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quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Ah Quí no es muerto

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O artista gráfico Joaquín Salvador Lavado, universalmente conhecido como Quino, faleceu aos 88 anos . Alcançou a fama por seus quadrinhos e por sua personagem mundial mais conhecida: a pequena Mafalda .

Quino morreu. Todas as pessoas boas do país e do mundo ficarão de luto por ele”, relatou o editor Daniel Divinsky, que estava à frente das Ediciones La Flor.

Filho de imigrantes andaluzes, Joaquín Salvador Lavado nasceu na cidade de Mendoza em 17 de julho de 1932 (embora os registros oficiais indiquem que ele nasceu em 17 de agosto). Desde seu nascimento ele foi chamado de Quino para distingui-lo de seu tio Joaquín Tejón, pintor e designer gráfico.

Aos treze anos se matriculou na Escola de Belas Artes, mas em 1949 abandonou essa carreira “cansado de desenhar ânforas e gessos”. Desde então iniciou sua carreira como cartunista e humorista e aos 18 anos mudou-se para Buenos Aires. Em 1954 ele publicou sua primeira tira no semanário “This is”.

Em 1963 surge o seu primeiro livro de humor, “Mundo Quino” e em 1964 a revista Primera Plana apresenta Mafalda. A menina de ideias progressistas e seus amigos tornaram-se um símbolo dos anos 60 na Argentina e sua fama alcançou todo o mundo ibero-americano.

Ao longo de sua carreira, recebeu prêmios como a Ordem Oficial da Legião de Honra, a mais importante homenagem que o governo francês concede a um estrangeiro. Em 2014 recebeu na Espanha o Prêmio Príncipe das Astúrias de Comunicação e Humanidades e inaugurou a 40ª Feira Internacional do Livro de Buenos Aires.

Em uma extensa entrevista que concedeu ao jornal Pagina12, em 2004, Quino explicou sobre o que são suas tiras e porque continuou desenhando: “Sobre a relação entre os fracos e os poderosos. Isso sempre me assombrou. Essa sensação de impotência que eles têm. Pobres contra ricos, empregados contra mestres, sei lá, às vezes acho que devia parar de desenhar um pouco, para não sentir angústia nem medo de me repetir. Mas quando penso que vou abrir o jornal e meus desenhos não vão estar mais lá, me dá mais angústia e eu continuo desenhando. Como aquele chefe de estação que se aposenta, mas volta todos os dias para ver se os trens estão no horário. Não imagino ficar esperando os trens passarem. Além disso, na minha profissão não há trens.“
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Fonte: Pagina12, via Portal Vermelho
Legenda na foto: do Blog

Vitória da democracia na UFPR

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Graciela Bolzón e Ricardo Marcelo, os mais votados

Apesar do céu escurecido que antecipava um temporal, pouco depois das 17 horas de hoje, foi divulgado o resultado da votação constituinte da lista tríplice para a Reitoria da UFPR, cujos números abriram um brilhante sol nos olhares e sorrisos de todos os setores democratas da Universidade.

Para finalizar sua tarefa, o Colégio Eleitoral reunira-se na tarde desta quarta-feira de final de setembro, alguns presencialmente dentro do auditório da Reitoria e outros remotamente pela internet. Foram feitas votações separadas para o cargo de reitor(a) e de vice-reitor(a). Os números eletronicamente computados foram:

*Para a Reitoria:

Ricardo Marcelo: 32

Marcos Ferraz: 13

Maria Rita: 12

Horácio Tertuliano: 6

* Para a Vice-reitoria:

Graciela Bolzón: 33

Nelson Rebelatto: 14

Regiane Ribeiro: 12

Ana Paula Cherobim: 4

Logo que saído o resultado para a composição da lista tríplice, caiu forte aguaceiro sobre a quadra onde se localiza o prédio da Reitoria, como que a lavar todos os receios e apreensões, todas as manobras e ameaças golpistas.

Assim, a lista tríplice a ser imediatamente encaminhada ao MEC será constituída por:

1-RIcardo/Graciela
2-Marcos/Nelson
3-Maria Rita/Regiane

A dupla Horácio/Ana Paula, que foi esmagadoramente derrotada como Chapa 1 na consulta direta à comunidade ocorrida em 1-2/09, fica assim legal e legitimamente fora da lista de possíveis nomeações da presidência da República.

