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quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Aranhas forçam vagalumes machos a piscar como se fossem fêmeas - atraindo mais machos para a morte

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Acima, uma aranha agarra um vagalume macho e o força a piscar como quer

Um estudo assinala a primeira vez em que cientistas observaram este tipo de comportamento "manipulador" em aranhas

À medida que o sol vai se pondo sobre os campos e lagoas de arrozais em Wuhan, na China, vagalumes machos buscam o piscar distinto das fêmeas. Mas o que parece ser uma oportunidade para acasalar pode virar uma emboscada mortal. Algumas aranhas tecedoras de teias esféricas forçam os vagalumes machos presos nelas a imitar os flashes das vagalumes fêmeas, relatam pesquisadores na revista Current Biology, fazendo com que mais vagalumes machos também sejam pegos nas teias aracnídicas.

"É um estudo realmente fascinante", diz Sara Lewis, bióloga emérita da Universidade Tufts, que não participou desse estudo. Vagalumes machos às vezes mudam os padrões de seus flashes quando buscam se diferenciar em meio a outros machos, observa ela, mas este novo estudo é o primeiro a documentar uma alteração de padrão potencialmente deflagrado por um predador.

Dentre os vagalumes tropicais asiáticos da espécie Abscondita terminalis, tanto machos como fêmeas piscam para atrair parceiras(os), mas seus padrões de flash não são iguais. Fêmeas produzem pulsos singulares lentos, a partir de uma única "lanterna" em seus abdomes, enquanto que os machos piscam em rápida sucessão a partir de duas "lanternas" abdominais.

Ambos os sexos de vagalumes costumam ser presas fáceis da Araneus ventricosus, uma aranha tecelã de teia esférica que existe na China. Contudo, durante seus trabalhos de campo em Wuhan, Xinhua Fu, um biólogo da Universidade Agrícola de Huazhong, observou várias teias somente com vagalumes machos capturados nelas. Então, ele se perguntou se os aracnídeos estariam manipulando esses machos aprisionados para atrair ainda mais presas masculinas...

[No link abaixo o artigo completo, em inglês]
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quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Simão Bacamarte para salvar o Brasil das Bets

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Nenhum contribuinte poderá declarar à Receita que enriqueceu jogando em cassino clandestino. Mas se o cassino é legalizado, pode.


A iniciativa do vice-presidente e Ministro da Indústria e Comércio Geraldo Alckmin de convocar reunião com a Ministra da Saúde, Nísia Trindade, e representantes do Ministério da Saúde e da Justiça para tratar da regulamentação de jogos online e bets, é a primeira iniciativa saudável do governo em relação ao tema.

Segundo o Banco Central, os brasileiros gastam cerca de R$ 20 bilhões por mês com apostas on-line.

A posição do Ministro da Fazenda Fernando Haddad é a de que “o governo vai enfrentar a “dependência psicológica dos jogos” no país. Ele anunciou que a Fazenda vai bloquear a partir de 1º de outubro as empresas de apostas online que ainda não se regularizaram”. Como o vício não separa cassino oficializado de não oficializado, o Brasil acaba de lançar o cassino com filtro.

É curiosa essa pressão da Faria Lima [avenida-símbolo do mercado financeiro, dos ricaços do grande capital financeiro] sobre os gastos públicos. É um carnaval diuturno, estimulado por um jornalismo de quinta categoria, incumbido de espalhar bicho-papão para a classe média. E o governo não se vê em condições de enfrentar a Faria Lima, já que tem que administrar o pior Congresso da história.

Fica-se então nesse gradualismo em que, a cada dia, derruba-se mais um princípio norteador da civilização – já que a divisão esquerda-direita não existe mais, mas resiste bravamente a frente civilizatória. A frente deixa entrar um pouquinho votando contra saidinhas de preso e outras concessões que, somadas, mata qualquer veleidade programática para 2026.

Agora, com a legalização do cassino, finalmente o governo conseguiu juntar o bloco civilizatório, independentemente da cor política, todas as pessoas dotadas de um mínimo de bom senso se indignaram com essa loucura, de legalização do jogo. Foi o momento em que os evangélicos mostraram muito mais bom senso que os burocratas.

O que se conseguirá com a legalização?

Certamente facilitará a lavagem de dinheiro. Nenhum contribuinte poderá declarar à Receita que enriqueceu jogando em cassino clandestino. Mas se o cassino é legalizado, pode. O famoso deputado da CPI dos Anões do Orçamento, que dizia ter vencido dezenas de vezes na Loteria Esportiva, mentia, mas dentro da lei: a Esportiva da Caixa é legalizada.

