR, através do responsável (reitor) faça cumprir o seguinte dentro de 48 horas (até a tarde de sábado, dia 19):

1]Desconto em folha dos dias parados dos servidores que fizeram greve;

2]Informação dos dias parados, setor onde ocorreram ou ainda ocorrerem paralisações, responsáveis por tais setores e nomes das pessoas que tiverem atendimento de saúde negado por causa da greve;

3]Instauração de sindicância administrativo-disciplinar individualizada (sobre cada servudor grevista) com base no Estatuto do Servidor Federal.

O não-cumprimento injustificado dos itens acima pode implicar multa diária de dez mil reais para a UFPR, e ainda possível responsabilização cível e criminal.

Uma audiência de conciliação entre as partes - Ministério Público Federal (polo ativo acusador), de um lado e, do outro, Sinditest e UFPR (polo passivo, réus) - foi convocada para a próxima quinta-feira, dia 24.

A íntegra da decisão do juiz federal Eduardo Appio pode ser lida aqui.  Como de hábito, ela baseia-se na importância crucial do Hospital de Clínicas no esquema do SUS do estado do Paraná e no cotejo entre os direitos constitucionais à greve e à saúde, com priorização deste último sobre o primeiro, arguindo o risco de lesão grave a vidas humanas ou mesmo morte(s), em função da vigência da greve.

Note-se, entretanto, que a Ordem judicial é endereçada ao reitor Zaki Akel e não diretamente ao Sinditest.  É a UFPR/Reitoria quem poderá arcar com multa diária e responsabilizações se não cumprir os itens estabelecidos pela determinação da Justiça descritos acima.  A greve dos servidores estatutários do HC faz parte de um movimento nacional da FASUBRA e sua instância local máxima de deliberação é a assembleia extraordinária geral de greve que só vai ocorrer na manhã do dia 22/04, 3a. feira.  A menos que diretores do Sinditest tomem antes a iniciativa de desmobilizarem por conta própria a greve dentro do HC, sem esperar a decisão da assembleia do dia 22.

Trecho da decisão judicial sobre a greve do HC

A situação crítica de judicialização da greve focada na paralisação do HC repete quadro similar ao da greve de 2007, quando a Diretoria do Sinditest, então presidida por José Carlos Belotto, foi também pressionada pela decretação de ilegalidade e risco de multas pesadas.  Só que, naquela ocasião, se soube de que certas lideranças do HC estavam ativamente instigando servidores do HC que não podiam fazer greve a entrar nela, com isso dando pretexto ao MP para atacar a paralisação. Bom lembrar daquela sacanagem feita contra a greve de 2007, movida por odiosos fins eleitoreiros de gente inescrupulosa, mas que não impediram que aquele movimento obtivesse os melhores resultados em acordo de greve dos últimos dez anos. 

Mais uma tentativa de assassinato de reputação

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Manchete insidiosa de "O Globo" na matéria contra Blogueiros

Os blogueiros sujos resistiram firmemente a mais uma tentativa de assassinato de reputação. Esta, aparentemente coordenada internamente nas Organizações Globo.

Por Luiz Carlos Azenha, no site Viomundo

Quem é leitor diário da blogosfera pode abandonar a leitura aqui, já que este artigo é para os milhares de novos leitores que nos procuram, segundos estatísticas de nossa audiência, em função de recentes — e falsas — acusações, que envolvem também o nome do Viomundo.

Os que acompanham mais de perto a disputa judicial entre o bravo blogueiro Luís Nassif e a revista Veja, da Editora Abril, da família Civita, sabem exatamente do que estou falando. Nassif teve a coragem de denunciar as falcatruas da revista em sua série sobre os métodos da publicação. O trabalho de Nassif foi confirmado mais tarde, quando a Polícia Federal desmontou a associação entre o bicheiro Carlinhos Cachoeira, o senador Demóstenes Torres e aliados. Eles entregavam suas “produções” jornalísticas de bastidores, contra adversários, para a publicação da Abril.

As armações tinham o objetivo clássico da mídia empresarial brasileira: o “assassinato de reputação” com objetivos políticos, ideológicos ou comerciais. Tirar vantagem enfraquecendo os outros com denúncias falsas ou artificialmente turbinadas.

Ao deixar a TV Globo, mais tarde, em 2006, o hoje blogueiro Rodrigo Vianna, do Escrevinhador, teve a coragem de fazer o mesmo: denunciar publicamente a emissora. Foi dado por alguns como doido. Porém, abriu os olhos de uma pequena parcela da opinião pública e hoje há, sem medo de errar, dezenas de milhares de brasileiros capazes de identificar com clareza os métodos da cobertura política global, que foram modulados para evitar os casos de manipulação mais evidente — hoje rapidamente denunciáveis — e trabalhar a pauta do que é ou, principalmente, não é oferecido aos leitores, ouvintes e telespectadores das Organizações Globo, dando ênfase às notícias que interessam e escondendo as que não interessam.

Este é hoje o principal motivo de os blogueiros terem se tornado, eles próprios, alvos de contínuas tentativas de “assassinato de reputação” ou “destruição de caráter”.

Eles rompem o tabu dos assuntos proibidos, muitos dos quais envolvem as próprias empresas de mídia, o que ficou bem nítido no recente aniversário de 50 anos do golpe de 1964, por exemplo, aqui e aqui.

