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sexta-feira, 15 de novembro de 2024

A vida boa dos líderes do homem-bomba em Santa Catarina

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Um dos debates mais intensos e mais cansativos, desde as explosões na Praça dos Três Poderes, se dá em torno das possíveis anormalidades de comportamento do homem-bomba.


Se era transtornado, atormentado ou se estava em surto. É preciso encontrar uma patologia psíquica que explique o desatino do morto, que acusava William Bonner de ser comunista, e ao lado de José Sarney.

E assim vai ficando submersa, como se fosse uma subpauta, a pauta maior sobre o que essa figura representa: Francisco Wanderley Luiz, o Tio França, era um soldadinho e se junta, agora como primeira vítima fatal, aos transtornados, atormentados e desatinados do 8 de janeiro de 2023.

Tio França era quase nada na estrutura do fascismo que ainda lateja. Apenas produziu o gesto mais espetacular. Os líderes dele no seu Estado, todos encobertos, ficam mais protegidos. Nem a grande imprensa deseja expô-los, porque ainda têm o poder do dinheiro.

Tio França era da mesma turma de Fátima de Tubarão. E deveria ter afinidades com os grupos de atormentados que chegaram a tentar conexões com marcianos pelo celular, nos acampamentos armados no entorno dos quartéis.

Tinha o mesmo perfil dos alucinados que cantavam o hino nacional para um pneu no meio da estrada bloqueada. Pode ter sido negacionista, antivacina, anticiência. Deve ter pregado o terraplanismo com ardor. Tudo normal.

Mas continuará sendo, na sua normalidade, apenas um soldado da extrema direita, o primeiro a ter tombado. Um soldadinho raso empurrado para uma guerra em que os generais fardados e civis não aparecem.

Tio França era de Rio do Sul, no entorno do triângulo do mais intenso ativismo bolsonarista de Santa Catarina, formado por Balneário Camboriú, Brusque e Itajaí. Era ligado ao PL de Bolsonaro e sem relevância no partido, como quase todos os que invadiram Brasília.

Tão irrelevante quanto os que fecharam estradas por ordem dos patrões golpistas donos de transportadoras e de caminhões de grandes lojas do varejo. Tão sem importância que não terá nenhuma homenagem dos parceiros no velório.

E discutem se era um homem transtornado, pela separação da esposa, e se isso explica seu desatino. Quando se sabe que todos os que fazem o que ele fez estão sob tormentos pessoais ou coletivos.

Visto assim, como avulso, o homem-bomba favorece a tentação do clichê do lobo solitário, do sujeito que decide acabar com a vida fazendo um gesto político em direção aos seus. Vou morrer, mas também vou tentar matar Alexandre de Moraes, ou só fingir que tentei.

O homem foi mesmo um recruta nas mãos de chefões impunes do Estado mais extremista e mais furiosamente bolsonarista. Com os mais dedicados grandes empresários à causa do golpe.

Gente poderosa, tão poderosa que até hoje não foi alcançada pelo sistema de Justiça. Que leva uma vida boa, continua articulada e conta com figuras como Tio França para que a guerra continue, mesmo que de forma caótica.

O homem-bomba não é, pelo fato de que morreu, um ativista fora da curva. Ele é mais um mané levado ao sacrifício pelos que quase nunca aparecem, que ainda financiam o extremismo, que sustentaram o gabinete do ódio e que hoje estão quietos.

Vamos deixar de lado essa tentativa de identificar as síndromes do homem-bomba, porque o nome disso é escapismo. Dediquem-se ao que está por trás do seu gesto: o poder intacto do QG do fascismo, no Estado mais estigmatizado pelo bolsonarismo.

Tuberculose: nas vacinas, uma esperança

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A doença é a mais letal e a mais antiga do mundo. Três imunizantes que podem contê-la estão em fase avançada de estudos – e um Conselho Acelerador da OMS busca direcionar investimentos e traçar estratégias para distribuí-la de forma igualitária

Health Policy Watch
Nesta semana, especialistas e formuladores de políticas estão reunidos na Conferência Mundial sobre Saúde Pulmonar da organização The Union para discutir a tuberculose. Trata-se da doença infecciosa mais letal e mais negligenciada do mundo. Desde o início do século 20, mais de um bilhão de pessoas morreram de tuberculose – um número de mortes maior que o de malária, varíola, HIV/AIDS, cólera, peste e gripe combinados.

