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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A bomba semiótica do Fusca em chamas

O bordão “Não tem arroz, não tem feijão, mas assim mesmo o Brasil é campeão” em 1962 e o atual “Não Vai Ter Copa” demonstram que as bombas semióticas são a principal arma de uma guerra psicológica. Se no passado a ação era feita através de cinedocumentários exibidos para as classes pobres por meio de projetores montados em chassis de caminhões abertos, agora é por meio de produção de eventos com alto rendimento midiático, causando impacto mesmo em manifestações com baixo número de "manifestantes". O caso mais recente foram as dramáticas imagens do fusca incendiando e uma família humilde sendo salva das chamas, em uma rara combinação do oportunismo, sincronicidades e significados ambíguos, elementos que são o pavio da detonação de uma típica bomba semiótica.

Por Wilson Ferreira, no blog Cinegnose

Em 1990 os telejornais de todo o planeta mostraram chocantes imagens do que ficou conhecido como “o ossário de Timisoara”, na Romênia: a descoberta de um ossário de quatro mil vítimas que, afirmavam os repórteres, eram vítimas da ditadura de Ceausescu. E outros milhares de corpos teriam sido dissolvidos em ácido. As imagens atrozes dos cadáveres alinhados sobre um lençol branco marcaram para sempre a derrubada do ditador na chamada Revolução Romena de 1989. Mais tarde descobriu-se que tudo tinha sido um cenário montado para cinegrafistas e fotógrafos: na verdade eram corpos de pobres desenterrados de um cemitério local e cedidos à TV.


É irônico que em uma sociedade tão cética como a nossa onde a máxima “eu só acredito vendo”, que esvaziou simbolicamente as mitologias e religiões ou até a própria existência de Deus, o olhar e as imagens sejam as principais fontes de enganos e manipulações.

Partindo desses dois pressupostos para reflexão, vamos começar por uma insólita experiência pela qual passei ao assistir ao Jornal Nacional. Estava eu em mais uma das incansáveis e perigosas missões de buscar bombas semióticas (são perigosas pelo risco de expor nossos sentidos a elas) nos telejornais. A pauta eram as manifestações contra a Copa que ocorreram em várias localidades do país. Como a matéria apresentava imagens já repetitivas, aproveitei e levantei-me para buscar algo para beliscar na cozinha. Na volta o susto: deparo-me com imagens de uma praça à noite em estado de guerra declarada. Incêndios por todos os lados, escombros servindo de barricada e uma multidão enfrentando pesada artilharia de repressão de multidões. Depois de alguns segundos, claro, entendi que as imagens se referiam aos protestos na Ucrânia contra o governo.

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Fonte e ilustrações: Blog Cinegnose em 28/01/2014

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