Até dezembro deverá ser conhecido quem ocupará a titularidade da Administração Central da UFPR.

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Paulo Guedes condenado por chamar servidores de "parasitas"

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Decisão judicial de primeira instância determinou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, pague indenização de R$ 50 mil ao Sindicato dos Policiais Federais da Bahia (Sindipol-BA). A juíza federal da 4ª Vara, Cláudia da Costa Tourinho Scarpa, considerou que houve insulto por parte do ministro.

A indenização é resultado de uma ação contra Paulo Guedes que, durante uma palestra, comparou servidores públicos a parasitas. O fato aconteceu em fevereiro, quando ele falava sobre a reforma administrativa. Guedes criticou o reajuste anual dos servidores e afirmou que eles já têm privilégios, como a estabilidade no emprego e “aposentadoria generosa”.

O hospedeiro está morrendo, o cara virou um parasita, o dinheiro não chega no povo e ele quer aumento automático”, declarou Guedes a empresários, na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em seguida, a assessoria de imprensa do Ministério da Economia disse que a comparação foi retirada de contexto pela imprensa.

De acordo com informações do Congresso em Foco, o sindicato baiano apresentou uma ação de reparação por dano moral coletivo contra o economista em maio. A juíza federal da 4ª Vara, Cláudia da Costa Tourinho Scarpa, considerou que houve insulto por parte do ministro. “O ministro de Estado da Economia, no exercício do seu direito à liberdade de expressão, insultou os servidores públicos. Ele os comparou a ‘parasitas’, pediu que eles ‘não assaltem o Brasil, quando o gigante está de joelhos’ e afirmou que eles ficam em casa ‘com geladeira cheia’”.

A decisão determinou o pagamento no valor de R$ 50 mil, “em virtude da violação aos direitos da personalidade dos integrantes da categoria profissional representada por este ente sindical, por meio dos seus pronunciamentos”.

José Mário de Lima, presidente do Sindipol-BA, fez questão de ressaltar que, no processo, o valor inicial da indenização era em torno de R$ 200 mil. “Mas não importa o valor. Não se trata de uma indústria de dano moral. O que importa é a defesa dos servidores públicos, em geral, dos federais e, em particular, dos servidores da segurança. A nossa reputação não pode ser atacada dessa forma”, reforçou.
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Fonte: Correio Braziliense (17/09/2020)

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Reitoria ou Interventoria ?

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Fonte: banner público de Facebook, editado.

Intervenção política na UFRGS pelo despresidente fascista

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Conforme já era receado pela comunidade universitária da UFRGS, porque antecipado pela fala de um deputado gaúcho, o fascista que infecta a cadeira da presidência da república nomeou reitor daquela IFES o menos votado da lista tríplice.

O despresidente Bolsonaro nomeou Carlos André Bulhões Mendes para a Reitoria gaúcha, tornando-a a 15a. interventoria bolsonarista do país.  Bulhões é professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS (alguma correlação com certo engenheiro elétrico também derrotado em eleição direta no sul?).  Sua vice é a docente Patrícia Pranke, mas dela não se sabe, ainda, se também é uma receitadora a bangu de cloroquina.

O DCE da UFRGS está convocando Ato Contra a Intervenção para amanhã (17/9), às 13h00, na frente da Reitoria, no centro de Porto Alegre, contando com professores e técnicos. A ver se a velha tradição de luta do povo gaúcho vai barrar esse abuso autoritário de Bolsonaro, que tenta garrotear as IFES por todo o país.

Este esbulho contra a democracia universitária na UFRGS deve acender dezenas de milhares de alertas na comunidade da UFPR que preza por este valor civlizatório, pois, se fizeram numa das grandes IFES do país, como a gaúcha, podem ter toda a cara-de-pau de fazer por aqui também. Alerta geral contra a interventoria!!
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Fonte: fotos do jornal Zero Hora (com alterações deste Blog na foto superior).

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Não tem arroz? Comam cloroquina!

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Na eleição virtual de 1-2 de setembro deste ano, para escolha da futura Reitoria, sabem todos que a Chapa 2 (Ricardo/Graciela) obteve a massacrante votação de 85% (votos válidos) sobre a Chapa 1 (Horácio/Ana Paula). No entanto, com fingida indiferença a essas cifras impressionantes, Horácio e Ana, logo após conhecerem esse resultado, entraram com pedido de impugnação contra o processo. 

