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terça-feira, 6 de agosto de 2024

Crônicas do Abacateiro - 2


O batuque noturno da oficina


Coisa boa no escritório arborícola (ora, não viemos deste meio vegetal há 2 milhões de anos atrás?) era estar no começo da noite - mãe reclamando que eu não voltava pra casa pro jantar - ouvindo o batuque de candomblé na oficina mecânica na esquina vizinha. Ali, a coisa de uns 30 metros do fundo do meu quintal, operava uma oficina mecânica, que, depois de terminar seus serviços diurnos, abria uma sala para o pessoal do candomblé fazer seus rituais, inspirados por música. Eu, que nunca fui lá (deveria ter ido), ouvia de longe as batucadas e treinava sobre o tampo da minha mesa improvisada no abacateiro as batidas, tentando acompanhar.

Isso me marcou, mas, claro, não foi a única influência, pois música a gente aprende de múltiplas fontes. Aquele batuque, no entanto, ficou para sempre no coração, nos pulsos aflitos e tamborilantes. E sem isso, sem sentir fundamente a pulsação, você não pode batucar espiritualmente no ritmo.

Assim, coisa a mais que no escritório em meu abacateiro aprendi foi percussão e, anos mais tarde, treinei melhor a fazer em diversos instrumentos.

Filho, desce dessa árvore, já é noite, vem pra casa jantar!” - bradava minha mãe dos fundos da cozinha. Ela não sabia ainda bem o quanto de Humanidade eu estava aprendendo a partir do fundo do meu quintal e de minha árvore amiga, espectadora daquilo tudo.

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