A meta oficial da ONU de reduzir as mortes por tuberculose em 75% entre 2015 e 2025 agora está fora de alcance. E muitos acreditam que a meta de 2030, de reduzir a doença em 90%, também será difícil de ser conquistada – a menos que haja um aumento urgente nos investimentos em novas ferramentas que ajudem a controlar a curva da epidemia.

Os avanços científicos na tuberculose, nos últimos cinco anos, estão trazendo mudanças importantes na forma como a doença é tratada. Outro fator importante: também avançam as pesquisas que possibilitarão o desenvolvimento de uma vacina há muito esperada – historicamente necessária para acabar com a crise de saúde pública causada pela tuberculose.

A vacina BCG (Bacillus Calmette-Guérin), com mais de 100 anos, ainda é a única que ajuda a prevenir a tuberculose. Ela é administrada principalmente em bebês e crianças para prevenir formas mais graves, como a meningite tuberculosa, que afeta o cérebro. No entanto, a vacina é essencialmente ineficaz para os mais de nove milhões de adultos e adolescentes que desenvolvem a doença a cada ano.

Isso pode mudar nos próximos anos, se uma das três vacinas preventivas atualmente em fase III de testes demonstrar segurança e eficácia. São elas: a MTBVAC, financiada pela IAVI e Biofabri; a M72/AS01E, apoiada pelo Gates Medical Research Institute; e a candidata VPM1002 do Instituto Serum.

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Fonte: "Outra Saúde", seção do Site Outras Palavras

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Trump lelé da cuca

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O presidente Donald Trump, malucamente eleito pelo povo dos EUA (apesar de que lá o voto final é indireto, num colégio eleitoral) estaria dando sinais de demência? Essa é uma opinião pessoal do renomado neurocientista brasieiro Miguel Nicolelis, compartilhada por diversos psiquiatras.

Em entrevista recente concedida ao jornalista Luis Nassif, o neurocientista comenta que, em suas aparições públicas, Trump faz micagens, declarações nada a ver e falas desconexas.  Que o fascista eleito nos EUA é meio doido mesmo, isso se sabe, mas se está com o cérebro derretendo, a conferir.  Em breve talvez ele passe a ser chamado de Donald Alzheimer Trump.

Há mais de dez tipos de demências, mas oito principais.

Redução da jornada: a luta contra a escala 6x1

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Uma das antigas dirigentes da FASUBRA, ligada à UFBA, é a deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA), que é co-autora da 
PEC que acaba com a escala de trabalho 6X1 (6 dias de trabalho com apenas 1 dia de folga a cada semana). Não se trata apenas de uma alteração na carga horária, mas representará uma mudança significativa na vida dos trabalhadores.  E redução de jornada de trabalho é bandeira histórica da classe trabalhadora, que vem desde o século 19, quando havia jornadas de 10, até de 14 horas por dia.

Sempre estive ao lado dos trabalhadores e essa PEC não é apenas uma mudança na carga horária; é uma mudança na qualidade de vida do trabalhador brasileiro. Queremos construir um país onde o trabalho e o bem-estar andem lado a lado”, disse a deputada baiana Alice.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC), da deputada Erika Hilton (PSOL-SP), propõe 36 horas de trabalho semanal com três dias de folga, a escala 4X3, sem a redução de salário.

Para iniciar a tramitação pela Câmara, ela precisa de 171 assinaturas de deputados/as. O assunto viralizou nas redes sociais e tem impulsionado a adesão à PEC. Até o final da tarde desta segunda-feira (11), a deputada já havia recebido o apoio de 135 parlamentares.

Com a minha articulação no Congresso e a pressão política nas redes, muitos deputados têm se movimentado para assinar a PEC, e ela está avançando rápido, numa velocidade acima da média”, diz a parlamentar.

De acordo com Erika, a escala e jornada são possíveis, pois a atual carga horária é “desumana”.