Apesar de o Nelson Motta ter declarado que não existe corrupção no jogo, que se trata da atividade mais fiscalizada pela Receita – sabe-se lá o que o levou a essa conclusão -, lavar dinheiro com Bet legalizada é simples. A Receita sabe o que entra e o que sai de dinheiro.

Mas suponha um sujeito que quer lavar R$ 20 milhões. Basta acertar com o dono da Bet que programará o algoritmo para premiá-lo e entregar a ele o prêmio de R$ 15 milhões. O restante é comissão. É atividade de menor risco do que lavar dinheiro em igreja neopentecostal.

Mas, se for acatada a proposta de que as bets serão responsáveis pelo tratamento aos viciados, será uma festa. Veremos, do mesmo modo, milhões de famílias destruídas, lares desfeitos, mas os louquinhos pelo jogo estarão apinhados em hospitais psiquiátricos, bancados pela benevolência das bets.

Provavelmente, a terapia será submetê-los a jogos de dama. E a única aposta permitida será em torno do crescimento diário da arrecadação da Receita com o jogo.
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P.S.: Simão Bacamarte é o personagem do conto de Machado de Assis, "O Alienista", que é médico e resolve abrir um hospício numa pequena cidade do Rio, a "Casa Verde".  Ele se investe da condição de psiquiatra e vai aos poucos internando os habitantes da cidadezinha, até que praticamente todos estão lá internados, restando apenas ele como o único "normal".  Leiam!

terça-feira, 24 de setembro de 2024

A reação de autoridades ao discurso de Lula na Organização das Nações Unidas

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O discurso do presidente Lula na Assembleia Geral da ONU desta terça (24) foi elogiado por representantes de diversos países, mas recebeu reprovação da delegação de Israel e do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. O petista criticou potências mundiais, a atual estrutura do órgão e a concentração de poder durante sua fala.

Lula foi muito bem, principalmente ao colocar os emergentes e os países pobres no centro. Ele tocou num tema delicado: como somos nós quem financiamos os ricos”, afirmou Xanana Gusmão, primeiro-ministro do Timor Leste, à coluna de Jamil Chade no UOL.

O presidente também fez uma referência à presença de Mahmoud Abbas, presidente palestino, que esteve ao lado dos demais países da ONU pela primeira vez em 80 anos. O gesto foi celebrado por um delegado palestino, que apontou que a menção “ficará em sua história”.

Lula também reclamou da falta de representatividade da entidade, da ausência de representantes africanos e latino-americanos no Conselho de Segurança e do poder de veto dos Estados Unidos no colegiado. As declarações foram vistas de forma positiva e um diplomata sul-africano apontou que “essa relação precisa ser explicitada aos poderosos”.

O petista ainda criticou gastos com armas para guerras, as sanções americanas contra Cuba e o abandono do Haiti pela comunidade internacional. Ele defendeu uma proposta de diálogo de paz para acabar com a guerra na Ucrânia e chamou os ataques de Israel a Gaza de “direito de vingança”.

O presidente ucraniano demonstrou insatisfação após a fala do presidente, enquanto a delegação israelense presente na Assembleia Geral decidiu não aplaudi-lo.
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Fonte:DCM

Como a febre nos ajuda a combater agentes patogênicos - mas também pode estimular surgimento de câncer

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Qualquer um que já sofreu miseravelmente prostrado numa cama, assolado por dores musculares e calafrios, já provavelmente se perguntou por que ficamos febris quando adoecidos. Mas os cientistas não sabem com certeza se a febre é um desafortunado subproduto da infecção ou se realmente ela nos ajuda a combater o agente patogênico. Recentemente, um estudo sugere que temperaturas elevadas ajudam a entender melhor como as células imunes se comportam - para o bem e para o mal.

Pesquisadores investigaram como as células brancas do sangue (leucócitos) chamadas células T, que realizam boa parte do "trabalho sujo" na destruição de patógenos, reagem frente a diferentes temperaturas acima do nível normal do corpo. Quando a equipe do estudo elevou o termostato para 39 graus Celsius, observou que as células T reguladoras, que atuam como um freio na resposta imune, silenciavam, enquanto os "guerreiros" imunológicos mais ardorosos - as chamadas células T CD4 - aceleravam sua atividade e proliferação. Isso significa que as células que mais ativamente lutam contra a infecção ficam mais poderosas ao fazerem-no - exatamente o que você iria querer estando adoecida por alguma causa.

