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segunda-feira, 18 de maio de 2020

Hidroxicloroquina: resultados de estudo em um grande hospital dos EUA

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Nelson Teich foi mais um ministro da saúde expelido pelo despresidente Bolsonaro, por se recusar a atender à vontade dele de acabar com o isolamento social e de liberar amplamente o uso de cloroquina/hidroxicloroquina para tratar a infecção do SARS-CoV-2.

Na edição de 7 de maio da renomada revista médica New England Journal of Medicine foi publicado artigo relatando pesquisa sobre eficácia da hidroxicloroquina no tratamento da COVID-19 em um grande hospital de Nova York.  O estudo foi realizado em função de que essa droga vem sendo amplamente administrada a pacientes de COVID-19 mas sem evidência robusta que sustente esse uso disseminado.  O texto integral do artigo (em inglês) pode ser visto aqui.

Como método no estudo, foi examinada a associação entre uso de hidroxicloroquina e o evento de precisar ser feita intubação e/ou de ocorrer óbito.  Os pesquisadores compararam estatisticamente os desfechos clínicos em pacientes que usaram essa droga com os desfechos dos que não a tomaram. 

O estudo acompanhou 1.376 pacientes hospitalizados (cujo tempo médio de internação foi de 22,5 dias), que receberam 400 mg de hidroxicloroquina por dia, administrada principalmente aos casos mais graves.  Na análise principal final, não houve associação significativa entre o uso de hidroxicloroquina e os eventos de intubação ou de morte, isto é, a droga não influiu sobre esses desfechos. 

Em outras palavras, a administração de hidroxicloroquina não foi associada nem com um risco grandemente diminuído ou risco grandemente aumentado de ocorrência de eventos como intubação e/ou morte. Desse modo, a orientação clínica naquele grande centro médico novaiorquino foi atualizada no sentido de remover a sugestão de que pacientes de COVID-19 sejam tratados com hidroxicloroquina.  

É, porém, necessário realizar mais estudos clínicos controlados randômicos com hidroxicloroquina em pacientes de COVID-19. Ressalvam os pesquisadores que os resultados de seu estudo não sustentam o uso de hidroxicloroquina na atualidade, a menos que outros estudos clínicos venham comprovar sua eficácia.
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Fonte: New England Journal of Medicine, ed. de 07/05/2020
DOI: 10.1056/NEJMoa2012410
Autores: Geleris, J. et al. (2020)

Trabalho remoto: Funcionalismo deve levar questão ao Judiciário

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Diante da insistência de órgãos do governo federal pela retomada das atividades presenciais, neste momento de crescente número de óbitos pela COVID-19, representações do funcionalismo prometem uma reação, caso não ocorra um recuo nessas iniciativas. Depois de tecerem duras críticas à postura da Administração, servidores devem levar a discussão ao Judiciário. 

Em entrevista a O Estado de São Paulo na quinta-feira, 14/05, o presidente do Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), Rudinei Marques, afirmou que as entidades de classe “vão para o Judiciário levar os argumentos técnicos da Organização Mundial de Saúde e da Fiocruz”. 

Marques destacou, ainda, a dificuldade para desenvolver tratativas junto ao Executivo, haja vista a postura adotada pelo presidente da República em relação à pandemia e às restrições à circulação de pessoas. “O presidente está forçando o caráter simbólico do retorno. Ele quer dizer que está tudo normal e não tem motivo para não voltar a frequentar o trabalho, estádios, shoppings”, observou. 

Também em entrevista ao veículo, a advogada Larissa Benevides, do escritório Torreão Braz, que assessora o Fonacate, informou que a ação coletiva já está em produção. 

Vale destacar que a saída do ministro da Saúde, Nelson Teich, na última sexta-feira, 15, é mais um indício da prevalência do discurso político sobre o caráter técnico-científico no governo e, como reflexo, implicar em uma aceleração do retorno às atividades presenciais. 

O Sinal (Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central) segue defendendo enfaticamente a continuidade do trabalho remoto, de comprovada eficácia no enfrentamento à disseminação do coronavírus.
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domingo, 17 de maio de 2020

Proteger grandes primatas da COVID-19

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O texto a seguir é uma tradução livre de artigo interessante publicado na revista inglesa The Economist, em sua seção sobre Ciência & Tecnologia, que fala dos riscos que primatas correm de contrair o novo coronavírus (SARS-CoV-2).  Há um subtítulo que alude à dificuldade de gorilas em aceitar distanciamento social, caso fiquem infectados.  

De gorilas animais reais pode-se entender essa atitude, por se tratar de seres da Natureza muito sociabilizados, mas por óbvio sem o mesmo grau de evolução cerebral que se espera de pessoas.  Porém, de seres humanos que desrespeitam orientações científicas da OMS, de estudiosos e de pesquisadores, quanto à fundamental importância do distanciamento social - preferindo seguir cegamente o irracional despresidente, aceitando até tomar arriscadas cloroquinas sem eficácia comprovada -, permite-se pensar que sejam "gorilas descerebrados".

A seguir o artigo da Economist, edição de 16 de maio.

No final dos anos 90, depois que as tropas da Frente Patriótica de Ruanda (RPF - Rwandan Patriotic Front) tinham atravessado desde Uganda até as montanhas Virunga em sua terra natal, eles não eram somente os formidáveis moradores daquele trecho vulcânico de densas matas. As Virunga são também o lar de gorilas das montanhas. Os soldados são notoriamente rápidos no gatilho quando se trata de vida selvagem, mas Paul Kagame, líder da RPF, ordenou a seus homens que não matassem macacos. “Eles serão valiosos um dia”, disse. 

Ele estava certo. Por volta de 2017, com o Sr. Kagame já instalado no cargo de presidente de Ruanda, a indústria do turismo de vida selvagem no país, na qual a observação de gorilas no lado ruandense das Virungas responde por 90%, faturou 438 milhões de dólares por ano. Mas, agora, os gorilas do mundo, e também seus primos de envergadura, como chimpanzés, macacos bonobos e orangotangos, defrontam-se com outra ameaça vinda de seus vizinhos humanos: a COVID-19. 

Primatas de grande porte tem 98% de seu DNA em comum com os seres humanos, e são vulneráveis a muitas das mesmas doenças. Até agora, não se reportaram casos de primatas selvagens adoecendo com o novo coronavírus. Na China, por exemplo, macacos Rhesus foram deliberadamente, e com sucesso, infectados, como parte dos testes vacinais. Além disso, a pesquisa feita por Amanda Melin, da Universidade de Calgary, no Canadá, junto com colegas, sugere que muitos outros tipos de primata estão sob risco. O vírus infecta uma pessoa acoplando-se ao receptor ECA-2, uma proteína na superfície externa da membrana de algumas células – particularmente aquelas das vias aéreas nos pulmões. A versão primata do receptor ECA-2, descobriu a Dra. Melin, é idêntica à do tipo humano, logo, macacos provavelmente seriam especialmente suscetíveis a contrair o SARS-CoV-2. 

