O cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, já falecido, escreveu há cerca de 20 anos, o livro "O paradoxo de Rousseau - uma interpretação democrática da vontade geral", em que ele, muito tranquilamente, indaga ao leitor: a civilização humana já teria, passados mais de 2 mil anos desde as primeiras experiências ditas democráticas da Grécia Antiga, construído um modelo pronto e acabado de democracia? Categoricamente ele responde: não.
Não, não existe civilização, sociedade ou país sobre o qual se possa dizer: eis aí o modelo perfeito de funcionamento democrático. Isto ainda continua sendo uma construção histórica e não se pode com clareza prever quando se alcançará essa condição.
Com esta breve introdução, queremos chamar a atenção sobre a questão de que, numa instituição como a Universidade Pública, também se está perseguindo formas e ações que aprimorem a democracia interna universitária, e em regular contato com a sociedade extra-muros acadêmicos que a sustenta com seus impostos, assim como com o influxo anual de novos estudantes, além do ingresso de docentes e técnicos para as atividades-meio e finalísticas.
Também escrevemos isto a propósito da matéria publicada no site da UFPR, datada de ontem, intitulada "UFPR lança plataforma participativa". Esclarecendo do que se trata, escreve o redator Gabriel Maia:
"A Universidade Federal do Paraná lançou na última semana o "Participa UFPR", uma plataforma digital voltada à promoção da participação social e democrática na tomada de decisões institucionais. A ferramenta, baseada no software livre Decidim, já é utilizada em cidades como Barcelona, Nova York e Helsinque, além de universidades como a Université de Bordeaux, da França, e até pelo próprio Governo Federal, no Plano Nacional de Cultura.
A escolha pela plataforma Decidim se deu, entre outros fatores, por sua flexibilidade, ampla funcionalidade e, principalmente, por ser software livre, o que permite seu uso gratuito e a possibilidade de customizações futuras, conforme as necessidades da comunidade universitária."
Entendemos que a iniciativa deve ser saudada como mais um instrumento participativo - que se espera de mão dupla - entre comunidade e administração universitária, esta que toma e executa decisões. A aguardar como ocorrerá no concreto do dia-a-dia - e em especial quando se tratar da abordagem de temas polêmicos sobre rumos para a UFPR.
Recordamos, uma vez mais, que uma das críticas duras feitas pela oposição, em 2024, ao então Reitor Ricardo Marcelo em seu segundo mandato é que ele havia secundarizado o esforço pelo aprimoramento da democracia universitária e que algumas vezes lançava mão de expedientes monocráticos, pouco chamando os próprios conselhos superiores ao debate de temas da vivência da UFPR. Este Blog mesmo registrou da própria lavra essa crítica e assinalou que a própria Constituição brasileira de 1988 admite o emprego de recursos de consulta ampla como referendos e plebiscitos, os quais também podem ter oportunidade de uso adequado no seio da comunidade universitária para auscultar suas opiniões e sentimentos.
Esperamos, enfim, que a nova gestão na Reitoria, dos professores Marcos Sunye e Camila Fachin, levem efetivamente isso em conta e, ao cabo de quatro anos de gestão, se possa dizer que houve avanços no quesito democracia universitária.
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