O lado negativo, no entanto, é que o calor elevado estragava as mitocôndrias das células T auxiliadoras, as quais apoiam as células T CD4, tornando-as mais propensas a produzir moléculas que podem danificar o DNA. Isto é, o calor - seja o da febre, ou de sua mais localizada contrapartida, a inflamação - pode estimular alterações cancerosas, especula a equipe desse estudo. "Um pouco de febre é bom, mas febre muito alta é ruim", diz o co-autor da pesquisa, Jeff Rathmell.
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Fonte: Science Immunology - 20/09/2024

domingo, 22 de setembro de 2024

Chapa 3 vence Consulta Direta para Reitoria da UFPR

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A consulta direta para escolha da nova administração central da UFPR, realizada em dois turnos (10-11/09 e 18-19/09) contou com a participação de 9.495 estudantes, 2.158 servidores docentes ativos e aposentados e 3.228 servidores técnico-administrativos em educação (TAEs) ativos e aposentados e servidores HC/Ebserh (total de 14.881 votantes).

Saiu-se vitoriosa a Chapa 3, composta pelo professor Marcos Sunye (Setor de C. Exatas) e pela professora Camila Fachin (Setor de C. da Saúde), obtendo 61,98% dos votos válidos. Em seguida, no segundo turno, ficou a Chapa 2, do professor Fernando Mezzadri (Setor de C. Biológicas) e Cristina Rodrigues (Setor de C. da Saúde), que recebeu 38,01% dos votos.

A Chapa 3 teve 5.716 votos do total de discentes, 1.247 votos de docentes e 2.186 votos de TAEs e HC/Ebserh. Já a Chapa 2 teve 3.779 votos de discentes, 911 votos de docentes e 1.042 votos de TAEs e HC/Ebserh.

O Colégio Eleitoral, formalidade da lei atual, é integrado por membros do Conselho Universitário e reúne-se no final de setembro, para compor a lista tríplice a ser enviada ao MEC, tendo o professor Sunye como primeiro nessa listam e outros dois membros da comunidade apenas proforma. Em dezembro o novo reitor toma posse.

Depois da comemoração, vamos chamar toda a equipe da gestão atual para conversar, montar da melhor maneira possível o plano de gestão, usar toda a experiência do pessoal que trabalhou todo esse tempo na universidade. A nossa entrada na universidade é uma mesma entrada de união, a eleição termina aqui. Vamos construir uma gestão coletiva”, disse o futuro reitor Sunyê.

Este Blog, que apoiou publicamente a Chapa 2, parabeniza a Chapa 3 vitoriosa, e exprime sinceras esperanças de que os professores Sunye e Camila façam boa gestão no quadriênio 2025-2028.
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Com informações e foto do site da UFPR

domingo, 8 de setembro de 2024

Mezzadri e Cristina na Reitoria da UFPR - Chapa 2 tem total apoio

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Conforme já declarado por este Blog (que existe desde fins de 2007), damos integral apoio à Chapa 2 - Fernando Mezzadri e Cristina Rodrigues - para a eleição direta de 10-11/09/2024, para bem conduzir a Reitoria no próximo quadriênio.

Já publicamos neste espaço virtual nosso ponto de vista racional (e não "ressentimental") sobre porque indicamos à comunidade da UFPR o voto na Chapa 2.  Assim como demonstramos certas contradições em passado recente e atual de por que não é boa opção votar em outra chapa que não a de Mezzadri e Cristina.

Chamamos atenção para que servidores da ativa fiquem atentos à caixa postal de seu email institucional da UFPR e que os aposentados cadastrem seus emails até segunda-feira (09/09). E bom voto a partir da terça-feira (10/09) e quarta.  Possivelmente, se tudo correr bem, sem desesperos e intervenções de úlitma hora de concorrentes, que o resultado de 1o. turno já seja conhecido na noite de 11/09, e se haverá um 2o turno em 18/09.   Se houver...

sábado, 7 de setembro de 2024

Ligações neuronais permanentes predizem depressão

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Embora o transtorno depressivo venha e vá, as pessoas predispostas a isso retem um padrão distinto da sua rede de ligações neuronais intracerebrais ao longo de suas vidas. Uma análise de mais de 180 imagens de Ressonância Magnética funcional mostrou que, em comparação com controles saudáveis, os indivíduos com depressão clínica possuem circuitos cerebrais maiores, denominados redes salientes (ou relevantes, ou proeminentes), que conformam aquilo a que o cérebro dá [mais] atenção. Estas redes tornam-se mais ativas durante um episódio depressivo, mas persistem depois que a depressão some. 

Pesquisadores acharam grandes redes salientes entre crianças mesmo com nove anos de idade, as quais, então, mais tarde, iriam desenvolver depressão como adolescentes. Isto sugere que esta característica pode aumentar o risco de depressão, ao invés de ela ser resultado delas.