Os conservacionistas estão preocupados. “O que irrita na COVID-19 é seu ineditismo.”, assinala Richard Wrangham, um especialista em chimpanzés da Universidade de Harvard. Porém, estudiosos de primatas como o Dr. Wrangham já estão familiarizados com os danos causados por doenças de origem humana. Embora os esforços de conservação tenham protegido muitos macacos da perda de seus habitats e da caça ilegal, a barganha Faustiana(*) realizada para se conseguir isso, diz Peter Walsh, um preservacionista de primatas da Universidade de Cambridge, é que eles estão agora expostos a vírus potencialmente mortais. 

O Dr. Walsh e um grupo de colegas da Universidade Thomas Jefferson, na Filadélfia, e da Universidade da Louisiana, em Lafayette, estimam que o vírus Ebola sozinho é responsável pelas mortes de um terço dos gorilas de vida selvagem no mundo, ao longo das últimas três décadas. Os vírus respiratórios humanos são a principal causa de morte entre os chimpanzés do Parque Nacional Gombe Stream, na Tanzânia, e do Parque Nacional Kibale, em Uganda. Tony Goldberg, da Universidade de Wisconsin-Madison, estava “intelectualmente preparado, mas não emocionalmente” para a devastação causada em 2013 por um surto do rinovírus C em Kibale, que matou 9% de um grupo de chimpanzés. Um surto de COVID-19 seria “mais um problema que os macacos não merecem enfrentar.” 

Jane Goodall, primatologista pioneira que iniciou suas pesquisas com chimpanzés em Gombe há 60 anos, também está preocupada. Na Tanzânia não se fez um completo lockdown antiCOVID-19, de modo que os habitantes das vilas em torno do parque podem ainda disseminar a doença entre os chimpanzés. No Centro de Reabilitação de Chimpanzés Tchimpounga, no Congo-Brazzaville, onde o instituto de pesquisas de Jane ainda opera, exames de saúde são obrigatórios tanto para pessoas como para os primatas. 

O fechamento de áreas de conservação por causa da pandemia coloca um outro problema para os primatas. Cerca de 40% do rendimento do Parque Nacional de Virunga desapareceu da noite para o dia, informa Emmanuel de Merode, seu diretor. “Isso vai apresentar grandes desafios para assegurar que os esforços de conservação prossigam”, acrescenta ele. O Dr. Walsh teme que, se as economias locais são prejudicadas pelo fechamento das áreas de turismo, as pessoas voltem a fazer caça ilegal. 

Algumas populações de macacos lidarão com a COVID-19 melhor do que outras. Embora os bandos de chimpanzés sejam geralmente comandados por um macho adulto dominante, em geral existe um bom número de subordinados pretendendo tomar-lhe o lugar, caso morra ou fique incapacitado. Os grupos de gorilas das montanhas, no entanto, são normalmente haréns com muitas fêmeas sob controle de um único macho adulto. Se ele morrer pela COVID-19, as fêmeas – provavelmente também contaminadas – iriam se dispersar e se juntar a outros grupos, espalhando ainda mais o vírus. 

O sr. De Merode diz que, se um gorila testar positivo para COVID-19, seu parque “teria que considerar uma intervenção veterinária para isolar e tratar esse indivíduo, mas estaríamos em território desconhecido”. A maioria dos primatologistas, contudo, pensa que isolar um macaco doente seria inviável. Em vez disso, lamenta o Dr. Wrangham, “teríamos que nos conformar e aguardar.” 
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(*)Barganha Faustiana, ou contrato Faustiano, ou Pacto com o Diabo, é uma barganha entre um humano e um demônio, na qual o último realiza os desejos de um indivíduo pela compensação de poder depois consumir sua alma. Uma alusão a uma antiga lenda alemã de Fausto e Mefistófeles (objeto de uma peça teatral de Goethe), que aparece em muitos contos cristãos.

Bolsonaro é um genocida na imprensa europeia

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A percepção de Jair Bolsonaro como um genocida se consolida na Europa. “Nova demissão de um ministro da Saúde no Brasil diante da negligência do presidente Bolsonaro”, diz a manchete de abertura do noticiário da TV franco-alemã Arte deste sábado.

Willy Delvalle - DCM  * 17/05/2020

“O Brasil é um dos países mais atingidos pelo coronavírus, com 14 mil mortos, mas Jair Bolsonaro continua incitando os brasileiros ao desconfinamento”, segue o jornal.  “Para o presidente de extrema-direita, o que conta é a saúde… da economia”, afirma a âncora, em tom carregado de trágica ironia.

Ao comentar o pedido de demissão de Nelson Teich, um repórter observa que “aparentemente com Jair Bolsonaro nada mais dá certo”.  “Teich não disse porque pediu demissão mas seu desacordo com o presidente é flagrante, como por exemplo sobre a cloroquina, para cujo uso Bolsonaro é favorável, enquanto Teich e pesquisadores a consideram ineficaz (para o tratamento do coronavírus)”.

“Bolsonaro compara o coronavírus a uma "gripezinha", opõe-se ao confinamento social e decreta a reabertura de academias e salões de beleza sem informar o ministro, tudo isso em nome da economia”, diz a reportagem.

“Em termos de saúde, o Brasil nunca adotou uma linha clara e coerente”, afirma.  “Essa cacofonia no Ministério da Saúde cai na pior hora, quando só ontem o país registrou mais de 15 mil novos casos”, observa.


“Na Amazônia, os mais ameaçados são os povos indígenas”, aponta, sob imagens de uma etnia sendo examinada face à evocação de um sistema imunológico mais “frágil”.  Contornos genocidas dados, a sequência de reportagens torna mais clara a percepção do horizonte político brasileiro.

A reportagem seguinte aborda a expulsão de um ex-neonazista do partido de extrema-direita alemão AfD, que perde apoio na sociedade ao passo que aumenta a percepção popular de uma boa gestão da crise pela primeira-ministra Angela Merkel.

Brasil e Alemanha, duas federações com concepções diferentes da crise sanitária por seus poderes federais.  Países assombrados pelo genocídio e pelo nazismo, que veem florescer manifestações contra o confinamento.

Por enquanto, nem para o nazifascismo, nem para o coronavírus há cura. Aguardamos.
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Fonte: texto do site Diário do Centro do Mundo; figuras e título da postagem deste Blog.

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Bolsonaro, alto nível e interesses pessoais

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Pois então, naquele encontro do curral de bestas a que chamam reunião de Bolsonaro com seus ministros em 22 de abril de 2020, rolou a frase:


Fábulas Fabulíricas - A cobra e a ratazana

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Esgueirando-se sinuosa pela floresta e sonhando derrubar o leão como rei dos animais, a cobra começou a empinar-se sobre a cauda para enxergar melhor. Na natureza da cobra não é dado ter pés, e, depois de se erguer acima do solo por alguns segundos, logo caía. 