Se você é um jovem leitor ou chegou recentemente a este espaço, calma! Sabemos que há muitas novidades para você no que escrevo. Despreocupe-se. Vá seguindo os links e acumulando informação. Eventualmente, você vai se dar conta do que lerá, verá e ouvirá repetidamente na blogosfera: a grande mídia tem lado, apesar de se dizer “neutra”, “isenta” e “imparcial”.

O lado dela ficou claro no golpe que instalou a ditadura militar em 1964. Com raríssimas exceções, que pagaram caro por isso, a mídia apoiou os golpistas que agiram com ajuda material dos Estados Unidos e censuraram, torturaram, mataram e sumiram com os corpos de adversários. Alguns dos donos da mídia se envolveram diretamente na articulação golpista; outros deram publicidade ou apoio material a ações específicas da ditadura; muitos lucraram enormemente durante o período.

São, grosseiramente, os mesmos que sempre se opuseram a governos de caráter trabalhista ou popular, que chamam de “populistas”. Os mesmos que apoiam, sempre, governos elitistas voltados acima de tudo para o lucro das elites, sem que uma migalha sequer seja concedida aos de baixo, aos mais pobres, aos assalariados.

Entendeu agora o motivo de nos detonarem?

A ocasião mais recente foi a entrevista do ex-presidente Lula a blogueiros de esquerda, ou “progressistas”, por apoiarem uma série de medidas políticas e econômicas que representariam progresso social e material para os trabalhadores, os assalariados, os mais pobres — como o Bolsa Família, as cotas para negros e sociais nas universidades, o Sistema Único de Saúde.

Como jornalista com mais de 40 anos de experiência, sendo pelo menos 30 em emissoras de televisão, sustento que uma entrevista vale pelas notícias que produz. No caso de que tratamos aqui, a entrevista de Lula produziu numerosas manchetes, inclusive em toda a chamada mídia corporativa, ou seja, ligada ou defensora dos interesses das corporações que a patrocinam.

Lula falou de todos os assuntos relevantes daquele momento: as denúncias contra o deputado André Vargas, contra a Petrobras, a campanha para que ele seja candidato a presidente em 2014, os rumos da economia no governo Dilma, a Copa do Mundo, os protestos na rua do Brasil, a lei antiterrorismo, o financiamento da saúde pública, etc.

Ou seja, os entrevistadores atingiram seu objetivo sem usar grosserias, sem ofensas e sem embarcar no que chamamos de “antipetismo” movido pelo ódio. É um sentimento promovido por adversários políticos do PT, que querem negar direito de existência ao partido de Lula da mesma forma que os golpistas de 1964 negavam existência política a seus adversários. Depois do golpe, mesmo políticos que apoiaram a derrubada de João Goulart foram “extirpados” pelo militares, como o direitista Carlos Lacerda, que perdeu o direito de se candidatar.

Entenderam o paralelo entre os ditadores do passado e os “ditadores” de hoje? De formas distintas, tentam atingir os mesmos objetivos: negar o direito de expressão e organização àqueles dos quais discordam.

É nessa categoria que, em 2014, se encaixam os blogueiros, nove dos quais participaram da entrevista com o ex-presidente Lula. Para a mídia corporativa, são não-pessoas. A eles são negadas a individualidade, as características pessoais, os saberes específicos.

Você já andou por aí na blogosfera? Viu como concordamos em algumas coisas e discordamos em muitas? O Viomundo, por exemplo, apoia todas as manifestações de rua, inclusive as que estão sendo organizadas para o período da Copa do Mundo. O Eduardo Guimarães, do blog da Cidadania – para dar apenas um exemplo, discorda. Isso não nos impede de conviver democraticamente, ainda que expressando posições claramente distintas.

Não concordo com a postura do Eduardo em muitos outros pontos, porém defendo que ele participe, sim, de entrevistas com autoridades e políticos. Desde quando se convenciou que estas atividades devem ser exclusivas de jornalistas? Como representante comercial, exportador de autopeças e fã do Lula, o blogueiro não deixa de expressar o que pensa parte da opinião pública brasileira em relação ao ex-presidente.

Por outro lado, estavam presentes na mesma entrevista jornalistas com grande experiência, como a Conceição Lemes, deste site, com 33 anos de carreira. O que houve de errado com a pergunta que ela fez ao Lula sobre o financiamento da saúde pública? Lula culpou a extinção do imposto de cheque, promovida pelos adversários dele, pela falta de dinheiro para financiar o SUS. Acho que foi uma boa pergunta e que cabe ao leitor/ouvinte/telespectador decidir se concorda ou não com o ex-presidente.

Porém, os que negam direito de existência aos blogueiros no mundo da informação apagam a individualidade de cada um e o pluralismo da blogosfera, apelando para rótulos e acusações infundadas: seriam todos financiados pelo governo, hipnotizados por Lula ou defensores pagos do PT. Em uma palavra, “vendidos”.

Enfatizo: condenar “antipetismo” irracional não é o mesmo que ser petista. Não somos. Quer ler críticas ao PT/governos Lula e Dilma neste site? Comece por aqui, aqui, aqui, aqui ou aqui.

Minha sugestão? Frequente os blogs abaixo citados. Com o tempo, baseando-se na sua leitura e não no que dizem para você, estou certo de que você perceberá as nuances, as diferenças que existem entre todos eles, indistintamente: Blog do Miro, Cafezinho, Sul 21, Carta Maior, Escrevinhador, Tijolaço, Blog da Cidadania, Diário do Centro do Mundo (há muitos outros, mas estes estavam representados na entrevista).

Estou certo de que, ao fazer isso, você vai encontrar uma pluralidade de opiniões que não vê na chamada mídia corporativa!