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Fonte: revista ‘Nature’, de 5/9/2024




 

"MoviMINTO Pra UFPR", logo, MoviMorro... lascado

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Um pigmento torna camundongos transparentes

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Um pigmento que confere ao salgadinho Doritos sua típica coloração laranja também faz com que tecidos do camundongo fiquem transparentes. Pesquisadores aplicaram esse corante (tartrazina) à pele de camundongos vivos e isso permitiu que os cientistas perscrutassem tecidos de estruturas do roedor tais como vasos sanguíneos e órgãos internos sem quaisquer cirurgias, incisões ou lesões a pele ou ossos. A técnica reversível funciona alterando o modo como o tecido interage com a luz, e isso poderia oferecer um método menos invasivo de monitorar animais vivos empregados em pesquisas médicas. “É um avanço importante”, comenta o biólogo Phillip Keller.

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Comentário: se você é fanático pelo salgadinho Doritos, não vá pensar que, decuplicando seu consumo diário do petisco, ou esfregando Doritos na própria pele, vá se tornar o “Homem Invisível”, conforme aquela famosa novela de ficção científica escrita pelo socialista inglês do século 19, H. G. Wells.
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domingo, 1 de setembro de 2024

Crônicas do abacateiro - 4

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Minha neutroglicerina

Na época de infância/adolescência, eu tinha em meu quarto uma espécie de pequeno laboratório, químico e elétrico. Mas planejava transferir materiais, substâncias químicas e equipamentos, pois receava que, algum dia, fazendo algum experimento mais arriscado ou mistura química sem medir bem as consequências, aquilo explodisse, abrisse uma cratera em meu quarto, pelo que certamente não estaria mais aqui escrevendo.

Eu e mais dois amigos, sob nossos 13 anos de idade de doideiras, resolvemos construir um “laboratório” nos fundos do vasto quintal em minha casa de Paranaguá, justamente à sombra do velho amigo abacateiro. Juntamos economias, compramos uma partida de tijolos e cimento, e nos desembestamos à empreitada. Um dos amigos tinha alguma experiência de pedreiro (até se chamava Pedro!) e foi o principal cimentador de tijolos de nossa edificação de 3 x 3 metros. Éramos impulsionados pelas imaginações de tantos filmes de ficção científica que víamos. Um dos projetos era construir um pequeno foguete que realmente decolasse, sabe-se lá para onde.

No entanto, ao longo dos meses, o ímpeto de construção civil foi se desvanecendo, e nosso modesto edifício nunca foi completado, ficando só com as paredes, sem teto, sem piso, sem porta nem janela.

Nesse meio tempo, eu prosseguia com experimentos químicos no acanhado “laboratório” em meu quarto. Na estante de minha tia professora, encontrei um velho livro de Química, datado de 1927. Ora, ali se encontravam instruções sobre como fabricar nitroglicerina, o que me entusiasmou, pois fiquei a imaginar um “sistema de segurança” para proteger nossa construção no fundo do quintal contra intrusos, pelo qual, num intrincado sistema de cordinhas esticadas no meio do mato, o invasor tropeçaria em alguma delas, e isso faria cair um minúsculo frasco contendo o perigoso explosivo nas proximidades, que estouraria perto do sujeito indesejado e o espantado visitante fugiria correndo.

Fui à farmácia e comprei nitrato de sódio, glicerina e enxofre, seguindo as instruções do livro de Química do começo do século XX. Produzi, em meu quarto, uma mistura de uns 10 mililitros dentro de um pequeno frasco e fui testar no fundo do quintal. Joguei-o contra a parede de nossa construção no quintal, e nada aconteceu, exceto a mancha do líquido inerte escorrendo.

O que deu errado? Algum componente comprado na farmácia era falsificado? Errei na preparação? Nunca descobri, mas, se tudo desse certo, eu abriria um imenso buraco no meu quintal, e, pior, poderia derrubar o meu amigo abacateiro. Nunca mais tentei fabricar explosivos, e mantive meu amigo árvore.

Losurdo, filósofo da História, geógrafo do anticolonialismo

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Domenico Losurdo, o eminente filósofo italiano que tantas vezes visitou o Brasil e aqui foi amplamente publicado, nos deixou na manhã de 28 de junho de 2018. Ao lado das lágrimas pela perda de um intelectual de tamanha envergadura, devemos também nos felicitar pelo enorme legado que Losurdo nos entrega através de suas muitas obras. Delas podemos retirar muitos ensinamentos para ler a história e tomar posição no debate de ideias que se destina a superar este mundo “grande, terrível e complicado”, como costumava dizer Gramsci (Lettere dal carcere, 1926-1937. Org. A. A. Santucci, Palermo: Sellerio, 1996, p. 421). O mesmo Gramsci que foi uma das principais inspirações de Losurdo, e para o qual ele forneceu uma interpretação rigorosa e de grande interesse.