Numa dessas empinadas, a cobra viu uma grande ratazana cinzenta e malcheirosa.  Logo tomou-se do desejo de ter o enorme roedor a seu lado, para ajudá-la a virar rainha da selva. 

- Olá, senhor rato! Que surpresa vê-lo tão faceiro andando por esta intrincada floresta! 

- Outros amigos ratos tem ajudado a me orientar para andar por entre pedras e matagais. Vai tudo bem, cobra? 

- Quero lhe propor uma sociedade, senhor rato. Você me ajuda a virar rainha dos animais da floresta e em troca eu lhe ensino o caminho da Suprema Toca da Floresta, onde viverá em banquetes como um príncipe intocável. Topas?

- Hum, parece interessante… afinal eu já lhe ajudei antes, prendendo num puçá, no mar, um forte concorrente seu ao trono da selva. Vou topar. 

Os meses se passaram e a sociedade ia bem, tornando-se a terrível cobra a mandachuva da floresta. Mas a natureza da cobra não lhe permitia conviver tanto tempo com um animal que fazia parte usual de seu cardápio, e a cobra acabou devorando a ratazana, mesmo engolida com dificuldade. 

Não se passaram muitas horas e a rainha cobra sentiu tremenda dor na barriga.  Assustada, viu um grande buraco ali se formar, de onde saltou para fora a ratazana, ainda dotada de poderosos dentes, que roeram a cobra por dentro. 

A ratazana nunca se recuperou bem do devoramento, apesar de ter escapado da barriga da cobra. E a cobra morreu com aquele grande buraco no ventre.


MORAL da história: não sonhe com a Suprema Toca Federal (STF) confiando na palavra de uma cobra, nem ela acredite que basta um sal-de-fruta para uma indigestão. 

Eugenia e a política de extermínio do desgoverno Bolsonaro

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Dois meses atrás, um dos líderes mundiais mais criticados pela sua resposta à crise do coronavírus era Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido. Naquela época a COVID-19 ainda engatinhava por lá: havia dois mil casos confirmados e 50 mortes.


A Itália, já com mais de cinco mil óbitos, tinha o pior cenário e era a prova do potencial destruidor desse vírus, que se alastrava exponencialmente. Mesmo assim, a estratégia britânica, como sabemos, era deixar boa parte da população se infectar para promover imunidade de rebanho.

No dia 16 de março um estudo científico mudou tudo: foi o famoso trabalho do Imperial College de Londres que previa no mínimo 260 mil mortes caso nada fosse feito para impedir o avanço do coronavírus. Diante disso, em 23 de março Johnson foi à TV anunciar o lockdown (pouco depois, ele próprio testou positivo para o vírus). O governo britânico demorou a acordar. Com esse atraso, as infecções cresceram desgovernadamente, o sistema de saúde colapsou e o Reino Unido passou a ter o maior número de mortes da Europa. Ainda assim, o enfrentamento tardio foi melhor do que teria sido a negação absoluta, e a crise parece enfim controlada. Um plano de reabertura foi anunciado, mas a tentativa do governo de manter a economia girando no começo das infecções foi um tiro que saiu pela culatra. Agora, o Reino Unido deve ter uma reabertura mais tardia e lenta do que o resto do continente.

Por que falar no Reino Unido quando o que nos interessa nesse momento é o Brasil? Porque, por aqui, não há ciência que dê conta de trazer seriedade ao discurso do presidente Jair Bolsonaro. Ainda em março, na mesma semana em que Johnson anunciava o confinamento geral, Bolsonaro dizia em vídeo que a "previsão" era não se chegar a 800 mortes por COVID-19 no Brasil.

Pois é. Agora esse foi um número atingido em menos de 24 horas: o Ministério da Saúde registrou nada menos que 881 óbitos entre segunda e terça-feira. É um 'novo recorde' (expressão que, infelizmente, anda devemos usar bastante), e já há ao todo 12,4 mil mortes confirmadas e 177,5 mil casos. Mais de duas mil óbitos estão em investigação, aguardando testes. São Paulo ainda é o pior estado em número de casos e mortes (tem quase quatro mil óbitos), seguido pelo Rio (que tem quase dois mil). Porém, hoje metade dos casos já estão nas regiões Norte e Nordeste. Mais de mil municípios já registraram mortes, e o vírus está se interiorizando.

Mesmo assim, Bolsonaro promove ad aeternum o discurso da imunidade de rebanho, afirmando que 70% das pessoas vão se contaminar de qualquer jeito. Acontece que, se isso ocorrer num período curto de tempo, o país pode ter 1,8 milhão de mortos, segundo estimam pesquisadores da USP e da UnB.

A insistência não é apenas por um negacionismo da ciência, diz o médico e diretor do Hospital das Clínicas, Arnaldo Lichtenstein. "O que vai acontecer, quando as pessoas não defendem o isolamento? Não se fecha comércio, a economia não para, o governo não precisa colocar dinheiro na economia. Muitas das pessoas que vão morrer são os idosos – aí tem a fala de 'já ia morrer mesmo' – ou as pessoas que já têm doenças. E vão ficar os 'jovens e atletas'. Então se a gente pegar pedaços da fala tem uma lógica intensa. Isso se chama eugenia; lembre-se de que sistema político mundial usava isso (...). Quando você fala que 'morram os vulneráveis para a gente ter uma geração saudável', pode ser que esteja permeando essa história de 'vamos acabar logo com essa tortura, não vamos ter o derretimento da economia'. É uma coisa muito mais perversa do que simplesmente não acreditar na ciência, é um outro tipo de teoria que pode ser muito pior do que isso". Acrescentamos: não se trata apenas de deixar que morram os idosos e os que têm doenças, mas a população pobre e vulnerável – os mais afetados pela COVID-19 e pela crise econômica que não vai passar tão cedo.

A reprovação ao governo bateu recorde, segundo uma pesquisa da Confederação Nacional de Transporte com o Instituto MDA. Chegou a 43%, 12 pontos acima do percentual registrado no levantamento anterior, de janeiro. A avaliação pessoal do presidente também é pior: 55,4% dos entrevistados o desaprovam, contra 47% em janeiro. A mesma pesquisa mostra que 67,3% querem distanciamento social praticado por todas as pessoas, enquanto 29,3% acham que só idosos e pessoas com doenças crônicas devem se isolar.
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Fontes: texto da Seção Outra Saúde
Título da postagem e ilustração do Blog NaLuta.

sábado, 9 de maio de 2020

Revista médica inglesa The Lancet desce o pau em Bolsonaro

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A revista médica inglesa The Lancet é uma das mais prestigiadas do mundo. E das mais antigas também, sendo publicada desde meados do século 19. No editorial de seu número mais recente, The Lancet critica duramente o despresidente brasileiro desde que ele proferiu o famigerado "E daí?" ao ser perguntado sobre o estouro da pandemia, e adverte: "ele precisa drasticamente mudar seu rumo ou será o próximo a se dar mal."