Quando no título deste texto, falei em “assassinato de reputação”, é por acreditar que as críticas feitas aos blogueiros nas Organizações Globo tinham este objetivo.

Primeiro, na rádio CBN, que pertence às Organizações Globo, em rede nacional, o âncora Carlos Alberto Sardenberg (o mesmo do Jornal da Globo, na TV) e o comentarista Merval Pereira (o mesmo do jornal O Globo, do Rio) sugeriram que os blogueiros que participaram da entrevista com Lula eram “vendidos”.

Depois, o jornal O Globo, do mesmo grupo, onde escreve Merval, pretendeu fazer uma “investigação” sobre quem eram os entrevistadores. Coincidência, não?

O método foi o mesmo utilizado na primeira entrevista de Lula a blogueiros, quando ainda estava na presidência da República, em 2009. Naquela ocasião, o jornal O Globo estampou, junto com uma foto de Lula com os entrevistadores, o título “Lula recebe Cloaca e outros amigos no Planalto”. Cloaca é um blogueiro do Rio Grande do Sul, que não participou da entrevista de 2014 e a cloaca a que ele se refere ao nomear seu blog é a mídia representada pelos grupos Folha-Abril-Globo-Estadão, ou seja, a mídia conservadora, de direita, que faz propaganda dos interesses da elite brasileira.

O Globo negou, então, credibilidade à entrevista. Agora, faz o mesmo usando métodos parecidos. Também usou uma foto dos blogueiros ao lado de Lula. E tascou, baseado em uma única declaração (a que aparece entre aspas), de um dos nove presentes: Café e bolotas de queijo, Conversa de Amigo; ‘Ninguém teve a intenção de ser isento’, Conversa de Camaradas.

É algo comum no jornalismo acusatório: tomar a parte pelo todo. Pega a opinião de um, destaca e com isso tenta desqualificar o todo.

Porém, onde foram publicadas as críticas específicas de O Globo às perguntas feitas pelos blogueiros? Quais as impropriedades jornalísticas cometidas durante a entrevista? Faltou notícia na entrevista de Lula?

A resposta, como as manchetes dos dias subsequentes na mídia corporativa deixaram claro: Não!

O que Lula antecipou aos blogueiros, inclusive, começou a acontecer: Dilma assumiu a defesa da Petrobras e anunciou ajustes futuros na economia brasileira. Tudo isso apenas confirma a relevância da entrevista em si.

Como jornalista com ampla experiência, percebi que O Globo montava uma armadilha para os blogueiros ao ler as perguntas endereçadas à Conceição Lemes. Se a entrevistadora do Viomundo não tivesse formação de jornalista ou não tivesse currículo, a inexperiência para enfrentar uma raposa politica como Lula seria destacada. Se tivesse tido qualquer despesa paga pelo Instituto Lula para ir até a entrevista, seria mencionada por isso. Seriam formas de desqualificar o trabalho de Conceição, já que o Viomundo não recebe propaganda oficial, seja de governos federal, estaduais ou municipais, seja de empresas públicas/estatatais — incluindo aí o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.

Fazemos isso porque batalhamos pela extinção de tais gastos públicos, a não ser em casos de estrita necessidade, como campanhas de vacinação, para que o dinheiro seja aplicado em creches, hospitais e salários de funcionários públicos, não necessariamente nesta ordem. Quando governador do Paraná, o hoje senador Roberto Requião, do PMDB, fez isso e deu muito certo.

Finalmente, acrescento minha própria experiência como vítima de tentativa de assassinato de reputação, obviamente mal sucedida, caso contrário você não teria vindo ler o Viomundo.

Foi na campanha eleitoral de 2010, quando eu já havia pedido a extinção antecipada de meu contrato com a TV Globo.

Na ocasião, o jornal O Globo envolveu meu nome de forma infundada numa falsa denúncia contra a TV Brasil, que havia prorrogado — dentro de todas as normas legais — um contrato com a produtora Baboon, de São Paulo, que produzia o programa Nova África depois de ter ganho uma concorrência pública. Que eu saiba, foi o primeiro e único programa de TV no Brasil que foi resultado de uma concorrência pública!

Eu era empregado da Baboon, assalariado, para cumprir função em minha área de especialidade! No entanto, O Globo juntou meu nome com a cifra milionária de um contrato do qual eu não era parte e não tinha assinado — não sendo dono, nem sócio, nem gerente da Baboon, que pertence aos empresários Henry Ajl e Markus Bruno.

Viu como funciona? O Globo juntou meu nome com um valor milionário que nunca recebi e conseguiu produzir uma falsa denúncia contra um jornalista assalariado de uma produtora que havia ganho uma concorrência pública! No entanto, foi tudo tão transparente que, subsequentemente, a Baboon se classificou para disputar uma segunda concorrência e perdeu, ocasião em que o blogueiro Reinaldo Azevedo voltou a usar meu nome para me acusar… de perder a concorrência!

É assim que a direita age, entendeu?

Se você ficou curioso sobre o programa, clique aqui.

Portanto, expresso aqui minha solidariedade aos nove blogueiros vítimas da tentativa de assassinato de reputação movida pelas Organizações Globo por conta da mais recente entrevista do presidente Lula.

Sugiro a você, finalmente, jovem ou novo leitor do Viomundo, que dê uma olhada na tabela abaixo, publicada por Fernando Rodrigues em seu blog do UOL e na íntegra da entrevista do ex-presidente aos colegas blogueiros [clique na imagem da tabela para ampliar].