Deu certo onde foram aplicadas, e representariam um salto em qualidade de vida da população nunca visto em um país em desenvolvimento. Isso, conforme os estudos e exemplos disponíveis, sem causar danos à economia, inclusive podendo potencializá-la, gerando mais empregos e reduzindo a desigualdade”, diz a autora da PEC.

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Fonte: Portal Vermelho

Diretoria do Sinditest se expõe perante a categoria com graves fraturas

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É curioso. Mas preocupante.  A própria imprensa sindical mostra as rachaduras da diretoria do Sinditest, como se infere da matéria "
Tensão na diretoria do Sinditest - Conselheiros do Conselho Fiscal pedem desligamento por divergências internas".  Já se sabia, de algumas semanas atrás, que diretores ligados a duas tendências internas (derivadas de correntes políticas correlatas na FASUBRA) vinham se desentendendo e se bicando.  A coisa parece ter piorado, quando agora são os membros do Conselho Fiscal (que deve apresentar as prestações de contas regularmente) que renunciam, deixando registrado um documento de graves críticas e acusações.

Servidores da Oposição sindical sorriem, talvez mesmo gargalhem, mas é um tanto melancólico ver esse fenômeno de divisão numa diretoria que deve orientar toda a categoria em suas lutas, e não só as nacionais.  Isso depois de uma greve nacional da FASUBRA, no primeiro semestre, que coesionou razoavelmente bem a base dos TAEs, e, embora sem alcançar sua pauta principal, foi momento de retomada dos embates do movimento e de surgimento de novos militantes e lideranças, alguns que jamais haviam participado de greves.

Na Diretoria do Sinditest, há uma rixa entre os grupos "Unir", ligado à CUT, e "Travessia", ambas correntes internas nacionais da FASUBRA e que tem militantes nos estados.

Para maiores esclarecimentos, indicamos ir ao link acima postado, que remete à matéria publicada pela diretora Elis no site sindical.  Adiantamos que as motivações  da renúncia dos membros do CF foram basicamente questionar decisões tomadas não de forma colegiada/coletiva na Diretoria, apenas por alguns diretores sindicais, e falta de transparência envolvendo as contas da entidade.

Lamentamos o que está ocorrendo, pois, por um lado, hoje o sindicalismo não está com essa bola toda no país inteiro e a conjuntura política, mesmo sob o governo democrático-popular de Lula exige muita unidade para novas lutas. Priorizar interesses menores e grupistas não ajuda.

domingo, 20 de outubro de 2024

Vômito versus cocô

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Meu finado amigo João Batista contemplava lá de cima, do céu, o inextricável cenário eleitoral do 2. turno de Curitiba. Na nuvem a seu lado, o também falecido reitor Ocyron, que alcunhava Batista, nas sessões do Conselho Universitário da UFPR, de “o intrépido gozador”, também assistia àquela menoscabável disputa.

Aparecendo-me em sonho, com seu infalível martelinho na mão, Batista me expôs a metáfora comparativa que vai a seguir.

“Imagine, caro velho amigo Nitsche”, começou Batista, “que você tenha que tomar uma decisão sobre uma situação desagradável. Você tem que tomar alguma decisão. Para você comer, diante de si tem uma porção de vômito e uma porção de fezes, e tem que decidir quanto a qual dessas inefáveis porções excrementais optar para deglutir.”

“Que asco, Batista! Não dá para aceitar fazer escolhas nessa situação!”, eu replico.

“Eu sei, amigo Nitsche”, retruca Batista. “Mas, aqui, não importa por quais constrangimentos, você está obrigado a assumir uma opção – sair correndo para longe, com nojo e fechando as narinas com a mão; olhar para as opções e negar-se peremptoriamente a fazer uma escolha; optar por uma das desagradáveis porções sobre as quais moscas já sobrevoam. O que você decide?”, cobra o Batista.

“Ah, Batista, agora me confundiu…”, fico eu redarguindo entre muxoxos.