De fato, para Losurdo o grande autor do marxismo italiano é antes de tudo aquele consciente de que a “absorção da parte vital do hegelianismo” pelo materialismo histórico é “um processo histórico ainda em movimento” (Q. 10 II, § 10, p. 1248). Vale dizer, um Gramsci sempre atento à categoria de “desenvolvimento histórico”, como salientou em uma obra dedicada a este tema Alberto Burgio (Gramsci Storico, Roma:Laterza, 2002), não por acaso o primeiro aluno de doutorado de Losurdo. E eis um ponto de partida crucial caso se pretenda entender o modo pelo qual, sempre exercitando uma exigente filologia na citação dos textos de Gramsci, Losurdo apresenta uma leitura do comunista italiano muito diferente daquela a qual durante muito tempo esteve ele associado. Não um Gramsci apartado da Revolução dos bolcheviques, mas um autor que identifica o “nível mais avançado conseguido pelo marxismo” justamente no processo “revolucionário russo” (Antonio Gramsci, do liberalismo ao comunismo crítico. Trad. Teresa Ottoni. Rio de Janeiro: Revan, 2006, p. 273-4). Como se vê, nada aqui a lembrar a leitura que Norberto Bobbio apresentou de Gramsci no conhecido Congresso internacional de estudos gramscianos, realizado em Cagliari no ano de 1967: tão somente um teórico das superestruturas do Ocidente, basicamente um intérprete dos organismos da sociedade civil, lidos sem qualquer relação com a história das lutas de classes.

Dizer isto não significa dizer que Gramsci não ofereça elementos para que se interprete o Ocidente. Recorde-se que os termos Oriente e Ocidente, Norte e Sul, não obstante referências que “correspondem a fatos reais”, são, em Gramsci, construções “histórico-culturais”, “superestruturas”, que afinal expressam “relações entre complexos de civilizações diversas”, e notadamente “o ponto de vista das classes cultas européias”, que “através da sua hegemonia mundial os fizeram aceitar por toda parte” (Q. 11, § 20, p. 1419-20). Vale dizer, estão em imbricada conexão no processo que põe em movimento a história dos homens. E eis quando a história intervém como parceira da geografia na leitura de forte acento hegeliano que nos oferece Losurdo de Gramsci e do materialismo histórico. Ou, ainda melhor, eis quando intervém a filosofia da história em sua dimensão geográfica, a rigor geopolítica, de uma geopolítica popular.

Trata-se de uma chave interpretativa que tem bem presente a categoria gramsciana de tradutibilidade, mas sem dissociá-la daquela de catarse, com a qual mantém relações necessárias. Estamos falando da “elaboração superior da estrutura em superestrutura”, processo a coincidir “com a cadeia de sínteses que resultam do desenvolvimento dialético” (Quaderni del Carcere. 10 II, § 10, p. 1248, p. 1244). Imprescindível aqui é igualmente a categoria hegeliana de Wirklichkeit, tal como Losurdo a apresenta em Hegel, Marx e a Tradição liberal (São Paulo: Unesp, 1998). Ela que remete à noção de realidade em sentido forte, estratégico, realidade em nada assemelhada à pura empiria tão característica de um Hipolit Hipolítitch, o folclórico professor de história e geografia pintado por Tchekhov, que “só falava aquilo que todos já sabiam” (O Professor de letras. O assassinato e outras histórias. Trad. R. Figueiredo. São Paulo: Cosac & Naify, 2002, p. 27). Embora a dimensão empírica da realidade não seja, em Hegel, um simples “não-ser”, é a Wirklichkeit que figura como o eixo central da filosofia hegeliana que chega até Marx e o marxismo. Muito presente nos Quaderni de Gramsci, até mesmo no tratamento dos termos geográficos antes citados (Q. 11, § 18, p. 1417; § 20, p. 1420), é ela que permite observar as tendências de fundo do processo histórico, ou seja, a relação entre o real e o racional, uma relação capaz de exprimir a realização cada vez maior da liberdade formal e real, termos não antitéticos em Hegel. E eis como Losurdo nos remete ao Engels que faz notar a filiação de Hegel às bandeiras da Revolução Francesa: “A monarquia francesa tinha se tornado em 1789 tão irreal, ou seja, tão privada de toda necessidade, tão irracional, que teve de ser destruída pela grande revolução, da qual Hegel fala sempre com o maior entusiasmo. Neste caso, portanto, a monarquia era o irreal e a revolução o real” (Hegel, Marx e a tradição liberal. Op. cit., p.61). O real que ganha expressão no Estado como comunidade ética, o Estado não ocupado apenas com os direitos de propriedade, mas com a sustentação do bem-estar dos indivíduos, do direito ao trabalho, do direito à vida, vale dizer, com a liberdade não apenas formal, mas objetiva, real.

