-->

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Nada de preces para Showtrick - cap. 1


- Nelly, temos que vender de qualquer jeito esse imóvel em Alafaya.

- Andei tendo umas idéias, Salvatore... acho que podemos vender e ainda nos darmos bem.

William Salvatore, coordenador-chefe da União de Servidores da Corners University (USCU) em Orlando, Flórida, espichou o pescoço para ouvir melhor seu colega vice-coordenador. Afinal, Nelly Showtrick era escolado em transações imobiliárias, já tinha vendido lotes de solo esturricado no deserto de Nevada para otários caipiras de Minnesota.

Alafaya era uma cidadezinha a meia hora de carro a leste de Orlando, onde a União de Servidores possuía um terreno sem uso. Aliás, comprado por Nelly havia uns quatro anos em mais uma de suas especiais negociações com o caixa semifalido da USCU. Desde então os filiados da União cobravam que era preciso dar uma utilidade para o tal imóvel ou vende-lo por bom preço. A cidade de Alafaya tinha recebido algumas benfeitorias do governo Bush Jr. e aquele terreno devia estar valendo bem mais do que na época da negociata conduzida por Nelly.

- Conheço um sujeito sangue-bom em Alafaya, prosseguiu Nelly, que pode nos ajudar servindo de comprador desse terreno, cara. Ele é patrulheiro rodoviário, ganha pouco, mas podemos dar um jeito de providenciar uma grana a mais pra ele ser um tipo de “laranja” no negócio.

- Como? Salvatore ficou ainda mais curioso sobre a estratégia.

- No Box Bank de Alafaya tem outro conhecido meu, funcionário de alto escalão, que responde pela análise de financiamentos. Acho que ele pode também nos dar uma ajudinha, piscou Nelly esticando a boca num sorriso maroto.

- Hum, e uma ajudinha ao nosso alaranjado patrulheiro... Acho que começo a entender. Como é o nome dele?

- Niels Rifkin, ele e sua esposa, um casal adorável. Niels, o nome é assim por uma homenagem do pai dele ao físico Niels Bohr, aquele da teoria do modelo do átomo.

- Ahn, não sou muito versado em Física, desconversou Salvatore. E os demais detalhes do plano?

Nelly empertigou-se na poltrona e começou a expor sua ideia.

- Combinamos com Niels e esposa para se apresentarem como compradores do terreno da USCU. Falamos com o funcionário do Box Bank de Alafaya para ele liberar um financiamento de 200 mil dólares para o casal mesmo sem comprovação de renda do Niels. Mas pra sair o financiamento será preciso uma avaliação do valor de mercado, que temos já para dois componentes do terreno total, só esses dois estão valendo os duzentos mil do financiamento. E Niels ainda nos antecipará 50 mil dólares em cash de sinal num “deal” de compra e venda... 

- Mas esses 250 mil só quitam dois componentes do imóvel... e os outros dez lotes?

- Os outros dez não tem o mesmo valor, compramos por 16 mil dólares anos atrás, mas agora estão valendo bem mais, com certeza.

- Ah! - Salvatore estalou os dedos - saquei o pulo do gato! Contabilizamos 250 mil como entrada de receita no caixa da USCU como o valor de venda total do terreno, mas os outros dez componentes do imóvel a gente pode deixar numa “reserva especial” nossa, escondidinha, pra combinar futuras vendas em parceria com o companheiro Niels...

- Precisamente, Salvatore! Dá aqui um “hi-five”! Pra que é que serve mesmo a nossa inteligência? Pra ajudar os homens de bem!

- Os homens de bem e de bens!

- Só que ainda tem alguns detalhes a resolver antes de botarmos a mão na massa pra valer...

[CONTINUA...]

Um comentário:

Guaracira disse...

Só que Nelly e Salvatore não contavam com a astúcia e audácia de um certo filiado. ..