“Reflita amigo: Eduardo Pimentel é o vômito. Cristina Gremlins é o cocô.  Ambos dejetos do organismo, um saindo por cima e outro saindo por baixo. Se você sair correndo para longe, isso é não ir votar no dia 27. Se você meramente se recusar a uma decisão, isso é seu voto nulo. Então, a tomada de posição racional é comer o vômito, que, aliás, tem no meio um resto semidigerido de salsicha(*). E, claro, recusar de plano a bosta dita durinha, embora possa até aparentar estar meio cheirosa. Entendeu?”

“Meu velho Batista, confesso que não alcancei o significado do gesto pelo vômito! Mixplica!”

“Ora, pense nos conteúdos das duas porções nojentas. Um vômito é constituído por alimentos semidigeridos, suco gástrico demolidor (enzimas, ácido clorídrico) e pouquíssimas bactérias viáveis por causa da ação desse suco derretedor. O cocô, por sua vez, além de representar a sobra inservível dos alimentos ingeridos, é constituído por grande massa apenas de muitos milhões de bactérias, tanto as boas como as patogênicas, as quais, se comidas, podem causar um problemão para o organismo. Assim, o vômito seria menos perigoso que a bosta. Fica mais claro?”

“É, assim posto, parece mais claro e lógico”, entrego-me eu, no sonho, rendendo-me à racionalidade do meu finado amigo Batista. “Mas que é nojento, é!”

E Batista: “Pois é, mas quando a política não é percorrida por numerosos traços nojentos?”
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(*)A salsichinha no meio do vômito corresponde à figura asquerosa do mega-reacionário Paulo Martins, candidato a vice de Pimentel.

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Por que precisamos tomar reforços da vacina da COVID tão frequentemente

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Imagem de microscópio do vírus da COVID-19

Pessoas que tomaram múltiplas doses vacinais para COVID mas também se infectaram com o SARS-CoV-2 (vírus causador da COVID) possuem a mais robusta imunidade contra a doença. Mas mesmo essas podem ainda sofrer surtos de COVID-19, e crescentes evidências sugerem que não é meramente porque o virus desenvolve variantes que enganam um sistema imune já instruído. Um novo estudo sugere que um pouco conhecido tipo de célula imune na medula óssea desempenharia papel importante nesta falha.

Pesquisadores descobriram que pessoas que receberam doses repetidas das vacinas de RNA mensageiro (mRNA) para COVID-19, e, em alguns casos contraíram a infecão com o SARS-CoV-2, falharam bastante em criar células produtoras de anticorpos chamadas células plasmáticas de vida longa (LLPCs, na sigla em inglês). Muitas respostas imunes diferentes ajudam a nos proteger contra o vírus, mas anticorpos circulantes jogam papel crítico, e a equipe de pesquisa liderada pelos imunologistas Frances Eun-Hyung Lee e Doan Nguyen sugerem uma maneira de elaborar vacinas que produzem mais LLPCs e, por sua vez, proteção mais duradoura.

Na produção de LLPCs, como a destilação de liquor, requer-se diversos passos. O processo começa quando células B “inocentes” encontram um virus ou um pedaço dele, tal como a proteína de superfície do SARS-CoV-2 codificada pelas vacinas de mRNA e exposta nas células humanas. O espaçamento entre as proteínas do “espinho” ('spikes'; o vírus parece um porco-espinho esférico) da superfície do vírus ou uma célula humana afeta o destino subsequente da célula B: se os “espinhos” estão bem próximos, os receptores em formato de Y das células B podem fazer um”link cruzado” com duas proteínas virais, o que leva à formação de LLPCs. Mas o SARS-CoV-2, por sua vez, tem largamente espaçado mais os “espinhos” em sua superfície, o que dificulta o link cruzado.

O ponto de partida é que isso pode ajudar a “evitar as lacunas”: se as vacinas de COVID-19 apresentaram “espinhos” com menor espaço entre eles, isso poderia levar a níveis mais altos de LLPCs e proteção mais duradoura. “A má notícia é uma falha das próprias vacinas mRNA anti-SARS-CoV-2 - com ou sem infecções naturais – em induzir formação de LLPCs na medula óssea”, diz Nguyen. “A notícia boa é que esta falha, em si, provê oportunidades de pesquisa para achar um jeito de mudar para melhor o destino de vacinas de curta atuação.”
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Entre Gremlin(s) e 'Pimentel no dos outros é...'