A pandemia da COVID-19 chegou na América Latina mais tarde do que em outros continentes. O primeiro caso registrado no Brasil foi em 25/02/2020. Hoje, porém, o Brasil ostenta o maior número de casos e óbitos da América Latina (105.222 casos em mais de 7.288 mortes, segundo dados de 4 de maio), e essas são provavelmente substanciais subestimativas. Ainda mais preocupante é que a duplicação da taxa de mortalidade é estimada em um prazo de apenas cinco dias e um recente estudo do Imperial College (Londres, Reino Unido), que analisou a taxa de transmissão ativa da COVID-19 em 48 países, mostrou que o Brasil possui a mais alta taxa de transmissão (R0 de 2,81, isto é, cada infectado repassa os vírus para mais 2,81 pessoas). Grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro são os maiores focos de transmissão mas há preocupação e indícios de que a doença já se espalha para cidades do interior de menor tamanho, as quais estão menos providas de UTIs e de ventiladores. Entretanto, talvez a maior ameaça contra uma adequada resposta do Brasil à COVID-19 responda pelo nome de seu presidente, Jair Bolsonaro. 

Quando indagado por jornalistas, na semana passada, acerca dos números rapidamente crescentes da COVID-19, ele respondeu: “E daí? O que você quer que eu faça?” Ele não apenas continua a semear confusões por abertamente menosprezar e desencorajar medidas sensatas, como o distanciamento social e o lockdown (confinamento forçado), orientadas por governadores e prefeitos, mas ainda dispensou dois importantes e influentes ministros nas últimas três semanas. O primeiro foi Luiz Henrique Mandetta, em 16/04, respeitado e popular ministro da Saúde, demitido após uma entrevista para a TV, na qual ele criticou fortemente ações de Bolsonaro e fez um apelo pela união de todos para não deixar 210 milhões de brasileiros ainda mais confusos. Em seguida, em 24/04, após Bolsonaro demitir o chefe da Polícia Federal brasileira, o ministro da Justiça Sérgio Moro, uma das mais poderosas figuras da extrema-direita do governo, designado pelo presidente para fazer o combate à corrupção, anunciou sua renúncia. Tamanho desarranjo no cerne da administração provoca tremendos abalos em meio a uma grave emergência na saúde pública e é claro sinal de que o comando brasileiro perdeu sua bússola moral, se é que algum dia a teve. 

Mesmo que não houvesse o vácuo de ações políticas em nível federal, o Brasil já enfrentaria dificuldades para combater a COVID-19. Cerca de 13 milhões de brasileiros vivem em favelas, em geral com mais de três pessoas se amontoando num comodo e com pouco acesso a água potável. O distanciamento físico e as recomendações de higiene pessoal são quase impraticáveis nesses ambientes – embora em muitas dessas favelas haja algum tipo de auto-organização para implementar certas medidas de algum jeito. O Brasil tem um vasto setor na informalidade, com variadas formas para tentar obter renda, quando as pessoas conseguem. A população indígena já passava por severas ameaças mesmo antes do surto de COVID-19 porque o governo a ignora e ainda encoraja garimpeiros e desmatamentos ilegais na floresta amazônica. Esses desmatadores e garimpeiros são uma ameaça porque adicionalmente podem carrear a COVID-19 para as populações remotas. Uma Carta aberta em 3 de maio foi publicada por uma coalizão global de artistas, celebridades, cientistas e intelectuais, organizada pelo fotojornalista Sebastião Salgado, advertindo sobre o risco de um iminente genocídio. 

O que estão a comunidade das áreas de ciência e da saúde, e a sociedade civil, fazendo em um país conhecido pelo seu ativismo e aberta oposição às injustiças e desigualdades, pela saúde como direito constitucional? Muitas organizações científicas, como a SBPC e a ABRASCO, de há muito fazem oposição a Bolsonaro por causa de graves cortes no orçamento da Ciência e pela demolição geral nos serviços públicos e de seguridade social. No contexto da COVID-19, muitas organizações publicaram manifestos ao público – como o Pacto pelo Vida e pelo Brasil -, escreveram declarações e apelos às autoridades governamentais clamando por união e soluções compartilhadas. Panelaços nas janelas dos prédios como protesto durante pronunciamentos presidenciais acontecem frequentemente. Estão em curso muitas pesquisas, da ciência básica à epidemiologia, está havendo produção acelerada de equipamentos de proteção individual, de respiradores e kits de testagem. 

Essas são ações que motivam esperança. No entanto, a liderança no mais alto posto de governo é aspecto crucial para rapidamente se poder afastar o pior desfecho nessa pandemia, como se evidenciou em outros países. Na série Brasil-2009, os autores concluíam: “O desafio é em última instância político, requerendo contínuo engajamento da sociedade brasileira como um todo para assegurar o direito à saúde para todos os brasileiros.” O país Brasil deve se unificar para dar uma clara resposta ao “E daí?” do seu presidente. Ele, Bolsonaro, precisa drasticamente mudar seu rumo ou será o próximo a se dar mal. 
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Fonte: tradução livre do texto do editorial da revista The Lancet, de 09/05/20202.  Figuras também da revista The Lancet.

O sapo e o escorpião

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Cismando diante da correnteza do rio, lá estava o escorpião tentando achar um meio de atravessar para a outra margem.  Chega todo lampeiro o sapo, pronto para cair no rio e se deleitar nadando na buliçosa água.  Vê o escorpião, e se afasta.

- Ei, amigo sapo, dá uma ajudinha aqui para seu velho chapa! Me ajuda a atravessar esse rio!
- Eu, hein, pensa que não conheço a história de seus irmãos?  Ponho você nas costas e no meio do rio você me morde, e morremos os dois...

- Náá, que é isso, só porque um ou outro irmão sacaneou com um amigo seu, não vai ser sempre igual. Eu te garanto que atravessaremos numa boa esse rio aí, e depois cada um segue seu caminho.  Vamos nessa?



Muito reticente, o sapo acabou topando e colocou o escorpião nas costas para a travessia.  

- Muito obrigado, amigo sapo.

- Tudo bem aí, senhor escorpião?

- Cada vez melhor. A vista é linda.


Atravessaram o rio e o sapo colocou o escorpião no chão, ainda surpreso de nada ter acontecido durante a travessia.

- Puxa, chegamos bem, e você nem me picou no caminho!

Já se afastando, correndo, o escorpião responde:

- Picar, não piquei mesmo, mas te passei uma baita duma dermatite!

terça-feira, 5 de maio de 2020

Obesidade favorece maior incidência da COVID-19 em jovens

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A COVID-19, causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), costuma evoluir com uma severa pneumonia intersticial bilateral, levando a insuficiência respiratória fatal. Em 29/04, a pandemia estava confirmada em mais de 3 milhões de pessoas em 185 países e regiões, com taxa de mortalidade geral de mais de 6% dos infectados. Uma avaliação preliminar dos casos parecia indicar que a doença atacava somente o aparelho respiratório. 


