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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Nada de preces para Showtrick - Cap. 5

- Está feito e acho que não deixamos rastros.
- Me sinto triste, apesar das bobeiras, ele era um cara legal. Não entendo por que deu aquela vacilada.
- Ele andava ligado demais à igreja dele, pode ter influenciado.
- E daí, você é um cara de igreja, você é um “obreiro” dessa porra dessa tua igreja evangélica!
- Calma, calma, em nossa igreja separamos as coisas da terra e as do espírito...
- Porra, o que eu sei é que o cara saiu desta terra e agora no máximo é um espírito! E o espírito dele não te incomoda? E a família do cara que apagamos?
- Eu sei, eu sei, mas afinal de contas foi para um bem maior, não é? Se o cara desse com a língua nos dentes pra polícia, pra Receita, ou até pra gente da oposição, aí a coisa ia ficar feia pra nós, pra todos, pra nossos próprios filiados que precisam de uma administração equilibrada!  Vamos rezar pela alma de nosso bom vacilão John Dick!

Diante desse argumento racionalizador, o presidente relaxou um pouco.  Sentiu menos a perda de seu principal tesoureiro, ao lado de quem já tinha feito tantas lutas na Clínica Geral da universidade dez anos antes.  Sua disposição voltou, o negócio era ir adiante. O morto tinha que virar passado. Enterrado e abolido da memória.  Até a Polícia já estava dando o crime como de difícil solução e ninguém havia chegado na USCU para maiores investigações, além de uma visita para perguntas protocolares.  Tudo ia bem e tudo iria bem.

Em breve a transação imobiliária seria anunciada para a multidão ignara dos filiados, num grande almoço pago pelos próprios, mas com aparência de “boca livre”, é claro. O presidente ligou para Marla pedindo uma matéria especial para o jornal da USCU  anunciando o negócio concluído. Depois, emborcou mais uma dose de JB, murmurando frases obscenas e encomendando alguém do serviço de acompanhantes de Daytona Beach.


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