Agora nos diga: quem é mesmo que embolsa bilhões em dinheiro público?

Clique aqui para ver a íntegra da entrevista de Lula aos Blogueiros Progressistas.
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Fonte: Viomundo, site do jornalista Luiz Carlos Azenha

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Audiência Pública em Brasília abre chance de negociações na greve da FASUBRA

Um comentário:
Na tarde de terça-feira (15/04) o Comando Nacional de Greve da FASUBRA esteve presente na Audiência Pública convocada pelo Deputado Federal Assis Melo (PCdoB-RS, figura ao lado) para tratar da Campanha Salarial 2014 dos Trabalhadores do Serviço Público Federal. Essa audiência contou com a presença de outros parlamentares, do Secretário de Relações de Trabalho do Ministério do Planejamento (MPOG), Sérgio Mendonça, e de representantes de diversas entidades sindicais (CUT, CTB, CGTB, ASMPF, FENAJUFE, SINAL, NCST, UGT, FENAJUD, SINAIT, SINDIFISCO, SINDIRECEITA, SINDSEP-DF, ANFIP, CONDSEF, SINDJUS e CSP-Conlutas).

As falas dos representantes das entidades sindicais se remeteram à falta de diálogo com o governo para dar sequência às negociações salariais, de pontos da carreira e de diversos problemas que os trabalhadores públicos enfrentam.  Entre estes, a falta de regulamentação do direito de greve e de negociação coletiva no serviço público (Convenção 151), além da cobrança de outros itens como o estabelecimento da data-base em 1º de maio e a liberação de dirigentes para o exercício de mandato sindical. 

A representação da FASUBRA afirmou que o resultado da Greve de 2012 não foi fruto de uma negociação e sim de uma imposição por parte do Governo Federal.  Uma imposição que se resumiu em aceitar ou não a proposta de reajuste salarial de 15% dividido em 3 parcelas (de 2013 a 2015); argumentou a FASUBRA que, tivesse sido um processo negocial, deveria incorporar a ressalva de garantir a reposição inflacionária desse período. Ressaltou ainda que o MPOG reduz a mesa negocial apenas a salários, esquecendo que há diversos conflitos a serem também tratados.

Em sua fala, o secretário Sérgio Mendonça respondeu que durante o governo Lula houve negociações com os trabalhadores públicos federais, aumento dos gastos com folha de pagamento com melhorias e recomposição salarial. Porém, não mencionou que esses aumentos não cobriram a inflação acumulada dos últimos anos. Sérgio Mendonça afirmou, também, que a partir de 2003, a carreira dos TAEs recebeu atenção especial por parte do Governo, visto que a reestruturação dessa carreira foi lançada pelo presidente Lula no Palácio do Planalto.

Destaque-se que Sérgio Mendonça deu a entender que é plausível a realização de renegociações, desde que a inflação dos últimos 12 meses se mostre superior ao reajuste concedido de 5%, provocando perdas salariais.  Disse contudo que, na avaliação do Governo, de 2013 para cá a inflação não é superior ao reajuste salarial concedido aos trabalhadores do serviço público, não implicando assim em necessidade de renegociação dos acordos assinados em 2012.

Após a fala do representante do MPOG, os parlamentares presentes à mesa (Assis Melo e Roberto Policarpo Fagundes) criticaram a postura do governo, uma vez que a FASUBRA, que já se encontra em greve, e demais entidades sindicais, expressaram nessa audiência a necessidade de que se iniciem negociações efetivas. Os parlamentares, assumindo papel de mediação, pressionaram Sérgio Mendonça para que se abra espaço para negociações com as entidades representativas dos trabalhadores, aguardando resposta do MPOG após o feriado de páscoa.
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Fonte: texto com informações da FASUBRA, de hoje.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Avança o “aparelhamento” do Sinditest pelo PSTU

Um comentário:
“Aparelhamento” é um termo do jargão político-sindical que designa o aproveitamento indevido de bens e recursos de uma associação ou entidade por partido político que a comande, para beneficiar os interesses do partido.

No Sinditest, em particular na atual gestão dirigida por Carla Cobalchini, militante do PSTU desde 2012 (antes foi do PSOL), esse aparelhamento vai ficando mais escancarado.

Já não basta que jornal impresso e site de internet, ainda que pagos por todos os filiados, sejam veículos exclusivos do posicionamento político da diretoria, sem direito a resposta em tais órgãos, livremente usados pelos diretores do PSTU para achincalhar seus adversários na base. Outro exemplo: a FASUBRA não está filiada a nenhuma Central Sindical e debate igualmente com CUT, CTB e Conlutas (e no site da FASUBRA há links para as três); já no site do Sinditest só há link para a Conlutas, a minoritária “central” mantida à mão de ferro sob comando do PSTU.

Apenas no mês passado se soube que o antigo Escritório Jurídico do sindicato, o Trindade & Arzeno, contratado por licitação, foi mandado embora. Em seu lugar ficou o quê? Um esquema comandado pelo advogado dirigente do PSTU-Paraná, o Avanilson. Ao se entrar na página do Jurídico do site do Sinditest não se obtem maiores esclarecimentos de quem compõe esse “esquema” além de Avanilson. A dita lisura com o uso do processo licitatório para contratar escritório jurídico parece ter ido pro espaço.