E aqui está a chave que Losurdo nos oferece para ler a Revolução de 1917, ela mesma um momento progressivo da história que parte dos êxitos do processo lançado em 1789. Aliás, entende-se agora o sentido da monumental pesquisa de Losurdo sobre Nietzsche. O filósofo de Röcken (Saxônia) é um crítico acerbo do “ciclo revolucionário que vai de 1789 a 1848 e dos movimentos protossocialistas até a Comuna de Paris”, bem como do aparato teórico saído desta tradição: a categoria de “homem como tal”, de “progresso histórico”, de “égalité” (Nietzsche e a crítica da modernidade, São Paulo: Ideias e Letras, 2016, p. 49). Em especial, para Nietzsche, a tese da “racionalidade do real” não representaria outra coisa senão o “culto à maioria numérica que se expressa na democracia e na crescente presença e pressão das massas e dos servos” sobre a vida social e política, eles que assim estariam gozando de um “inaceitável reconhecimento no plano da filosofia da história, graças a uma visão que exclui antecipadamente qualquer pretensão de retroceder aquém dos resultados do mundo moderno” (passim, p. 27-28).

De fato, é atualizando, ou ainda melhor, traduzindo as muitas bandeiras que fundam a modernidade no ciclo que se abre em 1789, que a Revolução de 1917 encontra solução (real e racional) para a grande desordem a que estava entregue a Rússia czarista. E isto não apenas no que diz respeito ao catálogo dos direitos do homem antes mencionado, mas também e principalmente àquele que constitui o ponto alto desses direitos, a saber, o direito à paz: “a Revolução de Outubro é a primeira revolução que surgiu nos traços da luta contra a guerra, empunhando novamente o ideal da paz perpétua oriundo da Revolução Francesa” (A revolução, a nação e a paz, Estudos Avançados, no 62, jan.-abr., 2008, p. 16).

É claramente a dimensão geopolítica da filosofia da história que é muito valorizada em Losurdo. Mas cabe atentar para o fato de que se trata de uma geopolítica de conotação totalmente diferente daquela de extração clássica fornecida pelo geógrafo Rudolf Kjellén. Ela remete antes às elaborações que partem dos movimentos de libertação nacional de matriz socialista, tal como se desenvolvera depois da II Guerra em Partidos Comunistas como o da URSS, da China, do Vietnã e ainda da Itália (Abdel-Malek, A. Geopolitics and national movements: an essay on the dialects of imperialism. Antipode, 9 (1), 1977), o último visivelmente na esteira das reflexões de Gramsci, que nos Quaderni sempre buscou associar ao “problema complexo das relações das forças internas”, as “relações de forças internacionais” e a “posição geopolítica do país dado” (Q. 10, § 61, p. 1360). Assim é que, enquanto para Hannah Arendt, a grande expoente da filosofia liberal do século XX, “não são nunca os oprimidos que abrem caminho” (La lotta di classe. Una storia politica e filosofica, Roma-Bari: Laterza, 2013, p. 281), em Losurdo, tanto quanto em Gramsci, a emancipação parte da condição subalterna. Um processo que é social, mas também espacial, rigorosamente geográfico. É o que se pode concluir observando a tese de Losurdo segundo a qual a dialética do senhor e do escravo de Hegel, apresentada no capítulo 4 da Fenomenologia do Espírito, é antes de tudo uma dialética que se faz consciência da luta anticolonialista e antiescravista dos jacobinos negros do Haiti (Hegel e la liberta dei moderni. Vol. 2, Napoli: La scuola di Pitagora, 2011, p. 695). A rigor, já ela uma dimensão da luta pela paz.

E aí está a crítica de Losurdo aos intérpretes do liberalismo burguês. Locke, o principal deles, sempre referido como acionista das companhias de colonização, mas não menos que Nietzsche, o filósofo que “justifica (ou celebra) a ‘barbárie dos meios’ empregada pelos conquistadores ‘no Congo ou onde for’” (Nietzsche e a crítica da modernidade. Op. cit., p. 78). Curiosamente, é também esta, embora sem as tintas reacionárias do liberalismo, a falha do marxismo ocidental. É o problema da dominação colonialista, ou neocolonialista, com as tensões geopolíticas a elas inerentes, que figura nos autores desta tradição como a grande ausente, segundo resumiu em sua última obra (Il marxismo occidentale. Come nacque, come morì, come può rinascere. Bari-Roma: Laterza, 2017). Tensões geopolíticas estas que incluem a própria II Guerra Mundial, que Losurdo lê afastando-se da convencional periodização cara à historiografia ocidental. Na esteira das leituras feitas pelas direções dos PCs que resistiam à ignominiosa agressão, este é um episódio que não tem início apenas em setembro de 1939, quando o Reich invade a Polônia, mas já no início dos anos 30, quando a agressão do Japão se lançava contra a Ásia, passando depois pela intervenção ítalo-alemã na Espanha em 1936 e o desmembramento da Tchecoslováquia no ano de 1938 (Il marxismo occidentale. Op. cit., p. 51). Na verdade, uma vez que a I Guerra não se encerrou com um tratado de paz, o que significa dizer que todos os chefes de Estado tinham consciência da iminência do recrudescimento dos conflitos, este é um ciclo que deve ser concebido já a partir da segunda década do século XX (Stalin. História crítica de uma lenda negra. Rio de Janeiro: Revan, 2010).

