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terça-feira, 13 de maio de 2008

40 Anos das marcantes rebeliões estudantis na UFPR

Em homenagem às lideranças estudantis de 40 anos atrás, que derrotaram corajosamente, numa época de completa falta de liberdades, uma tentativa de implantação de ensino pago na UFPR, publicamos aqui a clássica foto do "estilingue contra o sabre". E reproduzimos abaixo artigo do jornalista Luiz Manfredini [grifos meus] descrevendo as célebres barricadas na Reitoria que forçaram o Conselho Universitário a recuar daquela malfadada tentativa.
[Serviço: às 14h00 deste 14 de maio ocorre evento comemorativo a esse episódio, sob a lona montada no pátio da Reitoria da UFPR.]

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AS BARRICADAS DE CURITIBA

Luiz Manfredini(*)

O busto em bronze do Reitor Flávio Suplicy de Lacerda estatelou-se ao cabo de poucos minutos. Juntamo-nos para hastear e bandeira e cantar o Hino Nacional. Éramos milhares e estávamos febris no início da manhã de 14 de maio de 1968. Havíamos tomado de assalto a Reitoria da Universidade Federal do Paraná que, olímpica, vetusta e arrogante, afinal arquejava diante da nossa fúria súbita e juvenil.

Corriam os memoráveis anos 60, em que afrontar as instituições era um influxo irreprimível e hegemônico. Em todo o mundo, mais de 600 milhões de jovens lançavam para as ruas o brado do seu inconformismo. Muito do que se fez na época foi verdadeiramente revolucionário, audacioso, demolidor.

Lutávamos, naquele momento, contra o ensino pago que a ditadura começava a instituir na UFPR, e pretendíamos impedir o vestibular de um curso noturno - e pago - da Faculdade de Engenharia. Havíamos promovido manifestações no Centro Politécnico, então um campo aberto em que a PM e sua cavalaria invariavelmente nos impunham derrotas. Imaginamos reverter a desvantagem e planejamos o assalto à Reitoria.

Dos cerca de três mil universitários e secundaristas que se reuniram na praça Santos Andrade, às sete horas do dia 14 de maio, apenas um grupo de 80 sabia que a convocação inicial - juntar-se ali para marchar para o Centro Politécnico - era manobra diversionista. Nosso objetivo era a Reitoria, para a qual seguimos divididos em duas espessas colunas - uma pela rua XV, outra pela Amintas de Barros. Às oito horas já ocupávamos toda a quadra e erguíamos barricadas de metro e meio de altura com os paralelepípedos arrancados das ruas. Estávamos armados, estupidamente armados com bolas de gude, rolhas de cortiça, estilingues e rojões.

Pouco depois das nove, as tropas começaram a chegar, a pé e a cavalo, armadas com máscaras e bombas de gás, cassetetes e espadas. Cercaram as barricadas. Estávamos serenos. A correlação de forças era equilibrada.

Dispúnhamos de alguns coquetéis "molotov". Sabíamos que os rojões semeariam pânico e dispersão entre os soldados e seus cavalos, que os milhares de estilingues arremessariam bolas de gude contra as tropas. Vivíamos na doce harmonia da nossa comuna. Passeávamos pelo território ocupado, conversávamos, alguns jogavam cartas, outros namoravam. Sentíamo-nos orgulhosos e em paz.

As negociações conduzidas pelo Presidente da União Paranaense dos Estudantes (UPE), Stênio Salles Jacob, culminaram com um acordo no final da manhã: as matrículas do curso noturno de Engenharia não seriam abertas até que se obtivesse a garantia da gratuidade do ensino. As tropas deixariam o local e ninguém seria preso.

Comemoramos com gritos e o espoucar dos milhares de rojões originalmente destinados à PM. Rapidamente desocupamos os prédios, desfizemos as barricadas e saímos em ruidosa passeata pela XV, até a praça Osório.

Em Paris, naquele instante, os estudantes haviam tomado a centenária Sorbonne.

Dias mais tarde, o Conselho Universitário extinguiu o pagamento de anuidades na Universidade Federal do Paraná. Nós, communards da simplória Curitiba, enchíamo-nos de satisfação e glória.

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(*) Crônica publicada na antologia 300 e tantas histórias de Curitiba, lançada em 2002 pela editora paranaense Artes & Textos. É a condensação de um texto maior, publicado originalmente em maio de 1988 pelo jornal Nicolau, da Secretaria da Cultura do Paraná, em comemoração ao 20º aniversário das mobilizações estudantis de maio de 1968.

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Luiz Manfredini é jornalista, escritor e membro da direção do PCdoB no Paraná. É autor do livro "As Moças de Minas" (São Paulo: Alfa-Ômega, 1989), a ser relançado em Curitiba este ano.


Um comentário:

Anônimo disse...

Eu estava lá, na época aluno do 3º ano de engenharia civil, participei primeiro da interrupção do exame vestibular pago que estava sendo feito no anfiteatro da faculdade de Engª e no dia seguinte ajudei a arrancar os paralelepípedos com barras de ferro conseguidas na construção de um prédio vizinho, e também participei da destruição do busto do Suplicy plantado no jardim da reitoria. Tempos bons, difíceis mas saudosos.... José G. da Cruz.