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quarta-feira, 30 de abril de 2014

Revista Placar e a naturalização do feminicídio no Brasil

Placar deste mês trouxe na capa o goleiro Bruno, acusado e condenado pela morte de Eliza Samudio. O curioso é a edição estar defendendo o jogador, com cara de vítima, a manchete diz “Me deixem jogar”. A principal matéria da revista conta o cotidiano de Bruno na prisão onde ele afirma que não tem privilégios por ser jogador.

Por Mariana Serafini, no Portal Vermelho

A matéria causou revolta na internet e rapidamente grupos de ativistas feministas se mobilizaram. Uma “sugestão de capa” foi criada por Cynthia Beltrão e Rosiane Pacheco onde o destaque é para Eliza Samúdio, e a suposta manchete diz “Eu queria ter visto meu filho crescer”. O protesto criativo repercutiu positivamente nas redes sociais. 

Para Elza Campos, coordenadora nacional da União Brasileira de Mulheres (UBM), o que a revista Placar fez, ao trazer o goleiro Bruno na capa como uma vítima, foi legitimar a violência contra a mulher. Segundo ela, isso não causa necessariamente espanto porque é uma atitude repercutida diariamente pela grande imprensa, que constantemente inverte os valores ao vitimizar o criminoso e culpabilizar a vítima. 

A capa da Placar causa constrangimento às vítimas, principalmente constrangimento moral. Isso é reflexo de uma sociedade com pensamento patriarcal dominante onde as mulheres são culpabilizadas pela violência sofrida”, afirma Elza. 

Elza alerta para o público ao qual a revista é destinada. “A Placar tem um papel importante junto aos homens que leem a revista. O que ela fez foi reforçar a violência simbólica”. 

Para Elza, a emancipação, o empoderamento, e a libertação humana da mulher estão diretamente ligados ao debate em torno da democratização da mídia: “como trabalhamos estas questões se a mídia tem o poder de repassar o que ela quer e não necessariamente o que diz respeito à vida de milhares de mulheres trabalhadoras?”, questiona. 

Ela classifica como grave a imprensa naturalizar o feminicídio da forma como a revista Placar fez ao mostrar o goleiro Bruno na capa. A violência contra a mulher é uma questão latente e que, apesar das mobilizações de entidades e do próprio governo federal em defesa das mulheres, parece só aumentar. Entre 1980 e 2010, mais de 92 mil mulheres foram assassinadas. Destas, 43,7 mil na última década. Em dez anos, a violência contra a mulher praticamente dobrou; em 2010, uma mulher era vítima de homicídio a cada 1 hora e 57 minutos, enquanto em 2001 a média era de 2 horas e 15 minutos. 

O blog Blogueiras Feministas também publicou um artigo em repúdio à revista. “A capa da Placar com Bruno faz parte da normalidade de um país no qual quase metade dos homicídios de mulheres são cometidos por pessoas próximas, geralmente marido, namorado, amigo, filho, pai. A outra metade das mortes não é suficientemente estudada, como se a violência contra o gênero feminino fosse mais grave somente quando recebe o carimbo da ‘violência doméstica’”, diz a nota.


Relembre o caso
Em 2010 o goleiro Bruno Fernandes, ex-jogador do Flamengo, foi condenado há 22 anos de prisão, acusado como responsável pela morte de Eliza Samudio, a modelo de 25 anos com quem teve um filho em um relacionamento extraconjugal. Desde então ele cumpre a pena na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, Minas Gerais. 

Segundo a polícia, o crime foi cometido porque Bruno não queria reconhecer a paternidade da criança. Ele foi julgado junto com quatro cúmplices que foram condenados a 15 anos de reclusão, cada um.

3 comentários:

Clara Maria disse...

Seu Bruno que cumpra sua pena e se quer jogar, jogue no time da cadeia, acho que ainda deixam preso jogar bola, ou não?
Quem não pode mais jogar nada, nem fazer mais nada, é a ex-namorada que ele mandou matar sem dó. Ela era uma das tantas 'marias-chuteiras'? podia até ser mas por isso nao merecia a morte por motivo algum.

Guaracira disse...

Alguns lembretes ao sr. Bruno:

1) o sr. esta mantendo um relacionamento extraconjugal;
2)deste relacionamento resultou um filho;
3) este filho o sr. não quis reconhecer a paternidade;
4) este fato parece ter sido o estupim da briga que resultou na morte de sua namorada e mãe de seu filho;
5) o sr, enrolou mais 4 -5 pessoas no caso, fazendo-os seus cúmplices;
6) e tudo porque negou-se a assumir a paternidade de um filho!!!
7) cometeu vários crimes, sendo o mais violento deles a morte, obviamente!
8) pensou o quê, sr Bruno, que por ser um jogador meramente famoso, em início de carreira, que estaria livre??? Até poderia ser, afinal, estamos no Brasil onde a impunidade impera!! Mas no seu caso, se fez justiça!!
E tamanha sua cara de pau quando pede pra deixá-lo jogar!!!
Jogue sim, no xadrez, que é seu lugar! Vá jogar sementes na terra, plantando em algum horta comunitária pra garantir seu alimento na penitenciária!
Vá realizar algum trabalho aí dentro seu assassino, violentador de mulher, jogadorzinho meia boca que não assume o que faz!! fique por aí, pra segurança de todas as mulheres!! E que sirva de exemplo pra tantos outros que se valem da cultura ainda machista e patriarcal que, infelizmente , ainda impera neste país!
E nós, mulheres, precisamos denunciar, mesmo que envergonhadas, humilhadas, todas as violências sofridas , sejam elas físicas, morais ou emocionais!!!
O tempo da mordaça já passou!!!
Só unidas poderemos vencer esses preconceito e estes absurdos que insistem em nos impor!!

Rita de Cassia disse...

Todos os dias no Brasil morrem mulheres assassinadas pelo ex. Até quando isso vai ser aceito como normal? Quantas ainda precisam morrer? Só nesta semana fiquei sabendo de dois casos. Até quando?