E o que dizer do processo histórico que se seguiu à vitória sobre o nazifascismo? Se a geopolítica de matriz popular que parte da vitória da URSS sobre o Reich dá sentido aos movimentos de libertação nacional que irão culminar nos processos de descolonização, é também ela que é mobilizada para explicar o ciclo de emancipação e reconhecimento que se abre nas democracias ocidentais do pós-II Guerra. E eis novamente uma oposição ao liberalismo do nosso tempo e ao marxismo ocidental. Se Hannah Arendt deposita todas as esperanças na tecnologia como forma de alcançar a liberdade, ou Habermas prefere falar em pacificação social no contexto do welfare state, Losurdo põe no centro deste debate a luta de classes, insistindo, inclusive, em temas como o do racismo e da emancipação da mulher, no papel positivo que aqui cumprem a Revolução de 1917 e as lutas anticolonialistas que partem do Sul (La lotta di classe. Op. cit.). E não seria demais dizer que também aqui é um Gramsci de extração hegeliana que comparece como a principal inspiração. Que se recorde a crítica de Gramsci a Croce, que buscava “escrever (conceber) uma história da Europa no século XIX sem tratar organicamente da revolução francesa e das guerras napoleônicas” (Q. 10 I, § 9, p. 1227). Mas também, se lembramos que este foi um processo que nem sempre resultou no socialismo, na tese segundo a qual no “movimento histórico não se volta nunca atrás e não existem restaurações ‘in toto’” (Q. 13, § 26, p. 1619).

Decerto, para Losurdo, este não é um movimento já acabado e sem contradições. A despeito da progressividade do movimento histórico, também presente, por exemplo, na rejeição em identificar a União Européia como um Estado imperialista (Esiste oggi un imperialismo europeu? L’Ernesto Rivista, settembre, 2004), trata-se de um processo ainda não concluído, quando mais não seja porque tem diante de si a luta contra uma filosofia necessitarista da história, a mesma contra a qual ao seu tempo ergueu-se a revolução jacobina e depois o materialismo histórico (Entrevista a S. G. Azzarà in:L’humanité commune: dialectique hégélienne, critique duliberalisme et reconstruction du matérialisme historique chez Domenico Losurdo. Paris: Delga, 2012). Vale dizer, a filosofia sustentada pelo Império planetário dos EUA, que se apresenta com as tintas do darwinismo social para proclamar-se como a “nação eleita por Deus” para ser “o modelo para o mundo” (Revolução de Outubro e Democracia no mundo, trad. M. A. da Silva, in: 100 anos da Revolução Russa. Legados e lições. São Paulo: F. M. Grabois e Anita Garibaldi, 2017). Uma cantilena que tem origem no Destino Manifesto, registro ideológico para a conquista do Oeste e o aniquilamento dos peles vermelhas, mas que segue hodiernamente seja com os Clintons, seja com Obama. Mas movimento também não concluído porque o processo do desenvolvimento histórico (e eis novamente as influências de Gramsci) é complexo e sujeito a tempos longos, o que equivale dizer que as lutas por emancipação devem, contra toda impaciência e dogmatismo, concebê-lo como um difícil e tortuoso processo de aprendizagem.

E assim é que se põe diante de nós a experiência chinesa, expressão hodierna de uma geopolítica popular, uma geopolítica anticolonialista e de libertação nacional, que tanto interessou a Losurdo. Um experimento que tantas vezes demarcou como exemplo de uma construção socialista que tem sabido se afastar de uma visão messiânica para assim se posicionar diante da própria história (a Revolução Cultural, o Grande Salto à Frente) e da história do movimento comunista internacional (a dificuldade de organizar um Estado socialista de direito na ex-URSS) com as exigências da crítica e da legitimidade. Um processo capaz de conceber o desenvolvimento histórico em chave rigorosamente dialética, ou seja, como uma Afhebung, esta categoria central da filosofia hegeliana que convida a pensar a negação e a derrubada da ordem existente como simultânea herança dos pontos mais altos do ordenamento político e social negado e derrubado (Il marxismo occidentale. Op. cit., p. 28).

