O poeta concreto Augusto de Campos publicou a carta aberta, reproduzida abaixo, onde registra sua indignação pelo uso não autorizado de seu poema Viva Vaia pela Folha de S. Paulo em matéria sobre o comportamento mal educado de setores da elite contra Dilma Rousseff
Por José Carlos Ruy , no Portal Vermelho
Uma versão plástico-visual do poema
Quando o ensaísta e poeta concreto Augusto de Campos compôs o poema Viva Vaia, em 1971, Caetano Veloso (a quem foi dedicado) estava no exilado em Londres, perseguido pela ditadura militar. Na época em que foi publicado, um ano depois, o alvo do poema foi interpretado por muita gente como a ditadura e os chefes militares responsáveis por ela.
Nesta semana, o poema foi alvo de apupos contra outro tipo de autoritarismo - aquele que morre de saudades do regime dos generais. Foi usado pelo jornalão conservador Folha de S. Paulo, de forma indevida e não autorizada pelo autor, para referir-se ao grosseiro comportamento de parte da elite, contra a presidenta Dilma Rousseff, no jogo de abertura da Copa do Mundo de Futebol, em 12 de junho.
A resposta do poeta teve a dignidade - que o jornal conservador não repetiu - de recolocar as coisas em seus lugares e dirigir a vaia não contra a presidenta mas contra a elite endinheirada e mal-educada que usou palavrões de baixo calão para manifestar-se contra a presidenta.
Augusto de Campos divulgou a carta aberta reproduzida abaixo, e deixou claro duas coisas: primeiro, sua indignação contra o uso indevido de sua obra; segundo, vaiou os vips anti-Dilma e externou, mais uma vez, seu apoio à presidenta.
Aos 83 anos de idade, Augusto de Campos nunca recuou da posição de vanguarda que há mais de 60 anos marca sua ação literária. A mesma posição de vanguarda que mantém, nestas décadas todas, no campo político e democrático.
Salve, Augusto!
A carta que registou a indignação do poeta:
“Prezados Senhores.
Esse jornal utilizou, em 14 de junho de 2014, com grande destaque, o poema VIVA VAIA, de minha autoria, como ilustração de matéria ambígua sobre os insultos recebidos pela presidente Dilma, na partida inicial da seleção.
Utilizou-o, sem minha autorização e sem pagar direitos autorais: sem me dar a mínima satisfação.
Poupo-me de comentar a insólita atitude da FOLHA, a quem eu poderia processar, se quisesse, pelo uso indevido de texto de minha autoria.
A matéria publicada, composta de três artigos e do meu poema, cercado de legendas sensacionalistas, deixa dúvidas sobre a validade dos xingamentos da torcida, ainda que majoritariamente os condene, e por tabela me envolve nessa forjada querela.
A brutalidade da conduta de alguns torcedores, que configura até crime de injúria, mereceria pronta e incisiva condenação e não dubitativa cobertura, abonada por um poema meu publicado fora de contexto.
Os xingamentos, procedentes da área vip, onde se situa gente abastada e conservadora, evidenciam apenas o boçalidade e a truculência que é o reverso da medalha do nosso futebol, assim como a inferioridade civilizatória do brasileiro em relação aos outros povos.
Escreveu, certa vez, Fernando Pessoa: “a estupidez achou sempre o que quis». Como se viu, até os candidatos de oposição tiveram a desfaçatez de se rejubilarem com os palavrões espúrios. Pois eu lhes digo. VIVA DILMA. VAIA AOS VIPS.”
Augusto de Campos
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