E agora, inserido no rol de atividades da greve da UFPR, aparece uma palestra de dois ativistas dos EUA, promovida pelo PSTU-Curitiba. Como se vê no cartaz acima, atividade de um partido com o apoio do Sinditest... O sindicato apoiará atividades de outros partidos? Duvidamos! Independentemente do conteúdo progressista das falas desses visitantes norte-americanos (cujos vínculos políticos e sindicais desconhecemos), trata-se claramente de mais um caso de aparelhamento de recurso da entidade sindical para beneficiar iniciativa do partido que a domina.

Greve da FASUBRA: onde está a perspectiva?

Um comentário:
Onde está a perspectiva de abertura de negociação da greve da FASUBRA?

Quando se vai ao garimpo de informações substantivas nos IG’s (Informativos de Greve) da FASUBRA, essencialmente o que se encontra é aquele leque de ações usual de toda greve: busca de audiências em MEC e MPOG, contatos com parlamentares federais pedindo apoio, atividades tentando fazer visível a greve para a  população...  Fora isso, nenhum dado concreto que aponte algo do tipo: dentro de uma ou duas semanas poder-se-á pelo menos sentar à mesa com um ministro.  E também nenhuma avaliação política de fundo do CNG sobre as possibilidades e perspectivas (ou então várias avaliações, uma de cada corrente interna, caso não haja consenso dentro do CNG).

Já parece bem claro que uma greve geral unificada dos SPF (Servidores Públicos Federais) está fora do horizonte imediato.  Mesmo os docentes ligados à ANDES não demonstram claramente que estariam dispostos à parada.  Logo, é a FASUBRA sozinha com ela mesma, como em geral acontece.

Também não são postos esclarecimentos nos IG’s sobre o prazo expirado decorrente da legislação eleitoral (foi em 5 de abril), a partir do qual os governos (federal e estaduais) ficariam proibidos de fazer concessões com impacto financeiro imediato (ainda para 2014) ou mediato (2015).  Certas lideranças, buscando manter a esperança acesa, afirmam que ainda seria possível inserir rubrica a favor dos TAEs na Lei Orçamentária Anual (cujo prazo de fechamento pelo governo federal é agosto), e que, portanto, o prazo da Lei Eleitoral não teria importância.  De todo modo, isso não é devidamente esclarecido à base em greve, que fica, assembleia após assembleia, na espera de algo substantivo, de algo novo, mas só ouve o mesmo rame-rame.  Isso  é desalentador.

No caso da reivindicação de antecipação do aumento de 5% de 2015 para ainda este ano, o Governo Federal sente-se à vontade para recusar, escudando-se no acordo de greve de 2012, que previa os prazos exatos.  Afinal, a FASUBRA topou aquele acordo em 2012, também defendido por diretores atuais do Sinditest.  Fato é que nos manietamos a um acordo trianual de percentuais fixos em cenário de inflação pouco previsível.  Agora, durma-se com isso...

Economicamente, o Governo ainda é pressionado pela grande mídia a serviço do grande capital financeiro para cortar “gastos sociais” e com folha de pagamento (a velha luta entre Estado necessário x Estado mínimo do neoliberalismo), para que, com isso, supostamente ocorra queda da inflação, em moderada alta.  

Por fim, o governo federal sabe ser odiado por cerca de metade do movimento dos TAE (a parcela dirigida por partidos da ultraesquerda que fazem oposição sistemática a Dilma), situação que não reverteria mesmo fazendo concessões razoáveis à greve, o que deixa o governo predisposto a simplesmente “dar de ombros” para o movimento.


Uma caravana a Brasília deve ocorrer nos primeiros dias de maio, para fazer barulho em nível tal que possa fazer os ministros se mexerem em suas poltronas e talvez se disporem a  alguma negociação de fato.  Fora isso, não há nenhuma luz nesse túnel.

domingo, 13 de abril de 2014

Planos de saúde privados: lei absurda pode impedir multas

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A esperteza dos políticos da direita não tem limites para beneficiar o grande capital, mesmo à custa da saúde dos brasileiros.

A última delas foi o “contrabando” introduzido na Medida Provisória 627 pelo relator, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) [foto abaixo]. Isso no momento em que a Agência Nacional de Saúde (ANS) anuncia mais uma punição aos planos de saúde e manda suspender nada menos que 111 deles, de 47 operadoras.

O “contrabando” legislativo torna irrisórias as multas cobradas contra as operadoras, consolidando a verdadeira lei da selva que reina no setor, deixando-as de mãos livre para continuar cometendo as maiores arbitrariedades contra os consumidores - pessoas que, de partida, estão em situação fragilizada ao tentar usar os maus serviços prestados por essas empresas para cuidar de sua própria saúde! É um mercado florescente formado, hoje, por 50,27 milhões de usuários de planos de saúde. E muitas vezes não encontram atendimento apesar do alto custo que pagam pelos serviços oferecidos.

O alvo explícito da MP 627, aprovada no último dia 2 de abril pela Câmara dos Deputados, é a tributação sobre as multinacionais brasileiras no exterior, assunto completamente estranho às operadoras de planos de saúde. 

Pois foi nessa MP, cujo tema é de natureza tributária, e que foi considerada complexa pelos parlamentares por incluir mais de uma centena de artigos, que o deputado espertalhão da direita tentou esconder o benefício às operadoras de planos de saúde

São benefícios milionários, que prejudicam o tesouro nacional, os consumidores e beneficiam apenas a especulação feita por aquelas empresas e seus proprietários contra a saúde de seus clientes. 

Pela regra que está em vigor as operadoras estão sujeitas a multas que variam entre 5 mil reais e 1 milhão de reais por infração que cometerem, e o valor total é multiplicado pelo número de infrações cometidas. 

