Devo confessar: eu faço cochilos. Na maior parte dos dias, depois do almoço, você me achará cochilando. Costumava não falar sobre isso por aí. Em outros países, há fortes tradições para siestas, mas nos EUA isso é em geral tratado como preguiça. Em 2019, uma agência federal chegou ao ponto de decretar o banimento desse tipo de dormida em prédios do governo.
Estou tornando público meu hábito para esse tipo de cochilo porque, a despeito do que os burocratas possam pensar, os cientistas do sono cada vez mais deixam claro como é potente esse cochilo. Essa desviada é parte do reconhecimento relativamente recente de que a qualidade e duração do sono são questões de saúde pública, segundo a fisiologista Marta Garaulet, da Universidade de Múrcia, na Espanha.
Por certo tempo, a pesquisa era tanto a favor como contra o cochilo. Muitos estudos demonstraram benefícios no estado de ânimo e cognição após um descanso no meio do dia, embora outros tenham vinculado isso a saúde fraca, especialmente em adultos idosos. Isto levou alguns especialistas a ficarem hesitantes para “prescrever” os tais cochilos. Pesquisa mais recente, entretanto, esclareceu que tipos diferentes de cochiladas resultam em efeitos diferentes. Uma série de cientistas agora pensa que o tempo ideal seja de 20 a 30 minutos.
A urgência para embarcar num sono é governada por dois processos fisiológicos. Um se chama pressão pelo sono homeostático (HSP, em inglês), e cresce à medida que a pessoa está em estado de vigília. O outro envolve ritmos circadianos diários, que deixam qualquer pessoa ligeiramente sonolenta à tarde. Algumas pessoas são cochiladoras habituais mesmo tendo dormido bem à noite. Outras não conseguem fazer isso a não ser que tenham tido insônia severa. Os genes, como aqueles relativos à HSP, pesam muito nessa diferença.
Cochilos curtos de fato produzem benefícios cognitivos, diz Michael Chee, do Centro para o Sono e a Cognição, da Universidade Nacional de Singapura. Em uma análise de 2022, sua equipe encontrou melhoras especialmente significativas para certos tipos de memória, para a velocidade de processamento da informação e a vigilância (capacidade de responder a um evento inesperado, tal como um carro em guinada brusca). Um mero cochilo pode simplesmente fazer muitas pessoas se sentirem melhor. “Ninguém fala muito sobre seu estado de humor”, diz Chee, mas pessoas cansadas tendem a ser resmungonas.
Não custa muito para dormir diante destes incentivos: “Mesmo uma cochilada curta, de 1o minutos, vai dar uma animada”, diz Chee. “Se você se alongar no cochilo, os benefícios cognitivos durariam um pouco mais também”, e isso porque meia hora apresenta-se como uma boa duração de soneca. “Você terá o sono mais leve nesse tempo”, diz Ruth Leong, que trabalha com Chee em Singapura, e que facilita as coisas pra acordar. Leong avisa que as pessoas que trabalham num expediente horário típico para que evitem dormir muito depois das 5 da tarde, para não prejudicar o sono normal da noite.
Os benefícios cognitivos aparecem depois dos cochilos de 30 minutos, mas eles se estendem por mais tempo. Porém, cochilos mais longos fazem com que a pessoa vá para um sono mais profundo e aumente a “inércia do sono”, aquela sensação meio atordoada depois do sono ao despertar. Mesmo que esse “atordoamento” possa passar relativamente rápido e algumas pessoas nem o experimentem, muitas outras acham desagradável.
Cochilos longos estão, entretanto, associados também com problemas de saúde. Em um estudo de 2023 com mais de 3 mil participantes, europeus sadios com média de idade nos 41 anos, Garaulet e associados encontraram que aqueles que cochilavam por mais de 30 minutos de cada vez estavam 23% com maior chance de se tornarem obesos do que os que não cochilavam de jeito nenhum. (A obesidade foi calculada com base no IMC).
Contudo, provavelmente é alguma doença subjacente que pode causar o excesso de cochilo e não outra coisa qualquer. Isso é o que ocorreria, por exemplo, no caso da Doença de Alzheimer. Mesmo em adultos jovens, os pesquisadores descobriram um vínculo entre aumento de inflamação do cérebro e cochilos prolongados. Se alguém necessita de cochilos frequentes, (mais de um por dia), até chegar na hora do sono regular por mais que uma hora, isso seria sinal de patologia, diz Chee.
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Fonte: Short Naps Have Major Benefits for Your Mind
SCIENTIFIC AMERICAN * DECEMBER 1, 2023
LYDIA DENWORTH
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