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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Eleição de reitor é igual às outras?

A possibilidade de a comunidade da UFPR influir diretamente na indicação de seu reitor concretizou-se em 1985, na esteira da redemocratização do Brasil.  Mas, até ali chegar, o movimento organizado da comunidade (na época, principalmente dos professores e alunos) passou pela realização de uma eleição direta simbólica de protesto (em 1980) e por muita pressão sobre o conservadoríssimo Conselho Universitário em 1984-85.

Neste ano do centenário da UFPR, com 27 anos já se passando em que os reitores são nomeados depois de uma consulta direta paritária feita democraticamente entre alunos, técnicos e docentes, o próprio processo merece uma boa reflexão sobre seus méritos e defeitos.  Uma das críticas refere-se ao fato de que a eleição do reitor ficou parecida demais com outros tipos de eleição que acontecem no país, com o marketing e a superficialidade prevalecendo sobre o debate de ideias.  Isto não deve ser desconsiderado neste ano em que mais uma vez será organizada uma consulta pelas entidades da comunidade sobre a sucessão do reitor Akel.

A consulta sobre o novo reitor ou reitora se dará no segundo semestre de 2012, mas urge que as entidades APUFPR, SINDITEST e DCE abram um debate sobre o processo.  Tradicionalmente, desde 1985, são estas entidades que organizam a consulta direta paritária, depois levando o nome do primeiro colocado ao Conselho Universitário para ser aceito e informado ao MEC.

Este Blog apresenta desde já duas proposições ao debate.  A primeira refere-se ao eleitorado.  Propomos que as entidades organizem um período de cadastramento de todos os professores, técnicos e estudantes interessados em participar como eleitores da consulta direta para a Reitoria.  O voto para indicar um reitor não é obrigatório, mas todos os membros da comunidade da UFPR podem votar.  Isto significa que a pessoa que sabe das candidaturas, participou de debates entre os candidatos, leu e refletiu sobre suas propostas poderá depositar na urna um voto com o mesmo peso daquela pessoa que foi abordada no próprio dia da eleição e se deixou convencer momentaneamente por uma propaganda de "boca-de-urna" mais atraente.  Na Universidade, locus onde o mérito deve ter destaque, esse modo de escolha é abominável.  Portanto, propomos que as entidades se organizem para realizar esse cadastramento prévio de eleitores, e assim aqueles que não estiverem interessados desde o começo do processo não precisarão votar para reitor.

Em segundo, propomos que sejam abolidas as iniciativas propagandísticas individualizadas de cada candidatura, no sentido de evitar a influência tanto do poder econômico (na forma de propagandas melhor produzidas e/ou de maior volume) como do chamado marketing político, algo que permeia as tradicionais eleições, mas que é algo com que a Universidade não pode compactuar. Toda a propaganda deverá ser feita em material padronizado pelas entidades, veiculando estritamente as propostas de cada candidato para as áreas fundamentais da Universidade, tanto em panfletos como em cartazes e outros materiais, nenhum deles a ser bancado pelos candidatos.  Um número considerável de debates, a serem transmitidos também por internet, deverá ser promovido.  A intenção é que o eleitor realmente vote mais pelo conteúdo de ideias do que pela forma ou pela simpatia que possa ter com este ou aquele candidato.

As duas sugestões acima advem do longo tempo acompanhando as eleições de reitor, em que se notam várias deformações.  Uma Universidade Pública centenária, que mantem cursos da área de Ciências Humanas, não deve temer o debate sobre sua própria democracia interna. E deve ser capaz de ousar nas próprias teorias sobre o que é democracia.

6 comentários:

Valter Antonio Maier disse...