Mas essa regra comezinha pode deixar de ser aplicada quando as operadoras de planos de saúde não cumprirem os contratos e prejudicarem seus clientes. Por aquela regra escandalosa, se uma delas cometer entre 2 e 50 infrações semelhantes, pagará multas referentes a apenas duas! Se cometer mais de 1.000 infrações, pagará apenas por 20 delas! Isto significa que se uma operadora não aceitar pagar por uma cirurgia, sua multa pode ser de 80 mil reais; se fizer isso 50 vezes, teria que pagar o total de 4 milhões de reais mas, com a esperteza introduzida na MP 627, pagará somente 160 mil reais

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Brasil vacila entre o pessimismo mais obtuso e a esperança mais frenética

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A pura, a santa verdade é a seguinte: qualquer jogador brasileiro, quando se desamarra de suas desinibições e se põe em estado de graça, é algo de único em matéria de fantasia, de improvisação, de invenção. Em suma: temos dons em excesso.

Por Nelson Rodrigues, na Manchete Esportiva, em 31/05/1958

Hoje vou fazer do escrete o meu numeroso personagem da semana.  Os jogadores já partiram e o Brasil vacila entre o pessimismo mais obtuso e a esperança mais frenética.  Nas esquinas, nos botecos, por toda parte, há quem esbraveje: - "O Brasil não vai nem se classificar!"  E, aqui, eu pergunto:: - não será esta atitude negativa o disfarce de um otimismo inconfesso e envergonhado?

Eis a verdade, amigos: - desde 50 que o nosso futebol tem pudor de acreditar em si mesmo.  A derrota frente aos  uruguaios, na última batalha, ainda faz sofrer, na cara e na alma, qualquer brasileiro.  Foi uma humilhação nacional que nada, absolutamente nada, pode curar.  Dizem que tudo passa, mas eu vos  digo: - menos a dor de cotovelo que nos ficou dos 2 x 1(*). E custa crer que um escore tão pequeno possa causar uma dor tão grande. O tempo passou em vão sobre a derrota.  Dir-se-ia que foi ontem, e não há oito anos, que, aos berros, Obdulio arrancou, de nós, o título.  Eu disse arrancou como poderia dizer: - "extraiu" de nós o título, como se fosse um dente.

E, hoje, se negamos o escrete de 58, não tenhamos dúvida: - é ainda a frustração de 50 que funciona.  Gostaríamos talvez de acreditar na seleção.  Mas o que nos trava é o seguinte: - o pânico de uma nova e irremediável desilusão.  E guardamos, para nós mesmos, qualquer esperança.  Só imagino uma coisa: - se o Brasil vence na Suécia, se volta campeão do mundo! Ah, a fé que escondemos, a  fé que negamos, rebentaria todas as comportas, e sessenta milhões de brasileiros iam acabar no hospício.

Mas vejamos: - o escrete brasileiro tem, realmente, possibilidades concretas?  Eu poderia responder, simplesmente, "não".  Mas eis a verdade: - eu acredito no brasileiro, e pior do que isso: - sou de um patriotismo inatual e agressivo, digno de um granadeiro bigodudo.  Tenho visto jogadores de outros países, inclusive os ex-fabulosos húngaros,  que apanharam, aqui, do aspirante enxertado do Flamengo.  Pois bem: - não vi ninguém que se comparasse aos nossos.  Fala-se num Puskas.  Eu contra-argumento com um Ademir, um Didi, um Leônidas, um Jair, um Zizinho.

A pura, a santa verdade é a seguinte: - qualquer jogador brasileiro, quando se desamarra de suas desinibições e se põe em estado de graça, é algo de único em matéria de fantasia, de improvisação, de invenção.  Em suma: - temos dons em excesso.  E só uma coisa nos atrapalha e, por vezes, invalida as nossas qualidades.  Quero aludir ao que eu poderia chamar de "complexo de vira-latas".  Estou a imaginar o espanto do leitor: - "O que vem a ser isso?"  Eu explico.

Por  "complexo de vira-latas" entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo.  Isto em todos os setores e, sobretudo, no futebol.  Dizer que nós nos  julgamos "os maiores" é uma cínica inverdade.  Em Wembley, por que perdemos?  Porque, diante do quadro inglês, louro e sardento, a equipe brasileira ganiu de humildade.  Jamais foi tão evidente e, eu diria mesmo, espetacular o nosso vira-latismo.  Na já citada vergonha de 50, éramos superiores ao adversário.  Além disso, levávamos a vantagem do empate.  Pois bem: -  e perdemos da maneira mais abjeta.  Por um motivo muito simples: - porque Obdulio nos tratou a pontapés, como se vira-latas fossemos.

Eu vos digo: - o problema do escrete não é de futebol, nem de técnica, nem de tática.  Absolutamente. É um problema de fé em si mesmo.  O brasileiro precisa se convencer de que não é um vira-latas e que tem futebol para dar e vender lá na Suécia.  Uma vez que ele se convença  disso, ponham-no para correr em campo e ele precisará  de dez para segurar, como o chinês da anedota.  Insisto: - para o escrete, ser ou não ser vira-lata, eis a questão.
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(*)Final da Copa do Mundo de 1950 no Maracanã, em 16/07/1950, quando o Brasil perdeu o título para o Uruguai ao perder por 2 a 1.
Fonte: RODRIGUES, Nelson. A Pátria de chuteiras. Rio: Nova Fronteira, 2013.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

E a Rodoferroviária vai para a Suíça...

