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quinta-feira, 23 de abril de 2015

Nada de preces para Showtrick - Capítulo 8

- Ele descobriu o esquema, Showtrick - murmurou William Salvatore com o cenho franzido.
- Como? - duvidou Nelly enquanto futucava o ouvido com a tampa de uma caneta Bic.
- O Max Deutsch, eu não sei como, conseguiu a cópia do contrato fajuto de financiamento do Box Bank daquele buraco de Alafaya. Ali aparece que Niels Rifkin e esposa não comprovam renda para poder emprestar 200 mil dólares...
- Mas, ora, Salvatore, contratos assim esse tipo de banco às vezes faz.
- Mas dá na vista, né?
- Não fique grilado, cara, ainda tem muita coisa que pode ser enrolada. Só um contrato de banco não basta pra denunciar nada.
Salvatore grunhiu alguma coisa com sua voz de Pato Donald e resolveu concordar com Nelly Showtrick. Eles acreditavam no fundo que sempre se dariam bem.

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Max precisava de mais documentos depois de ter obtido aquele curioso contrato do Box Bank. Foi até o cartório de Orlando onde costumeiramente a USCU registrava suas atas e encontrou mais um documento que atiçou sua curiosidade. Havia sido registrado ali, poucos dias antes da transação do imóvel de Alafaya, um “Termo de Retificação” assinado por Salvatore, Marla Menganini e outros diretores. Retificava o quê? Uma ata da assembleia de mais de 200 filiados que, meses antes, aprovava a venda do terreno, mas a retificação era para que o terreno pudesse ser desmembrado em seus doze componentes originais. Ué, mas qual a razão desse tipo de ação dos dirigentes da USCU? Tinha algo a ver com o esquema da venda, tinha que ter...

Tendo em mãos o jornal enganador da USCU feito por Marla, a escritura do cartório de Saint Cloud, o contrato do Box Bank mostrando incapacidade de renda do casal comprador e mais o tal "termo de retificação", Max pensou: “Isto já dá um dossiê, sobre o qual a direção da USCU vai ter muito que se explicar.” 

Alguns dias depois, tarde da noite, tiros atravessaram as janelas da casa de Max, que saiu da cama de rastros e foi até o canto da janela, de onde conseguiu ver um SUV preto arrancando da frente de sua casa. Não viu a placa, e é claro que ela estaria camuflada. Percebeu que o assunto estava ficando mais quente.  De manhã, retirou da frente de casa o pombo incauto estraçalhado por uma das balas.

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A voz de Pato Donald de Salvatore ressoou de novo nos ouvidos cheios de cera de Showtrick: “Temos que mudar aquele preço de lote da escritura feita em Saint Cloud. Não vai encaixar no preço total declarado no nosso jornal, cara! Vamos lá em Saint Cloud arrumar isso, refazer a escritura pra não nos perturbarem!”

Os dois dirigentes sindicais foram até Saint Cloud mas o cartorário, num acesso de postura ética, apesar da grana oferecida e com medo de desmoralizar seu negócio, recusou-se a mudar os valores dos lotes. 

Pato Salvatore ficou indignado mas decidiu com seu ceruminoso comparsa Nelly Showtrick ir ao cartório de um velho conhecido em Orlando mesmo, onde refizeram a escritura de Saint Cloud atribuindo a cada lote vendido o valor subfaturado de 5 mil dólares (tinham sido comprados quatro anos antes por 16.500 dólares cada). Com isto, a soma dos valores encaixava com o valor total declarado como entrada no caixa da USCU (250 mil dólares, sendo 200 do financiamento do Box Bank e 50 mil por 10 lotes de 5 mil cada). “Aí, aquele chato do Max não terá mais por onde nos incomodar”, pensou o sindicalista mutreteiro.  Feito o negócio no cartório no fim da tarde, pegaram o carro da USCU e foram pra balada de Orlando.

Um comentário:

PARANÁ disse...

esta narrativa me parece algo familiar! ou é uma pura coincidência?

este pessoal trocam e mudam os documentos como se troca de roupa no dia a dia, tudo na tentativa de acertar o imbróglio que não tem como concertar.