Três pesquisadores ligados à Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins - David A. Kass, Priya Duggal e Oscar Cingolani – desde fins de março deste ano notaram que muitos pacientes jovens com COVID-19 estavam chegando para atendimento na UTI do hospital daquela instituição. Isso diferia de uma visão prévia de que a pandemia seria uma patologia eminentemente de idosos e que ela só bem excepcionalmente afetava os jovens. Viram que isso também estava ocorrendo em UTIs em outras partes dos EUA. 

Em correspondência publicada pela tradicional revista médica inglesa The Lancet, eles comunicam ter constatado também que muitos desses jovens pacientes eram obesos, um problema de saúde pública nos EUA, onde a prevalência de obesidade está na casa dos 40%, em contraste com 6,2% na China, 20% na Itália e 24% na Espanha. 

Esses pesquisadores estudaram uma amostra de 265 pacientes (58% deles, homens), verificando uma relação inversa entre idade e IMC (Índice de Massa Corporal) – ou seja, quanto menor a idade, maior o IMC (que é um indicador genérico de peso normal, de sobrepeso e de obesidade franca). Nessa amostra, apenas 25% dos pacientes tinham IMC abaixo de 26 kg/m2 (limite máximo de peso normal) e 25% deles passavam dos 34,7 kg/m2 (obesos). A mediana do IMC era 29,3 kg/m2 e não havia diferença entre sexos. 

Como a obesidade pode dificultar a função respiratória? Ela restringe a capacidade de ventilação porque dificulta a movimentação do músculo diafragma (fundamental para a respiração normal), prejudica a resposta imune ao vírus, favorece inflamações, induz diabetes e um stress oxidativo que afeta negativamente a função cardiovascular. 

Os pesquisadores concluem que, nas populações com alta prevalência de obesidade, a COVID-19 afetará segmentos jovens bem mais do que anteriormente relatado. E recomendam que autoridades públicas devem informar esse aspecto à população jovem, aumentar a testagem do coronavírus nos indivíduos obesos e manter maior vigilância sobre este grupo de risco, buscando reduzir a prevalência da COVID-19 em sua forma grave. 
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Fonte: The Lancet * May 04, 2020 
DOI:https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)31024-2

O ódio à liberdade de imprensa do despresidente Boçalnaro

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No sábado, 2/5, diante da sede da Polícia Federal, no bairro Santa Cândida, os grupos fanáticos de bolsonazistas e de ex-bolzonazistas agora só marrequistas (moristas) enfrentaram-se e quase sobrou alguma agressão física sobre o cinegrafista da TV Record que registrava o piquenique bélico dos divorciados.

Mas, em Brasília, defronte ao Palácio do Planalto, naquela ensandecida manifestação de alguns poucos milhares de bolsonazistas na manhã de domingo (3/5) - em que se pregavam bandeiras "muito democráticas e constitucionais", como intervenção militar, AI-5, fechamento do Congresso Nacional e do STF, numa palavra, a tirania imperial de Boçalnaro - ali houve ataque físico à imprensa.  Sob o beneplácito do despresidente, que acenava para a multidão paspalha, o fotógrafo e o motorista do jornal O Estado de São Paulo foram derrubados ao chão, tomando murros e chutes.  O caso está sob investigação da PGR.

Depois de em rápida e escondida cerimônia em palácio, ontem, o "Messias" Boçalnaro empossou um novo nome à Direção da PF, Rolando Souza, uma vez que o mais  amiguinho do clã Boçalnaro, Alexandre Ramagem, foi vetado por ato do ministro do STF Alexandre de Moraes.  A primeira ação de Rolando "Lero", para agradar o patrão, foi trocar o superintendente da PF no Rio, onde há investigações sobre os filhinhos milicianos do despresidente, senador Flávio e "vereador" Carlos, elementos denunciados pelo ex-ministro da Justiça sérgio moro e motivo alegado por ele para sair do desgoverno federal (intenção de interferir ilegalmente em rumos de investigações da PF).

Depois disso, o jornal Folha de São Paulo amanheceu hoje com a seguinte manchete na capa:


Na manhã de hoje, depois de ver essa capa da Folha, Boçalnaro enfureceu-se imediatamente. Foi para a frente do Palácio da Alvorada, onde toda manhã vomita sua arenga fascistoide para agradar a manada de idólatras que lá vai religiosamente, e, claramente destemperado, lasca o pau em cima do jornal paulista, classificado como canalha, patife e por aí foi. É o que se vê no vídeo acima.  

Quando um jornalista, que é obrigado por dever de ofício a cobrir a matinal palhaçada de Boçalnaro, tenta perguntar algo ao despresidente, ele replica aos berros: "Cala a boca, não perguntei nada. Cala a boca, cala a boca!". A voz do jornalista está em volume baixo, parece que ele tenta insistir na pergunta, e então a claque fanática zurra em cima "Cala a boca, cala a boca!", imitando seu "mito".


Eis a demonstração prática do trato do suposto presidente com a imprensa do país, total desrespeito e má-educação. Mas, ainda pior que isso, com seu exemplo, o despresidente dá um alvará para que seus seguidores, cada vez mais cegos e fanáticos saiam como cães hidrófobos a morder e agredir jornalistas país afora.  É a repetição da metáfora do "guardinha de esquina", todo empoderado para "agir em nome da ditadura" depois do AI-5, como já alertava em 1968 o então vice-presidente Pedro Aleixo.  Acautele-se, pessoal da imprensa, as milícias metidas a besta estão à solta e (também) em seu encalço!

Feliz Niver, Carlos Henrique! Parabéns, velho guri de ideias sempre atuais!

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O planeta foi abalado, em fins de 2007, por tremenda crise do sistema capitalista mundial, que se espraiou a partir de um estouro da chamada “bolha imobiliária” nos EUA, contaminando todo o sistema financeiro e rapidamente se espalhando sobre a Europa. O Brasil só seria de fato afetado pelo tsunami das contradições desse sistema financeiro feito de papel por volta de 2013-14. Até hoje os problemas decorrentes daquela crise de 2007-2008 não foram de todo superados pelo sistema. 

Em 2008, eu trabalhava então na Seção de Aquisição da Biblioteca Central da UFPR e ali procedemos à compra da coleção completa (50 volumes) de obras de Karl Marx e Friedrich Engels, adquirida junto a uma pequena editora sediada em New York. Essa coleção está sob guarda da Biblioteca de Ciências Sociais Aplicadas, no campus Botânico da UFPR. 