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Viemos de assistir a um patético debate, promovido pelo Grupo Band, entre as duas candidaturas à Prefeitura de Curitiba, que restaram da eleição de 1o. Turno. O pleito do 2o. Turno ocorre em 27/10/2024.

Os dois postulantes pertencem ao campo da direita paranaense, embora a candidata Cristina faça questão de se apresentar ao eleitorado como a “mais de direita”. E durante esse dito debate preocuparam-se bastante em se fazer acusações e ataques abaixo da linha de cintura. Chegou-se ao ridículo de discutir quem seria mais ligado ao meio abalado bolsonarismo fascistoide

Como diz o velho ditado, “Pimentel no dos outros é refresco”, e, apesar de o neto do governador Paulo Pimentel falar muito em propostas, propostas, propostas, fato é que, se não há mobilização popular de cobranças e indignações, muita proposta que aparenta ser boa paa o povo, não sai do papel. Ou, pior, fica apenas no papel da propaganda eleitoral e nem vira projeto real, com recursos concretos para que se viabilize.

Quem aí se lembra do filme de terror de 1984 chamado “Gremlins”? Nele, há bichinhos que parecem ser ursinhos fofos de pelúcia, simpáticos e sorridentes. Porém, se lhes cair água em cima ou se forem alimentados depois da meia-noite, eles se metamorfoseiam em monstrinhos diabólicos, aterrorizantes, agressivos e bagunceiros na cidade toda (trailer do filme no youtube). Pois é, assim pode ser a candidata Cristina. Cristina Gremlin. Portanto, cautela.

Reminiscências da "Júlia"

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Degustando térmitas

No verão era comum nossa casa de Paranaguá (a maior parte feita de madeira) ser invadida por nuvens de milhares e milhares de cupins, cobiçosos de nos devorar paredes, portas, móveis, o que fosse feito de madeira para seus germes simbiônticos intestinais ajudarem na digestão. Claro que muitos desses insetos viravam banquete para as numerosas lagartixas correndo vorazes pelas paredes onde eles pousavam.
Para provocar nojo em minhas irmãs eu comia alguns térmitas ainda vivos, com asinhas e tudo. Ora, chineses comem essas coisas, cruas ou fritas. E no cultuado filme “Estômago”, com várias locações feitas em Curitiba, o personagem principal, que é cozinheiro e está preso, prepara uma farofa de formigas fritas para agradar seus colegas de cela; eles se lambuzam comendo o prato diferente, mas não ficam lá muito felizes ao saber qual o ingrediente principal da farofa…

Além disso, eu também oferecia refeições cupinzentas para Elizabeth, minha aranha de estimação, em seu terrário.



Piromania

Reconheço que, na infância em Paranaguá, eu tinha certo impulso mórbido por fogo. Inseria bombinhas juninas num buraco feito no caule do mamoeiro (havia muitos em nosso quintal) só para ver o efeito implosivo sobre a coluna central da indefesa árvore, o que levava minha mãe à perplexidade e momentos de cólera. Mas nunca levei surra por isso.
A surra que eu merecia foi quando, insensato, incendei um velho colchão de palhinha no porão, imediatamente abaixo de onde ficava, na parte de cima, a cozinha da casa.. Felizmente o fogo foi contido a tempo, ou poderia haver uma explosão daquelas por causa do bujão de gás da cozinha.
Mais tarde eu me limitei a usar controladamente um bico de Bunsen no pequeno laboratório químico no meu quarte.


Hey Jude e minha amiga da praia

Lá pelos fins de 68, fui convidado a uns dias na Praia de Leste, a convite de uma vizinha. Também foi a sobrinha dessa vizinha, muito jovial e já conhecendo algumas músicas e bandas daquela época. Uma das bandas eram os Beatles, e ela tinha um disco (acho que um compacto) com a famosa canção “Hey Jude”. Até então, eu nunca tinha conhecido a música. Minha amiga me chamou à sala para ouvir e eu, bobo – acostumado a só ouvir música brasileira dos anos 50 e 60 dos LP’s do meu pai (sessões domingueiras em casa) – detestei “Heu Jude”. Além disso, mal sabia inglês. Se não fosse tão conservador então, careta mesmo, provavelmente eu ouviria muitas sessões da playlist da turma de Liverpool. E talvez tivesse um tipo um pouco diferente de “sessões” com minha bonita amiga.


Abacateiro – plataforma de paraquedismo e moita de voyeurismo

Já escrevi antes, publicadas no Blog “Na Luta”, umas quatro “Crônicas do Abacateiro’, um dos meus refúgios na parte mais dos fundos do quintal da casa de Paranaguá. Talvez não tenha relatado que uma das ideias de piá doido foi testar se um guarda-chuva serviria como pára-quedas. Para isso, subi com dito cujo a um galho do abacateiro talvez a um galho a uns 12 metros do chão, abri o guarda-chuva e me atirei ao solo. Claro que me esborrachei, contudo a areia na frente da árvoes era fofa e só restei com umas escoriações num joelho. Entretanto, fiz o teste experimentando em mim mesmo. Mais sensato do que o padre de Paranaguá que queria subir aos ceús pendurado em centenas de balões de gás de festa infantil e desapareceu.
Sobre a questão do voyeurismo, deu-se porque um amigo meu havia comprado uma luneta e convidou a um outro e a mim para “frestar” uma moça cuja casa ficava a uns 20 metros distante do fundo do meu quintal, e, quase sempre que ela chegava da escola, trocava de roupa com a janela aberta. Bem,esta “experiência” dos meninos voyeuristas deu certo, e saímos contentes do fundo do quintal.

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Aranhas forçam vagalumes machos a piscar como se fossem fêmeas - atraindo mais machos para a morte

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Acima, uma aranha agarra um vagalume macho e o força a piscar como quer

Um estudo assinala a primeira vez em que cientistas observaram este tipo de comportamento "manipulador" em aranhas

À medida que o sol vai se pondo sobre os campos e lagoas de arrozais em Wuhan, na China, vagalumes machos buscam o piscar distinto das fêmeas. Mas o que parece ser uma oportunidade para acasalar pode virar uma emboscada mortal. Algumas aranhas tecedoras de teias esféricas forçam os vagalumes machos presos nelas a imitar os flashes das vagalumes fêmeas, relatam pesquisadores na revista Current Biology, fazendo com que mais vagalumes machos também sejam pegos nas teias aracnídicas.

"É um estudo realmente fascinante", diz Sara Lewis, bióloga emérita da Universidade Tufts, que não participou desse estudo. Vagalumes machos às vezes mudam os padrões de seus flashes quando buscam se diferenciar em meio a outros machos, observa ela, mas este novo estudo é o primeiro a documentar uma alteração de padrão potencialmente deflagrado por um predador.

Dentre os vagalumes tropicais asiáticos da espécie Abscondita terminalis, tanto machos como fêmeas piscam para atrair parceiras(os), mas seus padrões de flash não são iguais. Fêmeas produzem pulsos singulares lentos, a partir de uma única "lanterna" em seus abdomes, enquanto que os machos piscam em rápida sucessão a partir de duas "lanternas" abdominais.

Ambos os sexos de vagalumes costumam ser presas fáceis da Araneus ventricosus, uma aranha tecelã de teia esférica que existe na China. Contudo, durante seus trabalhos de campo em Wuhan, Xinhua Fu, um biólogo da Universidade Agrícola de Huazhong, observou várias teias somente com vagalumes machos capturados nelas. Então, ele se perguntou se os aracnídeos estariam manipulando esses machos aprisionados para atrair ainda mais presas masculinas...

[No link abaixo o artigo completo, em inglês]
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quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Simão Bacamarte para salvar o Brasil das Bets

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Nenhum contribuinte poderá declarar à Receita que enriqueceu jogando em cassino clandestino. Mas se o cassino é legalizado, pode.


A iniciativa do vice-presidente e Ministro da Indústria e Comércio Geraldo Alckmin de convocar reunião com a Ministra da Saúde, Nísia Trindade, e representantes do Ministério da Saúde e da Justiça para tratar da regulamentação de jogos online e bets, é a primeira iniciativa saudável do governo em relação ao tema.

