-->

quinta-feira, 29 de maio de 2025

Cócegas: neurocientistas ainda não sabem qual o mecanismo neural por trás delas


Poucas coisas são mais adoráveis do que ver um bebê dando risadinhas ao experimentar cócegas feitas pelos pais. Mas mesmo que a gargalesis - o termo técnico que descreve o tipo mais forte e proposital de cócegas que causa gargalhadas e movimentos involuntários - seja uma sensação que a maioria das pessoas experimenta bem cedo na vida, ela continua como um tipo de mistério científico. Por que, por exemplo, algumas partes do corpo são mais sensíveis a cócegas do que outras? Por que algumas pessoas simplesmente não sentem cócegas ao serem estimuladas, enquanto outras até dão gargalhadas altas por não conseguirem se conter? E por que você não consegue produzir cócegas em si mesmo?

ScienceAdviser - 28/05/2025

Em uma recente revisão para a revista "Science Advances", a neurocientista Konstantina Kilteni argumenta que a gargalesis é "um emocionante enigma científico com implicações de longo alcance para a Neurociência desenvolvimental, sensório-motora, social, afetiva, clínica e evolucionista". Ao longo de toda a história humana, explica ela, tanto filósofos como cientistas - incluindo Sócrates e Charles Darwin - tem ponderado sobre a natureza e o propósito das cócegas. Porém hoje o assunto recebe relativamente ainda pouca atenção dos cientistas. Está na hora, escreve Kilteni, de os pesquisadores começarem a levar mais a sério este "comportamento trivial e no entanto enigmático".

A gargalesis deve ser de particular interesse para neurocientistas desenvolvimentais, argumenta Kilteni, porque é um dos mais precoces gatilhos para o riso na vida e pode desempenhar um papel-chave nos laços entre pais e crianças. Compreender os mecanismos subjacentes à cócega também poderia fornecer insights sobre certas condições de desenvolvimento: pesquisas também tem mostrado, por exemplo, que pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista) percebem toques como mais propensos a induzir cócegas, enquanto indivíduos com esquizofrenia tendem a experimentar toques em si próprios de modo similar a se fossem feitos por outras pessoas - ou seja, num certo sentido, podem causar cócegas em si mesmos. Além dos seres humanos, muitas diferentes espécies de primatas também respondem quando recebem toques geradores de cócegas, o que significa que pesquisas sobre comportamento também teriam implicações para o campo da biologia evolucionista e comparativa. Experimentos em ratos, por outro lado, revelaram uma estrutura cerebral responsável por vocalizações deles análogas a gargalhadas - potencialmente jogando luz sobre os mecanismos neurais que ocorrem em seres humanos.

Quando se trata de estudar a gargalesis em laboratório, entretanto, os pesquisadores defrontam-se com uma variedade de desafios. Segundo Kilteni relata a Meagan Cantwell em um podcast da revista "Science", "os cientistas referem-se a coisas diferentes com relação à palavra 'cócegas', comumente isso conduzindo a resultados aparentemente contraditórios. Há uma grande diferença entre levemente tocar você com uma pluma, que tende a produzir mais uma sensação do tipo coceira, e outra pessoa tocando você com força nas axilas ou na barriga, o que tipicamente causa convulsões e gargalhadas. Para diferenciar os dois fenômenos, os pesquisadores às vezes usam "knismesis" ou "cócega superficial" para descrever o primeiro caso, e gargalesis ou "cócegas profundas" para o segundo, apesar de estes dois termos não serem consistentemente usados na literatura científica.

Tem sido também difícil comparar estudos ou replicar achados de pesquisa, escreve Kilteni, porque "não há métodos padronizados para experimentalmente provocar sensações de cócegas em laboratório". Para abordar este problema, o laboratório dela própria emprega equipamentos robotizados para causar cócegas nos pés dos participantes do estudo - assim garantindo que a sensação seja padronizada nos diferentes experimentos - enquanto registra métricas físicas como frequência cardíaca, sudorese, respiração e reações de gargalhar e gritar. "Incorporando este método de causar cócegas em um experimento apropriado, podemos fazer a pesquisa sobre elas seriamente", diz Kilteni. "Não somente seremos capazes de verdadeiramente compreender as cócegas, mas também nossos cérebros".

Nenhum comentário: