No meu livro de ficção científica “Nada Mais Será como Antes” (editora Planeta, selo Minotauro), publicado no ano passado, a trama central se desenrola no ano de 2036, enquanto o nosso querido rochedo sideral, já não tão azul, também conhecido por Terra, enfrenta a convergência cataclísmica de múltiplas crises terminais, desencadeadas em grande parte por um modo de vida totalmente insustentável”, imposto goela abaixo para toda humanidade.
Miguel Nicolelis - CNN * 12/01/2025
A sincronização de todas estas crises no ano de 2036 coloca em risco não só a sobrevivência da nossa própria espécie, mas também a viabilidade de todas as outras formas de vida orgânica ao nosso redor.
Do ápice do impacto das mudanças climáticas, que, seguindo um perfeito efeito dominó, desencadearia uma sequência devastadora de eventos mundo afora, como incêndios infernais e furacões e tsunamis jamais vistos, secas prolongadas que quebram safras essenciais e produzem escassez de água potável, queda brutal na produção de energia por fontes renováveis devido à redução do volume das suas barragens de usinas hidrelétricas e até a eclosão de novas pandemias, devido ao surgimento de novos vírus até então desconhecidos da Humanidade, devido ao derretimento das geleiras do Pólo Norte e da Groenlândia! Sim, ela mesma: a Groenlândia! Trump que me perdoe!
Todavia, tragédias como as enchentes no Rio Grande do Sul, a seca épica na região amazônica e os incêndios estarrecedores em Los Angeles neste começo de 2025 começaram a me dar a impressão que, ao invés de ser apenas um livro de ficção científica, o meu enredo tenha rapidamente se transformado num ensaio jornalístico do estado caótico por que passa a Humanidade neste exato momento em que esta coluna está sendo escrita. Ou seja, no presente presentíssimo!
O que era apenas uma desconfiança se transformou em quase certeza quando duas das outras crises existenciais preditas no meu livro para eclodir por volta de 2036 passaram a se tornar totalmente explícitas no nosso momento atual. Na realidade, estas duas crises estão intimamente conectadas, pois uma serve como instrumento fundamental para a manifestação do verdadeiro plano de negócio da segunda. Eu me refiro à primeira como uma serpente – uma Mamba1 Digital, me parece ser a imagem apropriada – de duas cabeças que eu denominei como o “vírus informacional” e a sua gêmea siamesa, conhecida como “a dependência digital”.
Desta Mamba digital de duas cabeças emana o combustível que alimenta a maior de todas as crises previstas na minha ficção científica, mas que claramente está começando a sair da proverbial toca com 11 anos de antecedência. Eu me refiro a um plano de dominação global engendrado pelos Overlords das BigTechs, ou, se vocês preferirem, um “hostile takeover”2 alinhavado pelos cardeais do Culto da Máquina em associação com seus parceiros no mundo das altas finanças, que visa tornar obsoleto os mecanismos tradicionais de governança e funcionamento dos Estados nacionais – incluindo executivo, legislativo e judiciário – por todo planeta...
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1Uma espécie de cobra, muito venenosa.
2Em inglês, “posse hostil”.
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