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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Jornal da burguesia paulista reclama de sindicalistas no Governo Federal


Na edição de hoje, o jornal que apoiou a candidatura Serra, a "Folha de São Paulo", destaca numa das manchetes que, no Governo Federal, "Sindicalistas detem 43% da elite dos cargos de confiança".  Sendo um órgão que veicula as opiniões do grande patronato paulista (e do sindicalismo patronal), compreende-se que a "Folha" esbraveje contra o fato de haver trabalhadores politizados em cargos de governo.


Diz a matéria da "Folha" que "Ao receber a faixa das mãos do presidente Lula, no próximo dia 1º, Dilma Rousseff herdará a máquina federal com quase a metade da cúpula dos cargos de confiança, sem concurso público, tomada por sindicalistas... Segundo estudo da cientista política Maria Celina D'Araújo, da PUC-RJ(*), autora de "A Elite Dirigente do Governo Lula", quase metade (42,8%) dos ocupantes desses cargos [DAS 5 e 6] atualmente são filiados a sindicatos. Desse total, 84,3% são petistas.  Os principais ramos que conseguiram cargos são os bancários, a área dos professores e os petroleiros... Ao todo, o governo federal tem cerca de 22 mil cargos de confiança, mas esses 1.305 são a elite do batalhão de comissionados."


A isso o atual presidente da CUT rebate que "Esse negócio de república sindical é bobagem porque o PT e a CUT tem a mesma raiz.  O próprio Palocci foi dirigente da CUT e ninguém fala dele. Seria absurdo se fossem tucanos".


O dirigente sindical tem razão. Se um conjunto de forças políticas e de movimentos sociais se uniu para sustentar a continuidade do processo de mudanças do governo Lula, apoiando direta ou indiretamente a candidata Dilma, é natural que desse conjunto saiam quadros dirigentes para comandar, não só técnica como politicamente, as iniciativas governamentais.  Ou iriam ser designados para cargos de confiança burocratas técnicos saídos sabe-se de lá de onde? Do PSDB/DEM/PPS?  De segmentos sociais que sempre atacaram violenta e sistematicamente o Governo Lula e a candidatura Dilma, como aliás se ouve em alguns discursos durante plenárias de FASUBRA?


Outra expressão que a mídia golpista tirou do baú, e José Serra usou em campanha, foi a tal da "república sindicalista"(**), empregada no começo dos anos 60 para atacar duramente o governo de João Goulart, que na prática serviu de "senha" para alertar as famílias burguesas, boa parte da classe média e os desavisados sobre o "perigo do comunismo" se instalando no governo central janguista.  Isto é, serviu de senha para o golpe militar de 1964, que impôs uma ditadura sanguinária de 21 anos.  Contra esses ataques da grande mídia burguesa é preciso estar atento e repeli-los sempre, pois nas entrelinhas eles dizem: "vocês, trabalhadores e sindicalistas com Lula e Dilma, estão ocupando os cargos que deviam ser nossos e de nossos afilhados, e estão gastando em excesso o "nosso" dinheiro de impostos com políticas públicas demais para o povo!"  E olhem que Lula foi também generoso na sua política econômica com grandes empresários e banqueiros... Imaginem se não fosse.


Por outro lado, não se pode acreditar que a presença de um número de ex-lideranças de movimento sindical per se garanta que reivindicações sejam atendidas e o processo mudancista fique plenamente azeitado para acontecer.  Além do mais, o Poder Executivo tem muita força mas não exclusiva: pelo Congresso Nacional tem que passar as medidas mais importantes, e ali a bancada de sindicalistas é bem menor (embora tenha aumentado um pouco nesta eleição de 2010) que a oriunda do empresariado.  Como exemplo, veja-se a enorme dificuldade para aprovar no Congresso a lei da redução da jornada semanal de trabalho de 44 para 40 horas, que ali se debate há anos. 


Para cobrar do novo Governo Dilma - e  também dos sindicalistas que ocuparem cargos de destaque - as Centrais Sindicais precisam colocar a base trabalhadora em movimento. Um grande passo para isso já foi dado na feitura de uma pauta unitária de reivindicações das Centrais, aprovada na 2a.  CONCLAT de Junho/2010, em São Paulo (clique aqui para ver o documento inteiro).  Agora, é lutar por ela.
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(*)PUC do Rio de Janeiro, diga-se de passagem, um ninho de economistas neoliberais, de onde saíram diversos professores para executar a política econômica da nefasta Era FHC.
(**)"República Sindicalista": para mais explicações, visite este endereço.

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