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A Estação Rodoferroviária clamava por uma reforma geral há mais de década.  Aí vem essa maldita Copa do Mundo no Brasil e obriga as autoridades municipais a entrarem muito rápido no Plano de obras infraestruturais do Governo Federal para reformar finalmente a Estação.  

Mas o pior não é essa reforma ter sido antecipada por causa da realização de jogos da Copa em Curitiba.  É que toda a Rodoferroviária - com os 34,5 milhões de reais de dinheiro público torrados nessa obra (figura abaixo; clique nela para ampliar) que de nada vai servir ao povão que usa ônibus – vai depois ser levada embora pela FIFA para sua sede na Suíça, gente! Não é mesmo um descalabro? 


Nossa “Rodozinha” sendo embarcada para a sede da FIFA na Suíça, pois, claro, como afirmam doutamente os patrióticos denunciadores antiCopa, nenhum legado da Copa ficará para os brasileiros, inclusive nós paranaenses! Até algumas vias de acesso à cidade que passam por obras de ampliação serão todas levadas embora pela FIFA!

Por isso, estão certos PSTU e PSol quando diziam antes “Não vai ter Copa” e, não sabemos bem por quê, agora mudaram para “Na Copa vai ter luta”, certíssimos, porque essa falta de legado da Copa (exceto uns trocados de turistas e investidores para alguns setores, coisa de uns poucos 300 bilhões de reais nos próximos 5 anos) não pode passar sem um repúdio total e veemente dos brasileiros, mesmo que eles não conheçam nada do Portal da Transparência do Governo.


Por isso, na Copa vai ter luta, companheirada, e no aniversário da pátria dos antenados protestadores em 4 de julho também vai ter luta! E no mês do cachorro louco também! E no 11 de setembro idem... E... até o Ano Novo vai ter luta, de preferência em greve, mesmo sem negociação de pauta nenhuma.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Dinheiro a rodas

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Indicado por José Serra, o último reitor não era só autoritário. Ele também afundou as finanças da universidade

Por Miguel Martins e Tory Oliveira, no site CartaCapital

O baixo ritmo da economia e uma gestão leniente com as limitações orçamentárias levou a Universidade de São Paulo, a maior da América Latina, do superávit ao déficit em três anos. Financiada por uma cota fixa de pouco mais de 5% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, a instituição vivia momentos de bonança em 2011. Na esteira do crescimento econômico de 7,5% do PIB em 2010, novas obras e contratações eram viáveis para o então reitor João Grandino Rodas, na posse de recursos graúdos, 20% superiores aos do ano anterior. Segundo colocado em uma lista tríplice, formulada a partir dos votos da comunidade universitária, Rodas foi escolhido em 2009 pelo então governador José Serra, com a justificativa de que o tucano “não conhecia bem” o mais votado dos candidatos, o físico Glaucius Oliva. 

Polêmico, o ex-reitor ficou marcado pelo convênio firmado com a Polícia Militar para executar a segurança do campus, sob protestos de parte dos estudantes, e pela forma autoritária como tratava os opositores. Após o fim de sua gestão, em 2013, as consequências negativas de seu perfil centralizador, somadas a uma arrecadação mais tímida nos últimos dois anos, agora cobram a conta. Estima-se que há 1 bilhão de reais a menos nas reservas da universidade, avaliada em 3 bilhões no início de sua gestão.

Há fatores diversos para a escalada de gastos, aponta o relatório do novo reitor Marco Antonio Zago, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. A construção de prédios suntuosos, entre eles o da nova sede da reitoria e um edifício no Centro de São Paulo, contribuiu para elevar os investimentos de 3% do orçamento em 2009 para 8% em 2013. Não se trata, porém, da principal pressão sobre a receita. No primeiro ano da gestão de Rodas, a parcela destinada a cobrir as despesas com os salários, pensões e benefícios de professores e funcionários era de 83%. No ano passado, 100% dos repasses do governo estadual foram destinados a saldar as folhas de pagamento. Incluem-se nessas despesas os aumentos e as promoções concedidas aos 23 mil servidores, as bonificações (somadas custaram 40 milhões de reais à USP no ano passado), e a ampliação do auxílio-alimentação.

A estratégia de conceder aumentos e prêmios a professores e funcionários contribuiu para uma certa letargia dos sindicatos da universidade nos últimos anos. Não há greves dos servidores desde 2009. Tanto a Associação dos Docentes da USP quanto o Sindicato dos Trabalhadores concordam que a elevação dos salários médios levou a uma certa desmobilização. “Não houve arrocho salarial. Havia indignações, mas não fortes o suficiente para provocar uma greve”, afirma Francisco Miraglia, professor do Instituto de Matemática e Estatística e integrante da direção da Adusp.

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Fonte: texto e ilustração de CartaCapital

terça-feira, 8 de abril de 2014

A teologia no Sinditest, de Antonio a Márcio & Maurício

3 comentários:
Sabem o que é maniqueísmo? A luta entre o Bem e o Mal? Os bonzinhos e os malvados?  Todo aquele lero-lero que está na base das religiões em geral?

Pois bem, no Sinditest, durante largos anos esse tipo de argumentação foi usada pelo "pastor" Antonio Neris e seu grupinho para se justificar no comando da entidade. Ele era o portador da "verdade", suas sagradas "Escrituras" e tudo que saía da boca dele eram diretivas inquestionáveis.  Isso ficou muito patente por suas atitudes de 2003 em diante, quando esmagou opositores até mesmo dentro de sua própria Diretoria, e quando impôs a compra de um imóvel questionável numa assembleia antidemocrática nos primeiros anos deste novo milênio.