Por que a UFPR comprava aquela coleção? Marx e suas ideias socialistas não estavam superadas, sepultadas para sempre? Não, absolutamente não. O entendimento da crise capitalista mundial de 2008, decorrente de suas inescapáveis contradições internas, só podia ser alcançado referenciando-se no corpo de ideias do marxismo (e de sua continuação, o leninismo). Desde então, houve um retorno do interesse, também na Academia (essa até hoje fortaleza que resiste a debater Marx a sério) e nos meios economistas pelas ideias do alemão revolucionário. Recordo de notícias sobre revoltas de estudantes de Economia na Inglaterra, que reclamavam que seus professores e currículos universitários só contemplavam visões neoliberais e neoclássicas, enquanto escanteavam o estudo das ideias de Marx e Engels. 

Praça em Trier, cidade natal de Karl Marx. Curioso como ela tem algo 
que lembra a Praça Generoso Marques em Curitiba

Pois bem, desde fins de 2019 já de novo anunciavam-se escuras nuvens sobre o sistema capitalista, pelas razões de essência similares à da megacrise de 2008, com o prognóstico de acadêmicos como o professor de Economia da New York University Nouriel Roubini (o mesmo que previra a crise de 2008) de que, como locus indicador de problemas do sistema, as Bolsas de Valores pelo mundo começariam a mostrar quedas. O Brasil já se debatia em recessão séria desde o golpe que derrubou Dilma em 2016, com o governo claramente neoliberal de Temer e depois com a assunção da política econômica ainda mais neoliberal do “posto Ipiranga” de Bolsonaro, o parasita Paulo Guedes, banqueiro. A pandemia da COVID-19, conhecida a partir de fevereiro/março em nosso país, somente veio piorar um quadro que já era grave antes, com suas altas taxas de miséria, fome e desemprego. 

E quem pode, de novo, ajudar a entender os mecanismos inexoráveis, inerentes, que levam o capitalismo a entrar em crise mundial, com especificidades nos diversos países? A teoria do marxismo, desenvolvida por Lenin na fase atual da hegemonia completa do capital financeiro (nossa época atual do imperialismo). Mil vezes proclamado morto pelos ideólogos da ordem burguesa, mil vezes o pensamento de Marx renasceu a cada crise que abalou o capitalismo. 

Assim, usando a teoria marxista como guia – e não como receita dogmática pronta - entender os mecanismos explicativos e poder vislumbrar saídas de curto e médio prazo, em que pese que a grande saída é mesmo a transformação social do sistema, é a superação do capitalismo obsoleto, rumo às primeiras etapas de construção de uma sociedade socialista justa, humana, igualitária. 

Por isto, este Blog saúda a data de hoje, que marca os 202 anos do nascimento de Karl Heinrich Marx, em 5 de maio de 1818, na cidadezinha de Trier, parte oeste da Alemanha, perto da fronteira com Luxemburgo e a Bélgica. Vamos ler mais, estudar mais o marxismo, e usar a teoria para compreender melhor o Brasil e com isto contribuir para a formulação de uma nova sociedade, com feições brasileiras, sem ser cópia de nenhuma outra. 

Localização da cidade natal de Marx, oeste da Alemanha

Para mais informações, vale a pena acessar o dossiê sobre Marx no site da Fundação de Estudos e Pesquisas Maurício Grabois. 

- Salve os 202 anos de Marx! Salve o Socialismo! Salve o Brasil!

Fim da pandemia no Brasil: modelo matemático faz previsão

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O modelo epidemiológico matemático não dá 100% de garantia, mas ainda é preferível isso a se fazer "futurologia" sem base científica.

Jornal GGN - 04/05/2020

Uma Universidade de Singapura (Singapore University of Technology and Design) utilizou um modelo matemático para projetar quando será o fim da pandemia no Brasil e em outros países do mundo [matéria original pode ser vista, em inglês, aqui]. Segundo o estudo, o Brasil ainda terá mais algumas semanas dramáticas de enfrentamento do coronavírus. A situação não ficará amena antes de agosto.  Acima está o gráfico, traduzido livremente do inglês, da previsão para o Brasil segundo  esse modelo matemático.

As projeções foram comentadas em vídeo divulgado pelo canal da Universidade Estadual Paulista (Unesp), com participação do professor Vitor Engrácia Valenti, da Faculdade de Filosofia e Ciências do campus em Marília.

“Esse modelo considerou que estamos vivendo a fase do pico, que era prevista para ocorrer entre meio de abril e meio de maio. Possivelmente, como já estamos sofrendo o colapso no sistema de saúde em alguns estados, o Brasil está vivendo ainda a fase de avanço do pico. Infelizmente nosso país vai sofrer um pouco mais. Medidas preventivas são essenciais nesse momento”, comenta o professor.

No mundo, a previsão é de que a pandemia esteja mais “tranquila” a partir do final de julho, porém as medidas de prevenção – como uso de máscaras e restrições à vida social – serão mantidas até o final de novembro.

O professor da Unesp ressaltou que o modelo não tem 100% de garantia, mas é uma previsão matemática, “melhor que futurologia”.

O Brasil tem 105 mil casos de coronavírus e 7.288 mortes, segundo dados atualizados da tarde de segunda-feira (4/5).

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Aldir Blanc: a flecha do tempo atinge o alvo

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Médico de formação, psiquiatra, vascaíno, Aldir Blanc largou a Medicina e foi fazer a cabeça dos brasileiros de outro jeito. Abraçou o destino de ser compositor, escritor, cronista, com textos navalhares, gostosos de ler.  Deixou, na parceria extraordinária com João Bosco, sua "O Bêbado e a Equilibrista", imortalizada na voz de Elis Regina, como hino  de resistência à ditadura militar.

Aldir é mais uma vítima da pandemia COVID-19, a morte acontecida hoje, 4 de maio, no Rio.  Com certeza, por jamais ter a alma pequena e tudo valer a pena, ele faria alguma letra moleque e profunda sobre 4 de maio de 2020.  

Abaixo vai um texto dele, publicado pela extinta e irreverente revista "Bundas", que parece um tipo lamento de saudade do Aldir de 53 anos pelo Aldir morrendo hoje aos 73 anos de idade.



A FLECHA DO TEMPO ATINGE O ALVO
Aldir Blanc(*)

O avô precoce corre, na areia, atrás da bola chutada pelo neto. Pegou na veia. Acertou no véio. A volta é ofegante, as coronárias disputando penca em cancha reta. Uma caída n’água pra refrescar, sossegar a tempestade de sintomas. Três ou quatro braçadas e olhe lá. É aí que aparece o adolescente vindo do passado, um pivô meio escuro na boca devido à mordida um tanto desvairada na manga carlotinha. 

