Em sua onda de cortes, Trump pretende suspender fundos da Gavi, aliança internacional de distribuição de vacinas. Na política, não há vácuo: com suas fábricas, China está bem posicionada para assumir apoio à imunização em países do Sul Global.
Outra Saúde, Seção do Site Outras Palavras - 16/04/2025
O governo Donald Trump planeja pôr fim ao apoio financeiro dos EUA à Gavi, uma iniciativa global para compra e distribuição de vacinas que imunizou mais de 1 bilhão de crianças desde seu lançamento em 2000.
Os Estados Unidos foram um dos seis países a oferecer as doações que fundaram a Gavi e atualmente são o terceiro maior contribuinte da iniciativa, fornecendo mais de 12% do financiamento. O governo norte-americano compromete esses fundos por meio de promessas plurianuais, que o Congresso então aprova em um cronograma anual. Se o governo levar o plano adiante, cortará uma doação americana de US$2,6 bilhões até 2030, mais da metade dos quais ainda não foram destinados à Gavi.
Embora o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, tenha anunciado em março que o governo havia finalizado sua revisão de projetos de ajuda externa, a decisão de descontinuar o financiamento da Gavi ainda pode mudar, à medida que as autoridades federais avançam em direção à implementação de suas medidas. Mas se o governo não mudar de rumo, a Gavi enfrentará desafios consideráveis ao tentar esticar seu orçamento.
A perda do financiamento dos EUA pode deixar a Gavi com três opções para reduzir suas operações: interromper o financiamento do fornecimento de vacinas para alguns países beneficiários, reduzir o número de vacinas que a iniciativa apoia ou reduzir o financiamento para o desenvolvimento de vacinas e sistemas de saúde. Todas essas opções podem alterar significativamente a saúde e a expectativa de vida de quase 100 milhões de crianças e adolescentes em todo o mundo.
Ao recuar em seus compromissos com a Gavi, os Estados Unidos abrem caminho para a China expandir sua influência no mercado global de vacinas por meio de seus empréstimos estrangeiros, programas de ajuda e fornecedores de vacinas. Essa abordagem pode refletir a diplomacia de vacinas da China durante a COVID-19, quando forneceu vacinas a muitos países de baixa ou média renda que enfrentavam barreiras de acesso.
Quais países podem ser afetados?
A Gavi direciona sua ajuda aos mais pobres do mundo, apoiando apenas países com renda nacional bruta per capita recente inferior ou igual a US$1.820. O modelo de financiamento da Gavi compra e adquire vacinas em parceria com países de baixa renda, aumentando seus níveis de cofinanciamento à medida que a renda nacional aumenta. Assim que uma nação se torna rica o suficiente para se tornar inelegível, ela entra em uma fase de transição acelerada, um período de cinco anos em que o país aumenta seus gastos com vacinas até se autofinanciar totalmente.
Dos 54 países elegíveis para o apoio da Gavi, 11 se qualificam para o programa de transição acelerada, e esse subconjunto enfrenta as maiores consequências com a decisão dos EUA de interromper o financiamento.
Se esses países de baixa e média renda perderem a capacidade de financiar múltiplas vacinas simultaneamente devido ao corte de financiamento da Gavi, uma alternativa viável seria recorrer à China — para empréstimos, ajuda externa e os preços altamente concessionais que seus fornecedores de vacinas poderiam oferecer. Desde 2000, a China forneceu mais de US$89 bilhões em assistência cumulativa ao desenvolvimento para essas nações, todas membros de sua Iniciativa Cinturão e Rota. Aproximadamente US$1 bilhão desse total — pouco mais de 1% — foi alocado para assistência à saúde. Esses países já estão no foco estratégico da estratégia de influência externa mais ampla da China, inclusive no setor da saúde.
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Autoria: Prashant Yadav e Chloe Searchinger, no ThinkGlobalHealth Tradução: Guilherme Arruda
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