Em seu bom discurso de posse na Reitoria da UFPR, o professor Ricardo Marcelo a certa altura citou trechos da fala do militar Daltro Filho quando da fundação da Universidade em 19/12/1912, nos quais se expressava a repulsa daquele fundador às ideias de pluralidade e de miscigenação. Era próprio da então elite paranaense do começo do século 20 ver com fortes objeções qualquer participação de mestiços, de negros, de mulheres e pobres em geral nas questões do "andar de cima" da sociedade.
Disse o novo reitor da gestão 2016-2020, na posse ocorrida em 19/12/2016, que aquele "zeitgeist" ("espírito da época") de 1912 não mais existiria na UFPR da atualidade. Ledo engano do professor Ricardo, advogado e formado em História. Quem, bem refletindo, crerá que a essência daquele abominável zeitgeist dos albores do século anterior está afastada? No Brasil da atualidade, e por muitas vezes mesmo dentro da UFPR, veem-se manifestações de machismo, feminicídios, ódio racial, intolerância às pessoas LGBT, a pobres, às cotas sociais e étnicas. Até a logomarca do governo federal usurpador do medíocre Michel Temer, em pleno século 21, voltou a ter o dístico positivista daquele passado de cem anos atrás!
Sabemos que o novo reitor da UFPR se opõe a tais preconceitos e intolerâncias, e que pode tomar medidas para combatê-las dentro e fora da UFPR. Para tentar ser uma importante parcela da direção cultural, intelectual e moral da sociedade que a sustenta materialmente, a Universidade Pública precisa fazer isso mesmo. Ou o zeitgeist essencial dos tempos de Daltro Filho permanecerá.
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