Esse magricela sou eu, que nadava, pra descansar da décima linha-de-passe, da vigésima partida de vôlei, do interminável frescobol, uns quinhentos metros pra fora da Praia dos Coqueiros, até uma pedra apelidada de Carmen Miranda, porque tinha uma crista de capim à semelhança de um turbante hollywoodiano, e o magrela dava saltos mortais da pedra ao lado, um pouco mais baixa, e nadava de volta, de costas, de peito, as arraias pulando ao lado, e nenhum medo, aquilo era alegria, sair da água e pedalar milhões de quilômetros na inesquecível Flywil verde pra combinar a seresta da noite, Mandrake vai levar as batidas, as irmãs morenas prometeram ir, também vou, a não ser que o tio Waldir me chame pra pescar siri, uma atividade sagrada, o preparo dos puçás de linha, a escolha das melhores pedras, remendar as redes e passar a noite de boca fechada, com um chapéu de palha na cuca, titio cantarolando baixinho, os dois sentados no quebra-mar, marchinhas de todos os carnavais do passado, e até hoje acham que eu pesquisei muito, cascata, aprendi na beira do mar, de pescaria em pescaria, e como foi (ainda é) útil, meu Deus, que nunca mais apareceste como naquelas noites. 

Eu tinha uma qualidade, igual à coruja da anedota: prestava muita atenção. Era sempre lua cheia ou nova, e, pra ajudar a pesca de linha, as lanternas vasculhavam a água, eles ficavam ali, paralisados, e, zás, o puçá de cabo pegava um, dois, três, o importante era manter a cara fechada, indiferente, pescador não se afoba, não dá bandeira. 

Uma noite pescamos centenas e meu tio, em silêncio comovido, me passou a garrafa de traçado, o magricela vencendo os ritos de passagem. Bem-vindo ao clube. Sócio efetivo, eu podia puxar o maço de Continental sem filtro amarfanhado na cintura, acender um e pitar na concha da mão, enquanto o céu era riscado por estrelas cadentes e a última barca contornava a ilha dos Lobos. Aí, cantávamos: “lourinha, lourinha, dos olhos claros de cristal...” O balde ia ficando cheio, os siris subindo pela borda faziam um chiado de espuma, o peixe-agulha passava pela luz e eu sentia também a vida passando no mar e nas veias, tinha consciência de que um dia estaria, como agora, falando sobre coisas irremediavelmente perdidas, entre goles e tragadas, e um desejo palpável de surgisse das águas, das árvores, das estrelas, uma figura de mulher que pudesse aplacar aquele sentimento e aplacar, como no bolero, a noite perfeita. 

- Vovô! 
- Oi, meu chapa. 
- Compra um sorvete. 

Não há o que lamentar, nada foi perdido, taí o tempo redescoberto. Compro na barraquinha um picolé, peço uma caipirinha. São substâncias simples, bem brasileiras, mas me fazem sentir, à beira da praia da Ferradura, em Búzios, que também sou capaz de discorrer sobre singularidades, sobre o espaço-tempo como dimensões gêmeas, e, como no paradoxo de Zenon de Eleia, o garoto magricela passou à minha frente e por mais que eu ande – ou manque -, ele está, no passado, sempre no meu futuro, se adiantando além da realidade, me ensinando que sou uma luz que está se extinguindo mas que ainda pode encantar outros olhares. 

Abraço meu neto, me despedindo, dizendo adeus, com sentimento paradoxal de que vou durar para sempre nele e nos netos dele, abraço meu neto como se já não fosse mais nada, mas como se fosse eterno, abraço meu neto abraçando a mim mesmo, puçá na mão, apito da última barca, estrelas cadentes no céu, lourinha, lourinha, dos olhos claros de cristal, peço mais picolé pra ele, mais bebida pra mim… 

De noitinha, subo as escadas da casa, trôpego, cantarolando marchinhas do passado, alguém diz que nunca me viu tão alegre. Falo com as pedras da enseada, oi, tio, e aí, vovô?, todos sorriem com ar de “ele teve um ano difícil”, e sou conduzido, aos trambolhões, pra cama. 

Encerro o show com: 

- 50 anos são bodas de sangue, casei com a inconstância e o prazer… 

Não tenho certeza se isso serve de consolo. 
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(*)Publicado na Revista “Bundas” - Rio de Janeiro * n. 35 * 15-23/02/2000.

Congelamento de salários dos servidores aprovado no Senado como "contrapartida" no combate à pandemia COVID-19

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O PLC 149/2019, que congela salários e progressões dos servidores públicos foi aprovado neste sábado, 02/05, no Senado Federal. Agora o projeto volta para a Câmara dos Deputados e será apreciado e votado nesta segunda-feira, dia 4.  O Artigo 8 do PLC é o que ataca os servidores e ainda haveria alguma chance de ser mudado na votação de hoje da Câmara. Os três senadores do Paraná votaram a favor do congelamento.

A suspensão do reajuste de salários por 18 meses foi negociada com o governo pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre, relator da matéria, como contrapartida ao auxílio financeiro da União aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios para mitigar os efeitos da COVID-19. Davi atuou para garantir os recursos sem a necessidade de corte salarial em 25%, que era a proposta inicial do Executivo. Foram excluídos do congelamento os servidores da saúde, da segurança pública e das Forças Armadas. 

A vedação ao crescimento da folha de pagamento da União, estados e municípios está entre as medidas adicionais do programa de enfrentamento à COVID-19. Os entes federados ficam proibidos de reajustar salários, reestruturar a carreira, contratar pessoal (exceto para repor vagas abertas) e conceder progressões a funcionários públicos por um ano e meio. 

A economia estimada é de cerca de R$ 130 bilhões, sendo R$ 69 bilhões para os estados e o Distrito Federal e R$ 61 bilhões para os municípios, até o final de 2021. 
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Fonte: com informações da Agência Senado.

Marielle Franco poderá em breve descansar em paz

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Quase dois anos após seu assassinato, do Cemitério do Caju, é possível que em breve Marielle Franco erga os braços, aponte o dedo para os Bolsonaros e possa, finalmente, descansar em paz.

Luís Nassif - Jornal GGN * 04/05/2020

Peça 1 – Bolsonaro faz a aposta final

Ontem, na frente do Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro jogou sua cartada final, com dois movimentos perigosos.

O primeiro, o repto às instituições. Disse que chegou ao limite, não aceitaria mais interferências de outros poderes no Executivo. Invocou as Forças Armadas, que estariam “ao lado do povo”. E anunciou que não aceitaria mais restrições a seus atos.

O segundo, o comportamento cada vez mais agressivo de seus seguidores, atacando jornalistas, montando manifestações em frente a hospitais, atravancando o tráfego de ambulâncias e espalhando fake news sobre a pandemia.  A reincidência e o aumento da agressividade não deixam espaço para mediação.

Nos momentos seguintes, vazaram as seguintes informações.

1] Bolsonaro pretenderia indicar novamente Alexandre Ramagem para diretor-geral da Polícia Federal. 

2] Pretenderia substituir o comandante do Exército brasileiro, general Edson Pujol, legalista, pelo general Luiz Eduardo Ramos, bolsonarista e atual Secretário de governo.