O que alega a chapa 1 derrotadíssima? Que o processo de votação eletrônico pode não ter obedecido a protocolos de segurança necessários. Que não teria havido transparência e que os dados eletrônicos poderiam ter sido “contaminados” por programa instalado no computador que totalizou os votos. Claro, assim como a epidemiologista/infectologista/farmacêutica Ana Paula Cherobim tem autoridade para receitar hidroxicloroquina a torto e a direito, o recente especialista em Informática Horácio pontifica em sua avaliação perita sobre a votação virtual. Vale tudo para ser presenteado pelo amigaço despresidente da república com a nomeação à Reitoria, mesmo sem legitimidade perante a comunidade da UFPR. Depois se vê… a confusão colossal que se seguirá. 

Em 10/09, esteve à tarde reunido, dentro do Auditório da Reitoria, o Colégio Eleitoral da UFPR, para compor a lista tríplice de nomes, exigida pela lei. Quase uma centena de manifestantes alunos, técnicos e docentes se fez presente na rua XV, diante do auditório, exigindo que a tradição democrática vinda desde 1985, brandindo a palavra de ordem #RetiraHorácio. Todos devidamente mascarados. Por ali passou ainda barulhenta carreata defendendo a mesma questão. 

Reitor reeleito entra para sessão do Colégio Eleitoral

A Assessoria de Comunicação da UFPR relata: 

Durante a sessão, a Procuradoria Federal da UFPR informou que haveria uma discordância entre o Ministério da Educação e a Secretaria de Assuntos Jurídicos da Presidência da República sobre o entendimento da composição da lista tríplice. Enquanto o parecer do MEC aceita uma lista tríplice com composição parcial, por falta de candidatos, a Secretaria de Assuntos Jurídicos, em documento do dia 9 de setembro de 2020, afirma que a lista deve conter três nomes.” 

Prossegue a ASCOM que, “por decisão da maioria dos conselheiros (62 votos a favor e 2 contra), a sessão foi suspensa até que se tenha segurança jurídica sobre a formação da lista tríplice”. Assim, o CoUn aguardará a resposta do MEC sobre a regra até 24/09.Caso até o dia 24 não haja nenhuma resposta, o Colégio Eleitoral definiu o dia 05 de outubro como data limite para tomar uma decisão.” 

Comentam fontes que puderam estar na sessão do Colégio Eleitoral que o professor Tertuliano estaria “muito nervoso”. Não se duvida muito disso, pois sustentar uma posição antidemocrática dentro de uma Universidade de longa trajetória de lutas progressistas não é nada fácil. Mesmo sendo “amigo do rei”, o reizinho Jair. 

Assim como fontes da área do Direito lá presentes asseveram que o desfecho desse processo todo deve ser favorável à chapa amplamente vitoriosa. O que não significa descuidar da mais acesa vigilância e mobilização da comunidade toda, marcação cerrada mesmo, como se diz em futebol, para que de fato esse desfecho se confirme, reempossando Ricardo Marcelo e Graciela em dezembro deste ano. 

Manifestantes protestam diante do auditório da Reitoria em 10/09

Parafraseando em sentido humorístico a famosa frase atribuída a uma rainha francesa que em 1789 perdeu – literalmente - a cabeça (“Não tem pão? Comam bolos!”), comentou o José Simão no jornal da BandNews, celebrando essa pujante economia brasileira sob Bolsonaro/Guedes: “Não tem arroz? Comam cloroquina!” Afinal, está sobrando no estoque do governo a tal da cloroquina.

Assim como cloroquina não possui nenhuma comprovação científica no trato da COVID-19, a ex-Chapa 1 não tem nenhuma comprovação nem respaldo democráticos na comunidade da UFPR. 

Parasitário Guedes sai já ou amanhã?

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Menos mal que Jair Bolsonaro tenha dado um “fora” na sua equipe econômica – ela ainda existe? – e nas propostas de pura maldade que vinham soltando às dúzias para a imprensa.