Passaram-se anos e o "pastor" inquestionável na sua "teologia" estritamente pessoal acabou sendo superado, com suas contradições sendo reveladas como balelas e ele mesmo apelegando-se descaradamente, assumindo cargo de confiança na gestão do atual reitor.

E o que lhe sucedeu? Uma gestão racional, democrática e pluralista? Não, o que lhe sucedeu foi outro tipo de seita, agora de ultraesquerda.  Se Néris queria se apresentar como um tipo de arauto de Deus, agora os novos teólogos do PSTU colocam Trotsky como divindade suprema divisora das águas (e como divide!). Se antes havia a questão da fé nas palavras do "pastor-líder" Antonio, agora se advoga a convicção nas palavras infalíveis da "vontade política" dos profetas Márcio Palmares e Maurício Souza, diretores do Sinditest. Um usava a Bíblia; os profetas da ultraesquerda usam o "Programa de Transição" de Leon Trotsky, pelo qual se aprende aquela tese esdrúxula infantil de que basta querer para poder, independente da realidade e da correlação de forças, tudo é uma questão de "vontade política" de revolucionar, e os que questionarem tal vontade são "traidores da causa".

Onde está a diferença entre o Antônio-pastor apoiando-se em fé e "Deus" e os profetas ultraesquerdistas apoiados na "vontade política" advogada por Trotsky?  A rigor, nenhuma.

É sob o reinado dos profetas Márcio & Maurício, das estrofes ultraesquerdistas dessa "dupla caipira", que hoje dança a categoria dos técnicos-administrativos, um bailado inconsequente em direção ao nada.

sábado, 5 de abril de 2014

Derrubando monumentos. E documentos?

Um comentário:
Não tenho como não saudar a iniciativa do movimento de jovens denominado "Levante Popular da Juventude" na data marcante dos 50 anos do golpe militar de 1964, em que derrubaram e arrastaram o busto do ex-reitor da UFPR Flávio Suplicy de Lacerda, figura que serviu de auxiliar à ditadura instaurada em 1964, sendo ministro da educação da direita militar e perseguindo os estudantes.

Suplicy de Lacerda, embora reacionário, deu importante contribuição à sobrevivência da Universidade do Paraná nos anos 1940, quando era reitor, lutando por sua federalização, concretizada em 1950.  Não obstante essa contribuição de garantir uma instituição pública de educação superior no Paraná, Suplicy, quando do advento da ditadura militar em 1964, tornou-se dela ministro, realizando ações de duro cerceamento da liberdade de expressão e organização do movimento estudantil, além da tentativa de implantação de um curso pago em 1968.  Nesse ano, em maio, deu-se a famosa "tomada da Reitoria", jornada guerreira heroica do movimento estudantil que barrou a tentativa de ensino pago, ocasião em que o busto do ex-reitor foi arrancado de seu pedestal e arrastado por ruas de Curitiba.

Agora, em abril de 2014, o mesmo gesto simbólico contra o reacionarismo de 1964 foi repetido, disparado contra o busto em bronze de Suplicy que "olha" para a entrada da Reitoria da UFPR, no campus central.  A juventude pichou o busto, destacou-o de seu pedestal de pedra, arrastou pela rua e até agora o retém em local não divulgado.

A Reitoria da UFPR emitiu nota protestando contra o que considera "dano ao patrimônio histórico" e reivindica a devolução da imagem esculpida.  Os jovens do "Levante" criticaram duramente a nota do reitor Zaki Akel e não desejam que a situação volte ao que era antes.  Propõem que:

"O destino do busto deverá ser definido pela Comissão da Verdade juntamente com os movimentos sociais. Uma audiência pública aberta e democrática da Comissão da Verdade será uma ótima oportunidade para demonstrar o trabalho que deve-se fazer para REESCREVER a História Brasileira, garantindo a verdade e a vontade de superar os erros do passado. O passado não pode ser mudado. O presente, todavia, está em nossas mãos."

"Sugerimos deixar a base do Busto com sua placa no local, mas somente se lá for adicionada outra placa explicando o porquê de o busto ter sido derrubado, tanto em 1968 quanto em 2014. Ou mesmo substituir o busto deste agente da ditadura por um representante da comunidade acadêmica do período ditatorial que lutou pela democracia e pela liberdade, como Vieira Neto."

É apropriado que o busto seja deixado aos cuidados da Comissão da Verdade, a qual tem uma representação de nível estadual e também uma própria da UFPR, e essas Comissões debaterão democraticamente o que fazer.  A ideia do "Levante" de acrescentar uma nova placa ao pedestal do busto de Suplicy de Lacerda, onde conste também um resumo de seus serviços a um governo fascista, torturador e assassino, junto com a placa laudatória, é um serviço à preservação da História.

Por fim, anote-se aqui que qualquer monumento, como o busto de Suplicy, goste-se ou não dele, é uma documentação de um período da história brasileira, como o são tantos outros monumentos/documentos país afora e pelo mundo.  Não se pode acabar com essas fontes de memória e história sob o pretexto de razões políticas por mais cabíveis e progressistas que sejam, pois com isso privamos historiadores e gerações atuais e futuras do acesso a tais fontes de memória.  E, a cada tempo, e sempre que se reescreve a História, acrescem-se novos dados e interpretações a fatos, períodos, personalidades.  Por que não podemos gravar as novas interpretações históricas, em bronze se preciso, nos documentos/monumentos que criticamos sem ser preciso os exterminarmos?