A greve nacional da Fasubra iniciada em 17 de
março chega a seu melancólico crepúsculo, apressado ainda mais pela decisão do
STJ de decretá-la abusiva.
Motivada por uma pauta incluindo tanto itens
relativos ao plano de carreira como financeiros, a greve certamente começou legítima,
tanto que foi aprovada pela unanimidade das correntes e lideranças dos
sindicatos federados e da DN-Fasubra.
Entretanto, entre essas correntes e lideranças
havia profundas diferenças na avaliação da conjuntura nacional e da correlação
de forças no embate com o governo. Para
os grupos da ultraesquerda, basta ter uma pauta justa que isso já deve motivar
uma luta sem tréguas ou concessões e a inevitável vitória no final, uma tolice
infantiloide.
Outras correntes, como o caso da CTB, entendiam
que essa greve começava, apesar da justeza da pauta, em conjuntura bem
desfavorável. Vejamos alguns elementos.
1.A economia do mundo permanece em crise crônica,
piorada com a agudização de 2008 verificada nos maiores países (EUA e vários da
Europa). Anúncios recentes de recuperação
são mais desejos dos jornais burgueses americanos e europeus do que fato real. Obviamente que, numa economia globalizada, o
Brasil também sentiria efeitos, ainda que menos duros, refletidos num
crescimento baixo do PIB (todavia, em ambiente de pleno emprego). Isso limita a
capacidade do Estado de investir mais em sua folha de pagamentos.
2.Por causa do item acima, uma pressão imensa
da grande mídia monopolista do país sobre o governo brasileiro no sentido de
cortar gastos (eles dizem “gastança”) com políticas públicas e com a folha de
pagamento do funcionalismo, pressão que funciona muito eficazmente na área da Fazenda
e do MPOG. Disso derivou a intransigência
do MPOG em negociar a parte financeira da pauta da Fasubra.
3.O Acordo Governo-Fasubra na greve de 2012,
prevendo reajustes de 5% anuais escalonados de 2013 a 2015, permitindo ao
governo o confortável argumento de que a Federação dos TAEs assinou tal acordo
e tinha obrigação de cumpri-lo até o final, não cabendo reconsideração no meio do
caminho, como nesta greve de 2014, mesmo que a inflação tenha corroído parte dos
ganhos (foi o principal argumento brandido pelo MPOG). Aqui caberia reavaliar se foi burrice a
Fasubra ter assinado um acordo para tanto tempo (3 anos, em vez de 2 ou mesmo 1).
4.A acirrada e crescente disputa dentro da própria
Federação entre correntes cutistas (CUT), cetebistas (CTB) e conlutistas (Conlutas), também por causa das diferentes avaliações em relação ao governo de Dilma
Rousseff, na medida em que CUT
e CTB lutavam pela pauta fasubrista e os setores ultraesquerdistas lutavam
sobretudo para que a greve fosse mais um momento de desgaste político do
governo federal, inclusive com o objetivo declarado da ultraesquerda de esticar
a greve até a Copa para promover manifestações usando a categoria TAE como
massa de seus atos. Esta disputa é de
dificílima conciliação, envolve ideologia e, a menos que se sobreponha um
anseio maior de unidade no próximo Congresso da Fasubra, existe grande risco de
divisão da Federação, a exemplo do que ocorreu entre os docentes (ANDES x
Proifes). Todos sabemos que o ANDES dos
docentes não conquista mais nada há muitos anos, pelo enfraquecimento
decorrente da divisão sindical de sua entidade nacional.
5.Por fim, dominado pelo ultraesquerdismo, o Comando
Nacional de Greve (CNG) da Fasubra já não consegue mais fazer uma análise cabível
da realidade, vive de discursos e bravatas, objetivamente já nada mais tem a
propor para as bases, as quais, percebendo a anomia e incapacidade, foram aos
poucos decretando saída de greve independentemente do CNG. Um CNG incapaz está agora sendo salvo,
ironicamente, pelo STJ, por este tribunal ter decretado ilegalidade da greve. Com base nesta judicialização da greve, sem dúvida
o ultraesquerdismo se apegará para defender-se e protestar que a greve só foi
encerrada pela ação da justiça federal e pela “sabotagem” de CUT e CTB. Como sempre, o ultraesquerdismo tenta sair da
encalacrada que criou posando de santo.
Não obstante, pode ser que alguma coisa se tire
dessa greve, na medida que algumas pautas locais podem ter-se afirmado perante
reitorias e negociado no sentido do alcance de, por exemplo, jornadas de 30
horas. Se alguns avanços locais
ocorrerem em algumas IFES ,
será pelo menos algum saldo positivo a comemorar nesta fracassada greve de
2014. Não deve ser, contudo, o caso da UFPR.
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