Caro Dodô e demais leitores:
Sei que na década de 1980 você estava na UFPR como acadêmico do curso de medicina mas quero lembrá-lo, e com isso resgatar um pouco da história da organização da luta dos técnico-administrativos da instituição, que já em 1982 estávamos, funcionários da UFPR, organizados. Tínhamos uma ASUFEPAR mandada constituir pelo reitor Ocyron, mas um núcleo de base do PT já se fazia presente no Hospital de Clínicas. Fizemos em 1983 a primeira greve da UFPR com 17 dias de greve no HC e um no restante da UFPR. Organizamos a oposição, liderada pelo Movimento dos Funcionários que foi vitoriosa na eleição de 1983 da ASUFEPAR. E ainda, na eleição de 1985 para reitor, houve a candidatura de um técnico-administrativo para o cargo de reitor. Tínhamos dois grandes grupos de funcionários organizados, o Movimento dos Funcionários, mais à esquerda e o Direitista Grupo 28 de Outubro. Portanto, só para repor a história onde ela merece e acho que merece um post especial, os servidores públicos federal técnico em educação da UFPR já estavam organizados na década de 1980 e fomos um dos bastiões que fizeram acontecer a primeira eleição direta para reitor na instituição.
****Sobre as tuas duas idéias: Defendo-as também, penso, no entanto, que a primeira tem grandes chances de ser concretizada, mas a segunda corre sério risco de não ser implementada em razão até de que o reitor atual ser mestre nesta escola de marketing. Aposto que ele já deve estar enchendo as burras para a campanha, é só observar o acordo Santander e o Movimento Pró-UFPR dos empresários da FIEP e Associação Comercial.

Dodo disse...

Caro Valter,
Bem sei que a categoria dos técnicos já tinha certa organização nos primeiros anos da década de 80, em que pese a origem "chapa-branca" da Asufepar, e jamais esquecerei os papéis desempenhados por vários militantes do antigo "Movimento dos Funcionários", entre eles meu amigo Denilton Gaio. Essa história ainda precisa ser recuperada e contada para todas as gerações novas de técnicos da UFPR.

Quanto às proposições que apresentei aqui no Blog, entendo que devem ser debatidas, à luz da experiência de duas décadas de eleição direta de reitor. Devem ser debatidas nas assembleias das entidades, instâncias mais hábeis para isso e para indicar a futura Comissão eleitoral da consulta direta. Mas não é porque há forças poderosas querendo deixar tudo como está que nos absteremos de pensar e propor, certo? Sei que voce estará nessa.

Ronaldo Raizer disse...

Prezado Dodô,

Muito interessante a 1ª proposta, acho que ela merece ser debatida. No entanto, o foco do meu comentário é a segunda proposta: de se abolir iniciativas propagandistas imediatas. Em dado momento do texto você cita que nenhum dos materiais seria "bancado" pelos candidatos. Ora, então quem pagará a conta? A proposta seria de um "financiamento público da campanha"?
Faço esses questionamentos porque os financiadores das campanhas de reitor vivem no mundo das sombras. Não existe prestação de contas ou qualquer mecanismo de transparência. E porque esconder quem está bancando sua eleição?

Abaixo o link de um texto que escrevi a respeito: http://mobilizaufpr.org/2011/12/02/quem-financia-as-eleicoes-na-ufpr/

Debora Salles disse...

Oi Dodo, achei muito interessante vc comentar sobre a historia da UFPR que precisa ser recuperada e contada, com apenas 9 anos na instituiçao ainda tenho muito a aprender...acho maravilhoso que um servidor de vasta experiencia como vc faça este blog tao legal e democratico. E principalmente, que abra espaço para comentarios de qualquer pessoa.
Abraço e continue assim.

Dodo disse...

Ronaldo,
Claro que isso tudo dá trabalho. Debater e fazer, adotar novas práticas, que darão mais trabalho para as entidades. Mas é preciso fazer o debate nas diretorias das entidades, e nas assembleias gerais e comunitárias.
A proposta que apresentei é mesmo aparentada ao financiamento público de campanha: todo candidato a reitor não produzirá nenhum material de campanha, apenas apresentará os textos de suas propostas para que as entidades produzam panfletos padronizados (quando muito, com cores diferentes para cada candidato). Faixas, banners e cartazes (espalhados por todos os campi) serão produzidos pelo pool das entidades, informado a data da eleição e os nomes dos candidatos, apenas. Nada de camisetas, bottons, adesivos, brindes. O que se pode talvez liberar é que cada candidato possa fazer seu site de campanha como bem entender e malas diretas eletrônicas. Seria necessário também fiscalização para ver se não há propagandas "por fora". Essas restrições podem parecer "antidemocráticas", mas a finalidade, como disse, é limitar influência do poder econômico e do poder ilusionista do marketing político.

Unknown disse...

Além da Professora Narcisa,que inclusive já chamou Reunião para apresentar-se oficialmente como concorrente ao cargo de Reitora,já existem outros candidatos ? Ou a timidez não aponta outros nomes....