Peça 2 – As cartas na manga de Bolsonaro

Para bancar sua aposta, Bolsonaro escudou-se em uma reunião que manteve no sábado com comandantes das Três Forças, mais o Ministro da Defesa, na qual teria havido concordâncias nas críticas a algumas decisões do STF. Em cima desses sinais, Bolsonaro teria se convencido do apoio das Forças Armadas contra os demais poderes. Com a manifestação em frente ao Palácio, exacerbou o discurso e contou bravatas.

De seu lado, o STF demonstrou um alinhamento inédito na condenação tanto das bravatas quanto das agressões verbais de Bolsonaro aos Ministros e das agressões físicas de seus correligionários a jornalistas. Nos últimos dias, o STF barrou uma série de medidas de Bolsonaro, das restrições à Lei dos Dados Abertos à nomeação do delegado geral da PF, da liminar impedindo a expulsão dos diplomatas venezuelanos à competência para determinar saída do isolamento social.

Por trás dessa reação, há o receio de Bolsonaro em relação a dois processos: a CPMI das Fake News e a delação do ex-Ministro Sérgio Moro, em depoimento na Polícia Federal no dia anterior. Some-se as investigações das "rachadinhas", que pegam Flávio Bolsonaro. E ainda o envolvimento com a morte de Marielle Franco.


sábado, 2 de maio de 2020

Fila única de leitos, a solução ignorada na pandemia

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Há centenas de pessoas no Brasil aguardando por leito dentro de uma unidade de tratamento intensivo. No país, três estados já atingiram o limite da sua capacidade de internação na rede pública graças à epidemia do novo coronavírus. 

O primeiro foi o Ceará, onde o governo acaba de anunciar a abertura de 22 mil covas num cemitério público. Depois aconteceu no Amazonas, de onde chegam cenas chocantes de enterros coletivos e histórias de pessoas que morrem em casa por falta de atendimento. Na quarta-feira 29 de abril, vazou a informação de que havia 186 pacientes em estado grave aguardando por uma vaga de UTI em Pernambuco. 

Outros estados devem enfrentar o mesmo problema muito em breve. Também na quarta-feira, a capital do Maranhão, São Luís atingiu 100% de ocupação no SUS. Em todos esses lugares, os governantes tentam abrir mais leitos, seja comprando equipamentos essenciais, como respiradores, seja planejando a contratação de profissionais de saúde. Mas, a cada dia, fica mais claro que nada disso vai acontecer rápido o suficiente. E pior: enquanto os doentes da covid-19 sofrem nas filas dos serviços públicos, há leitos vazios na rede privada. 

Países como Espanha, Irlanda do Norte, França, Itália e Austrália decidiram que, em uma pandemia, todos os recursos disponíveis devem ser esgotados para que se salve o maior número de vidas possível. Essas nações lançaram mão de uma importante estratégia: a unificação da gestão de leitos públicos e privados. 

No Brasil, esse caminho é previsto na Constituição Federal, na lei 8080 (que criou o SUS) e na legislação recém-aprovada que decreta estado de calamidade pública. E é a solução que tem sido defendida desde março pela campanha “Leitos para Todos”, que já recebeu o endosso de nomes ilustres, como Chico Buarque, e apoio institucional do Conselho Nacional de Saúde. Mas mesmo diante da barbárie, a discussão está travada. 

Outra Saúde conversou com Leonardo Mattos, pesquisador do Instituto de Estudos de Saúde Coletiva da UFRJ e membro da campanha. Ele nos ajuda a entender como os governos podem usar esses leitos, explica algumas experiências que, mesmo tímidas, já vão nesse sentido e comenta a atuação das empresas para barrar esse processo. Ouça a entrevista inteira no Tibungo, o podcast do site Outras Palavras.

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Fonte: Seção "Outra Saúde", do site Outras Palavras

outrasaude@outraspalavras.net

Malucos fanáticos bolsonaristas X Malucos fanáticos moristas brigam na frente da PF

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Fanáticos pró-Boçalnaro x Fanáticos pró-marreco na frente da PF
Manifestantes pró e contra o ex-ministro Sergio Moro dividem o mesmo espaço em frente à sede da PF (Polícia Federal), em Curitiba e deixam o clima tenso no local.

Ana Cláudia Freire - Paraná Portal/UOL


Desde as primeiras horas da manhã deste sábado (2/5), apoiadores do ex-ministro e apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, manifestam-se com carros de som, bandeiras e palavras de ordem.



O local teve reforço na segurança pela PM do Paraná e o clima é tenso entre os manifestantes.

Veja vídeo do "barraco" neste link do portal UOL: https://tv.uol/18Rjd


Há muitos jornalistas no local aguardando a chegada da ex-ministro. Um dos manifestantes (não se sabe se pró ou contra Moro) chegou a agredir um cinegrafista da RIC TV (afiliada da Record no Paraná).

O cinegrafista Robson Silva, da RICTV, explica que, sem o cordão de isolamento, o manifestante o agrediu achando que era funcionário da TV Globo. “O cara veio pra cima falando que eu era da Globo tal, Globo lixo, acho que ele achou que estava ao vivo, mas não estava, sabe. Aí ele veio pra cima pra derrubar a câmera, tentou empurrar a câmera, eu segurei, daí a polícia chegou e tirou ele daqui, porque não tinha cordão de isolamento, sabe?”, desabafou o cinegrafista.


O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, está sendo aguardado na sede da Polícia Federal, em Curitiba, para prestar depoimento a partir das 14h00 no inquérito que investiga as acusações feitas por Moro, contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
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COMENTÁRIO: Deprimente o "barraco" exibido diante da sede da PF no bairro Santa Cândida entre os bolsonaristas e os moristas.  Lamentável tanto como a agressão, por parte de um pastor evangélico bolsonarista, contra trabalhadores de Enfermagem que foram ontem diante do Palácio do Planalto se manifestar denunciando as péssimas condições em que estão batalhando para atender todos os casos de COVID-19.


Irônico que justamente um cinegrafista da TV Record (RIC, no Paraná) foi atacado por um desses fanáticos ensandecidos, justo a Record, que é pró-Bolsonaro até debaixo d'água, bem como a dona da TV, a igreja exploradora da boa fé dos fieis através de dízimos bem aproveitados pelo "bispo" Edir Macedo para aumentar sua fortuna pessoal, suas casas e viagens de luxo.  O cinegrafista, trabalhador que é, não tem culpa dessa rixa vergonhosa, que torna o Brasil mais uma vez vitrine de escândalo perante o mundo.


E também vale registrar o contraste, naquele mesmíssimo lugar do bairro Santa Cândida, onde se instalou por mais de um ano a VIgília "Lula Livre", farta em demonstrações de solidariedade e em prol do Brasil e da democracia, em oposição às ações de ódio e raiva cega de hoje dos bolsonáricos e marrequistas.