Um pensamento assim tão rigoroso, crítico e ao mesmo tempo de elevada sofisticação, irá sem dúvida fazer enorme falta na luta “pela unificação cultural do gênero humano” a qual nos convidava Gramsci (Q. 11, § 17, p. 1416). Mas com o dissemos no início deste texto, esta falta, e também a saudade que deixa nos amigos, companheiros, alunos e leitores, poderá, pelo menos em parte, ser preenchida com o dedicado estudo da fértil e amplíssima obra de elaboração histórico-filosófica que este gigante da tradição materialista histórica nos deixou.
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Fonte: FMG

Questiones de los Hermanos

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O presidente da Argentina, Javier Milei, deve vetar a reforma previdenciária aprovada pelo Senado nesta quinta (22), uma medida que provavelmente aprofundará o confronto entre o líder de extrema direita e o Congresso, majoritariamente controlado pela oposição. “Toda vez que os degenerados procuradores políticos quiserem romper o equilíbrio fiscal, vou vetar tudo, não dou a mínima”, disse o presidente sobre o projeto que tramitava no Congresso.

O Senado aprovou um aumento nos gastos com pensões, alinhando-os à inflação de três dígitos que assola o país. A votação, com um placar de 61 a 8, demonstrou a força da oposição, que busca desafiar o rígido programa de austeridade do presidente. Apenas um dos votos contrários veio de fora do partido de Milei, evidenciando a dificuldade do presidente em negociar com partidos centristas.

Milei, que assumiu a presidência em dezembro com a promessa de adotar medidas rigorosas de austeridade para combater a inflação galopante e a pobreza crescente, não hesitou em manifestar sua oposição ao projeto de lei. Em declaração publicada na plataforma X, o gabinete de Milei afirmou que a proposta tem como único objetivo “destruir o programa econômico do governo”, acrescentando que a medida exigiria um aumento de 1,2% no Produto Interno Bruto (PIB) para ser implementada.

“O presidente prometeu aos argentinos que manteria um superávit fiscal a todo custo, e ele o fará”, declarou o gabinete, reafirmando o compromisso de Milei com um “déficit zero” e com a rejeição de qualquer legislação que possa comprometer as finanças públicas.

A derrota no Senado reforçou a fragilidade política de Milei, que tem enfrentado uma dura batalha para implementar sua agenda no Congresso. Com menos de 15% de controle nas duas casas legislativas — apenas sete das 72 cadeiras no Senado pertencem ao seu partido — o presidente tem se apoiado amplamente em decretos executivos para avançar suas políticas, muitas vezes sem o apoio necessário do Legislativo.

Na semana passada, o Congresso anulou um decreto presidencial que teria multiplicado o orçamento de inteligência, sob o argumento de que esses recursos poderiam ser mais bem utilizados em necessidades sociais urgentes. A decisão veio como um revés significativo para Milei, que se vê cada vez mais limitado em sua capacidade de governar com o Legislativo contra ele.

Após seis meses de governo, Milei havia conseguido garantir sua primeira vitória legislativa em junho, quando seu projeto de reforma econômica foi aprovado por uma margem estreita no Senado, apesar dos confrontos entre manifestantes e a polícia. No entanto, a recente aprovação da reforma previdenciária, que prevê um aumento de mais de 8% nos benefícios de aposentadoria ainda neste ano, reacendeu preocupações entre investidores sobre a viabilidade de sua agenda radical.

Nos primeiros seis meses de mandato, Milei conseguiu atingir um superávit fiscal raro, cortando gastos públicos, interrompendo projetos de obras e reduzindo transferências de receita para as províncias. Entretanto, as políticas de austeridade também agravaram a recessão econômica, elevaram a pobreza para 55% e fizeram a inflação anual disparar para 260%.

Marcelo J Garcia, diretor para as Américas da Horizon Engage, uma consultoria de risco político sediada em Nova York, comentou que a reforma previdenciária é particularmente sensível, pois impacta diretamente o núcleo do programa fiscal de Milei. “O que mais preocupa os investidores é que essa onda negativa é resultado do lado linha-dura e mais confrontacional do círculo interno de Milei assumindo a liderança”, afirmou.

A possibilidade de veto por Milei à reforma previdenciária e a resposta do Congresso — que poderia derrubar o veto com uma maioria de dois terços — irão definir os próximos capítulos deste embate, com potencial para ampliar ainda mais as tensões políticas e econômicas na Argentina.

Para anular o veto, ambas as câmaras devem reunir uma maioria absoluta de dois terços dos votos dos membros presentes. Se for alcançado, o projeto é promulgado e o veto presidencial é derrubado, obrigando o Executivo a promulgar a lei. Os tribunais podem rever a constitucionalidade de um veto se for argumentado que este afeta direitos fundamentais ou viola tratados internacionais.
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Fonte: Portal Vermelho