Fernando Brito - Blog Tijolaço

Pouco importa se Bolsonaro fez isso por algum remanescente de humanidade que nele sobreviva ou se percebeu que as propostas eram uma bomba atômica sobre o eleitorado de classe média baixa onde consegue seus melhores índices.

Significa mais no que isso vai repercutir na situação econômica do país, com o abandono de qualquer perspectiva de que se continue, em 2021, injetando os recursos que, neste momento, estão “segurando” o agravamento da crise econômica.

Aliás, Paulo Guedes conseguiu, graças à medida que não queria tomar, uma sobrevida, pois seria difícil que sobrevivessse a uma queda do PIB de até 15% sem o auxílio emergencial. Mas é, também, o Ministro da Economia mais desautorizado por um presidente da República que a história já conheceu.

Guedes não tem credibilidade para falar coisa alguma e, se já não tinha projetos econômicos, agora tornou-se mero “contador” do governo.

Contabilidade que, aliás, vai muito mal e que irá pior ainda quando o ano virar e acabar o “cheque especial” do orçamento da pandemia.

Que, aliás, não tem um tostão furado sequer no Orçamento de 2021.

O mundo não vai se acabar dia 31 de dezembro, mas a coisa será bem perto disso com as finanças públicas.

Mas aí, se não antes, Guedes pede pra sair.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Até mais, até logo, professor Dante

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Até desde antes de meu amigo reeleito reitor, Ricardo Marcelo, eu, militante velho da mais antiga Universidade do país, já perturbava esta comunidade com escritos e outras manifestações.  Já escrevi demais sobre democracia e autonomia universitárias.  Sinto cansaço, embora não desistência.  

Aproveito, então, para republicar artigo de meu dileto amigo da Filosofia, professor Emmanuel Appel, e colaboradores, que o lançou na Gazeta do Povo de 17/10/2004, pouco depois de perdermos a altaneira figura de Dante Romanó Jr., meu professor de Angiologia, vice-reitor ao lado de outro eminente mestre, o professor Salamuni.  Aqui vai, Riad, Dante, Carlos Antunes. E então espero que o professor e a professora que disputaram a Reitoria da UFPR pela Chapa 1 inspirem-se em Dante como exemplo ético.


ATÉ MAIS, ATÉ LOGO, PROFESSOR DANTE

Emmanuel Appel, Fábio Muniz, Pedro Costa Neto - Gazeta do Povo * 17/10/2004

Antes de tudo, Dante Romanó Júnior (1929-2004) tinha estatura.  Sua vida foi uma crescente inquietação.  Sempre exigiu mais, sobretudo de si mesmo, construindo-se como um homem ético.   De família conservadora, aluno do tradicional Colégio Santa Maria, membro da Juventude Universitária Católica, formou-se em Medicina e trabalhou como professor na UFPR.  Aí, no Hospital de Clínicas, o contato diário com o sofrimento e a miséria (dadas as condições de vida da maioria dos pacientes e as reiteradas restrições impostas à saúde pública) amplia sua consciência social.  O golpe de 1964 e a repressão política que se segue, atingindo também amigos e alunos, radicalizavam ainda mais seu espírito.  Num período e contexto local muito mais de anátema do que de diálogo, seu humanismo cristão assume valores dos ideários republicano e socialista, implicando - senão a escolha de um novo caminho - a corajosa postura de resistência.  Nos anos mais sombrios da ditadura militar, Dante emprestou solidariedade, deu abrigo e ajudou na fuga de perseguidos políticos.

A sua candidatura à Reitoria da UFPR, em 1985, foi consequência do seu engajamento na organização do movimento docente.  No início do primeiro semestre de 1977, apesar do medo e isolamento impostos à Universidade, alguns colegas, entre camaradas e futuros companheiros, passaram a discutir como organizar os professores tendo por objetivo uma oposição democrática.  Dante estava entre eles e dois anos depois participava da chapa "Universidade Necessária", que disputava, em memorável embate eleitoral, o comando da Associação dos Professores, o que representou um dos momentos de maior ousadia de sua presença cívica.  O seu compromisso com a Universidade pública e democrática pode ser colhido em suas próprias palavras:

"No cartaz de minha campanha [a reitor, em 1985], quando retirei duas colunas do prédio histórico, não foi somente para escancarar as portas de entrada da Universidade, mesmo porque, por tais portas, entrariam preferentemente os filhos da burguesia.  Tenho consciência de que é necessário proceder de forma a que os jovens das camadas populares se encontrem em circunstâncias iguais aos da camada privilegiada, eliminando-se as barreiras econômicas e sociais que impedem seu acesso à Universidade.  É função do Estado garantir esse objetivo, assumindo os custos sociais necessários para anular as discriminações de ordem socioeconômica na realização do curso universitário."

