Auditoria confirma déficit de funcionários em hospitais do Paraná. Governo tenta reverter
situação com criação de Fundação, mas sindicatos são contra a
proposta.
Por Maria Gizele da Silva, na Gazeta do Povo
Uma auditoria do Tribunal
de Contas da União (TCU) analisou quatro grandes hospitais do Paraná
e confirmou o que os gestores das unidades já sabiam: o número de
funcionários é insuficiente. O governo do estado tenta resolver o
problema da pouca oferta de leitos e de serviços com a criação da
Fundação Estadual de Atenção à Saúde do Paraná (Funeas), que
poderia contratar profissionais desvinculados das contas do governo e
em regime celetista. A discussão encontra resistência da classe
médica e dos sindicatos.
Há cerca de quatro mil
servidores nos hospitais ligados à Secretaria Estadual de Saúde,
segundo o SindSaúde, que representa a categoria. Nem o TCU nem a
secretaria apresentam uma estimativa do déficit atual.
O Hospital Universitário
Regional, em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, opera com 60% de sua
capacidade em razão, principalmente, da falta de profissionais,
segundo o diretor geral da unidade, Everson Augusto Krum. O hospital
tem uma fundação de apoio ligada à Universidade Estadual de Ponta
Grossa (UEPG).
“Quando abrimos a UTI
adulto não havia médico aprovado em concurso porque não houve
candidato para essa área. Se não fosse a contratação pela
Fundação, não teríamos como abrir a UTI adulto”, comenta Krum.
O problema se estende ao Hospital Universitário de Maringá, no
Norte. A superintendente Magda Oliveira comenta que alguns serviços
foram ampliados em 2010 e que, por isso, os 988 funcionários têm
que fazer horas extras.
A secretária-geral do
SindSaúde, Elaine Rodella, observa que o acúmulo de horas-extras é
prejudicial para o caixa do governo. “Se não pode contratar, o que
o hospital pode fazer? Não dá para deixar uma cirurgia de
emergência para fazer amanhã porque não tem funcionário”,
comenta. Segundo ela, o governo estadual não cumpre a obrigação
constitucional de investir 12% do orçamento em saúde.
A secretaria estadual de
Saúde não comentou a proposta da Fundação e o déficit apurado
pelo TCU. Já o líder de governo na Assembleia Legislativa, Ademar
Traiano (PSDB), retirou de votação no último dia 16 de dezembro o
projeto de lei do Executivo que cria a Fundação. O projeto será
reapresentado em fevereiro.
Ele preferiu não
comentar os pontos polêmicos do projeto. “A Fundação cria
alternativas legais para contratação de funcionários, mas cada
parlamentar tem uma visão”, citou. “Nós do SindSaúde e de mais
40 entidades entendemos que o que está em jogo é quanto vai custar
o contrato de gestão”, afirma Elaine.
O presidente do Conselho
Regional de Medicina (CRM) no Paraná, Maurício Marcondes Ribas,
lembra que a classe médica é desfavorável à proposta da Fundação
porque os médicos pleiteiam a realização de concursos públicos
com a oferta de planos de carreira para os profissionais.
HC precisa de mais 600
funcionários
A auditoria do Tribunal
de Contas da União (TCU) foi feita em julho de 2013 e apresentada no
início de dezembro. Ela abrangeu o Hospital de Clínicas (HC) da
Universidade Federal do Paraná (UFPR) em Curitiba e os hospitais
universitários de Ponta Grossa, Cascavel e Maringá.
O HC, que é ligado ao
governo federal, também enfrenta a carência de recursos humanos.
Faltam pelo menos 600 profissionais, conforme a direção do HC.
Hoje, o hospital tem 2.930 funcionários. Até 1996, foram
contratados servidores em regime celetista por uma fundação de
apoio do hospital, mas a modalidade foi suspensa pelo TCU por
irregularidades. As demais contratações se restringiram ao
Ministério da Educação (MEC) por meio de concurso público.
Uma decisão da Justiça
do Trabalho, em vigor desde outubro do ano passado, ajustou as
escalas de trabalho. A saída encontrada pela direção do HC foi
desativar 94 leitos, porém, 44 deles foram reabertos gradualmente
após um novo remanejamento de profissionais. Atualmente, 50 leitos
ainda estão bloqueados. A direção da instituição informa que são
discutidos acordos para reativar os leitos.
Conclusões
Após vistoria em quatro
hospitais públicos do Paraná, o Tribunal de Contas da União
concluiu que:
• Os hospitais não têm
capacidade para atender as demandas da população. A falta de
profissionais agrava a situação;
• O déficit de
funcionários não pode ser resolvido pelos gestores dos hospitais
nem pelas universidades a que estão vinculados. A situação demanda
a atuação dos governantes e dos parlamentares e, nesse sentido, o
relatório do TCU contribui com a exposição do problema;
• Devido às
limitações, a regulação de leitos torna-se mais relevante e, por
isso, é preciso uma estrutura eficiente de pessoal e de recursos de
informática;
• É preciso mais
clareza no processo de credenciamento de hospitais particulares como
prestadores de serviços ao SUS para que não se corra o risco de
privilegiar alguns estabelecimentos.
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Fonte: Gazeta do Povo - 07/01/2014
Um comentário:
Chegaram a uma conclusão óbvia e já conhecida por todos.
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