Usando o espaço do site de internet bancado pelos recursos de toda a categoria, a Diretoria do Sinditest publicou uma áspera resposta ao boletim distribuído pelo servidor da base "Paraná" (a "Folha do Paraná"). O boletim também tece duras críticas à Diretoria, mas não se pode dizer que elas careçam de conexão com a realidade.
Em sua "Folha", Paraná, membro do PT há mais de duas décadas, expõe a presença da orientação política dos partidos PSOL e PSTU sobre a conduta do Sinditest, através de alguns militantes partidários que foram eleitos diretores. Ora, nada demais nisso, nem se critica que qualquer servidor, ativista sindical ou não, seja filiado de partido político e procure, pelo debate, convencer os colegas para suas posições partidárias.
A própria resposta pesada da Diretoria sindical contra Paraná reconhece ter, em sua condução, a presença do PSOL e PSTU, ao publicar que a "maior parte dos diretores não tem filiação partidária, são ativistas independentes. A direção é composta por uma frente ampla de correntes sindicais. E apenas quatro dos vinte e cinco diretores são militantes do PSOL ou do PSTU." A Diretoria só omite que esses filiados partidários ocupam postos-chave na Diretoria: Carla Cobalchini e Bernardo Pilotto, do PSOL, são respectivamente presidente e secretário-geral; e Márcio Palmares, do PSTU, é vice-presidente.
Uma das críticas que se percebe na "Folha do Paraná" não é contra a filiação partidária de quem quer que seja, nem contra partido A ou B, mas sim ao aparelhamento, pelo partido, de uma entidade de massa, que é de todos os associados (sendo os servidores da base na ampla maioria desvinculados de partidos e sendo outros filiados a uma grande variedade de agremiações). O que é aparelhamento? É a assimilação da entidade de massa às atitudes e posições partidárias que não passaram pelo crivo de uma assembleia ou de instâncias democráticas da FASUBRA; é o uso político e material de uma entidade ou movimento a serviço sobretudo de um interesse partidário em vez de o ser da maioria dos associados dessa entidade.
Foi isso que se denunciou, por exemplo, no caso do ciclo de debates "Estratégias e Caminhos", patrocinado ao custo de 11 mil reais pela gestão "Mudando o rumo..." em 8 e 9/03/2012. Ótima iniciativa, temas importantes, mas todos, senão a grande maioria, dos palestrantes convidados pertencem aos partidos PSOL e PSTU, ou estão no campo do discurso político desses dois partidos. As contribuições desses palestrantes são importantes, claro, mas seu discurso é praticamente único. Onde fica a pluralidade, o contraditório, que enriquecem o debate? As opiniões políticas e sindicais existentes na base inteira do Sinditest resumem-se às desses dois partidos, que se notabilizam por fazer, ao lado de PSDB e DEM, oposição sistemática aos governos antes de Lula e agora de Dilma?
Lembremo-nos de que, na última eleição sindical (Nov/2011), a diretoria presidida pela colega Carla foi eleita por 35% do eleitorado. A chapa do Dr. Néris obteve 32% e a chapa encabeçada pelo Paraná obteve 27% da preferência dos servidores. Logo, a atual diretoria não se elegeu com maioria absoluta, não pode arrogar para si o direito de sempre representar a "opinião majoritária" ou deter a prerrogativa de ser a única e inconteste voz válida da vontade "dos trabalhadores". Mas é isso que boa parte dos diretores do Sinditest parece pensar de si mesmos.
Parece que acham deter uma espécie de dom divinal de somente eles serem os legítimos intérpretes da vontade "dos trabalhadores". Agindo na categoria de "profeta bíblico", somente a eles cabe dizer o que é o bem e o mal, o que é a favor e contra "os trabalhadores", quem pode e quem não pode falar em eventos como aquele ciclo de debates de março...
Todos da base pagam, mas só os profetas podem botar sua voz no alto-falante que tem o som mais alto. E se algum servidor da base publica um boletim impresso com os recursos que arranjou por conta própria, toma pau sem dó, acusado de difamador. Antes tínhamos o Messias em pessoa, agora temos "a palavra revelada" de um punhado de profetas.