Dante (bem como os estudantes, que em grande número o apoiaram) tinha, assim, a esperança de que o testemunho dos filhos das camadas populares poderia contribuir para mudar o perfil da universidade pública: com as perspectivas e exigências de classe, sem prejuízo da autonomia universitária, influenciariam em seus rumos e pesquisas, tornando a universidade essencial, ao mesmo tempo, para o desenvolvimento do país e para a consolidação da democracia.

Seu compromisso social e sua generosidade manifestam-se igualmente no exercício da medicina e na sua intransigente defesa do Sistema Único de Saúde.  Para Dante, a saúde não se ordena pelas regras do mercado.  A evidência de que a saúde está condicionada pela dimensão do social,, de que os mais altos indicadores de saúde foram conquistados pelas sociedades de maior equidade ("melhor saúde individual onde há melhor bem-estar coletivo", uma de suas premissas)  o levou a participar ativamente das discussões que criaram o programa "Saúde na Família" em Curitiba.  Os canadenses que aqui vieram para ajudar na instituição do "Médico de Família" foram convencidos de que o programa deveria ser ampliado para Saúde na Família.  Dante, com a grandeza da simplicidade, disse-lhes que o médico, apesar da sua evidente importância, não deveria ser senão ator coadjuvante.

Sua vida foi igualmente permeada por uma constante curiosidade intelectual, que se manifestava em traduções de escritos de medicina social, a exemplo dos de Karl Rudolf Virchow, leitor do jovem Engels, "para demonstrar as relações entre pobreza e doença". Também releituras de Guimaraes Rosa, médico educador, "nosso aprend iz do real na travessia".  Graciliano Ramos - mestre do romance social "e da passagem pela escola pública como obrigatória à cidadania".  Visitava ainda Oscar Wilde, "blagueur insuperável", e também autores mais recentes, como Noam Chomsky, ativista do Forum Social Mundial.  

Dante estimulou projetos de caráter socioambiental (em Guaraqueçaba, que tanto gostava de visitar) e interessava-se por botânica, preocupando-se com a preservação da Mata Atlântica.  De sua sua experiência de bolsista em Angiologia (a disciplina que lecionava no curso de Medicina da UFPR) na Argentina (em Rosario) e na Suécia, derivou sua preocupação em propor adequada recepção aos estudantes estrangeiros em Curitiba - bem sabia o significado da hospitalidade e do cosmopolitismo.

Até pouco antes da doença que o abateu, Dante não descuidava dos hábitos físicos, vindos desde os tempos de estudante, quando obteve marcas nacionais na corrida com bastão e em corridas de longo percurso.  Culturalmente, Dante era um garimpeiro, descobria preciosidades, esboçava pistas de trabalho.

O poeta russo Sierguei Iessenin deixa-nos versos para jamais esquecermos de nosso valente professor vice-reitor:

"Até logo, até logo, companheiro,
Guardo-te no meu peito e te asseguro:
O nosso afastamento passageiro
É sinal de um encontro no futuro.
Adeus, amigo, sem mãos nem palavras.
Não faças um sobrolho pensativo.
Se morrer, nesta vida, não é novo,
Tampouco há novidade em estar vivo."


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Esta publicação foi em parte encurtada e editada, mas seu conteúdo corresponde ao espírito dos autores, dedicado à memória desse grande professor da UFPR, cuja morte foi imensamente lamentada por este autor, velando-o no prédio da Reitoria da UFPR.

Custa, seu Jair?

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Resultado da Eleição Direta Virtual à Reitoria da UFPR

* ESTUDANTES:

• Chapa 1: 606

• Chapa 2: 11.889

• Brancos/nulos: 89


*SERVIDORES TÉCNICO-ADMINISTRATIVOS:

• Chapa 1: 510

• Chapa 2: 1.705

• Brancos/nulos: 96


* SERVIDORES DOCENTES: 

• Chapa 1: 397

• Chapa 2: 1.911

• Brancos/nulos: 52

Total: 17.255


** RESULTADO PARITÁRIO:

• Chapa 1: 14,5687%

• Chapa 2: 83,0764%

[o percentual restante para fechar 100% refere-se a votos inválidos]

terça-feira, 1 de setembro de 2020

A nova fase do fascismo e uma sociedade sem futuro

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Em livro de 1993, Robert Kurz analisava: direita radical é filha legítima da democracia. Mas a que se fortalece agora é distinta da que houve no Entreguerras: reacionária e passadista, já é fenômeno da crise estrutural do capitalismo.

Maurílio Botelho - Site Outras Palavras

Lançado em 1993 como um longo artigo, A democracia devora seus filhos [Rio de Janeiro: Ed. Consequência, 2020, 172 pp.] antecipa em muitos aspectos o debate atual sobre o radicalismo de direita e a “morte da democracia”. A persistência do debate é um sintoma importante. Se por todos os lados se afirma que as “instituições democráticas estão em funcionamento”, então por que o fascismo volta à pauta nos meios de comunicação, nas discussões intelectuais e nas manifestações de rua?

Uma resposta imediata é a que entende o fascismo como uma ideologia autoritária sempre à espreita, uma ameaça à sociedade que ganha fôlego toda vez que são acentuadas as tensões e fragilidades sociais. Os liberais tendem a avaliar o fascismo como um risco que se manifesta quando a vigilância democrática é afrouxada – as regrinhas de Umberto Eco para a identificação do comportamento fascista oferecem, assim, um protocolo para “soar o alarme”. O ponto fraco dessas interpretações é que elas fixam o fascismo como um impulso antissocial geral desprovido de conteúdo histórico, algo completamente externo às instituições e, muitas vezes, parte de uma instintiva natureza humana violenta.

Se a “democracia amadureceu”, perguntamos, seguindo Kurz, então como explicar que três décadas de “democratização” no Brasil tenham conduzido a extrema direita ao poder; que o Leste Europeu, depois de três décadas de “choque democrático”, agora se oriente para o radicalismo de direita? Talvez seja possível colocar tudo isso na conta do déficit democrático desses países. Mas, então, como explicar a ascensão da extrema direita nas instituições parlamentares francesas e inglesas, a proliferação dos grupos neonazistas na Alemanha e que a (dita) maior nação democrática do mundo tenha levado ao poder um filho da KKK [Ku Klux Klan] que trata supremacistas brancos como “very fine people”?

Outra linha de interpretação abordou o fascismo não como algo exterior, mas parte integrante da sociedade capitalista. Para Adorno e Horkheimer, na Dialética do Esclarecimento, o fascismo é o outro lado da racionalidade moderna, como uma força inseparável de uma sociedade que maneja meios técnicos avançados, mas permanece inconsciente em relações às determinações básicas da “gigantesca maquinaria econômica que não dá folga a ninguém”. Esse mecanismo converte a dominação em uma adesão inconsciente de todos. 

A comparação entre o Terceiro Reich e Hollywood não era mera estratégia polêmica, mas resultado da reflexão sobre a técnica transformada em autoconservação individual em uma sociedade massificada: sob a forma individualizada ou do “povo” (Volk), a tendência era uma identificação geral com as “potências monstruosas” inauguradas pela produção em série, que culminou na industrialização da morte nos campos de extermínio.

O que se ganhou em enquadramento social – nas palavras famosas de Horkheimer, “quem não quer falar de capitalismo também deve silenciar sobre o fascismo” – foi o que se perdeu em historicidade do fenômeno fascista. A abordagem da Escola de Frankfurt também interpretou o fascismo como uma ameaça sempre latente, ainda que identificasse os vínculos íntimos da massificação promovida pelo mercado e a produção cultural industrializada com o totalitarismo.

Essa indeterminação histórica é o ponto de partida de Robert Kurz para discutir a relação entre fascismo e capitalismo. Em sua análise, o fascismo histórico aparece como um processo de gestação da democracia. A oposição entre fascismo e democracia erra porque apreende momentos ou etapas distintas de um mesmo processo histórico, manejando categorias abstratas (democracia, ditadura, liberdade) sem a sua respectiva moldura temporal...