Segundo o Banco Central, os brasileiros gastam cerca de R$ 20 bilhões por mês com apostas on-line.

A posição do Ministro da Fazenda Fernando Haddad é a de que “o governo vai enfrentar a “dependência psicológica dos jogos” no país. Ele anunciou que a Fazenda vai bloquear a partir de 1º de outubro as empresas de apostas online que ainda não se regularizaram”. Como o vício não separa cassino oficializado de não oficializado, o Brasil acaba de lançar o cassino com filtro.

É curiosa essa pressão da Faria Lima [avenida-símbolo do mercado financeiro, dos ricaços do grande capital financeiro] sobre os gastos públicos. É um carnaval diuturno, estimulado por um jornalismo de quinta categoria, incumbido de espalhar bicho-papão para a classe média. E o governo não se vê em condições de enfrentar a Faria Lima, já que tem que administrar o pior Congresso da história.

Fica-se então nesse gradualismo em que, a cada dia, derruba-se mais um princípio norteador da civilização – já que a divisão esquerda-direita não existe mais, mas resiste bravamente a frente civilizatória. A frente deixa entrar um pouquinho votando contra saidinhas de preso e outras concessões que, somadas, mata qualquer veleidade programática para 2026.

Agora, com a legalização do cassino, finalmente o governo conseguiu juntar o bloco civilizatório, independentemente da cor política, todas as pessoas dotadas de um mínimo de bom senso se indignaram com essa loucura, de legalização do jogo. Foi o momento em que os evangélicos mostraram muito mais bom senso que os burocratas.

O que se conseguirá com a legalização?

Certamente facilitará a lavagem de dinheiro. Nenhum contribuinte poderá declarar à Receita que enriqueceu jogando em cassino clandestino. Mas se o cassino é legalizado, pode. O famoso deputado da CPI dos Anões do Orçamento, que dizia ter vencido dezenas de vezes na Loteria Esportiva, mentia, mas dentro da lei: a Esportiva da Caixa é legalizada.

Apesar de o Nelson Motta ter declarado que não existe corrupção no jogo, que se trata da atividade mais fiscalizada pela Receita – sabe-se lá o que o levou a essa conclusão -, lavar dinheiro com Bet legalizada é simples. A Receita sabe o que entra e o que sai de dinheiro.

Mas suponha um sujeito que quer lavar R$ 20 milhões. Basta acertar com o dono da Bet que programará o algoritmo para premiá-lo e entregar a ele o prêmio de R$ 15 milhões. O restante é comissão. É atividade de menor risco do que lavar dinheiro em igreja neopentecostal.

Mas, se for acatada a proposta de que as bets serão responsáveis pelo tratamento aos viciados, será uma festa. Veremos, do mesmo modo, milhões de famílias destruídas, lares desfeitos, mas os louquinhos pelo jogo estarão apinhados em hospitais psiquiátricos, bancados pela benevolência das bets.

Provavelmente, a terapia será submetê-los a jogos de dama. E a única aposta permitida será em torno do crescimento diário da arrecadação da Receita com o jogo.
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P.S.: Simão Bacamarte é o personagem do conto de Machado de Assis, "O Alienista", que é médico e resolve abrir um hospício numa pequena cidade do Rio, a "Casa Verde".  Ele se investe da condição de psiquiatra e vai aos poucos internando os habitantes da cidadezinha, até que praticamente todos estão lá internados, restando apenas ele como o único "normal".  Leiam!

terça-feira, 24 de setembro de 2024

A reação de autoridades ao discurso de Lula na Organização das Nações Unidas

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O discurso do presidente Lula na Assembleia Geral da ONU desta terça (24) foi elogiado por representantes de diversos países, mas recebeu reprovação da delegação de Israel e do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. O petista criticou potências mundiais, a atual estrutura do órgão e a concentração de poder durante sua fala.

Lula foi muito bem, principalmente ao colocar os emergentes e os países pobres no centro. Ele tocou num tema delicado: como somos nós quem financiamos os ricos”, afirmou Xanana Gusmão, primeiro-ministro do Timor Leste, à coluna de Jamil Chade no UOL.

O presidente também fez uma referência à presença de Mahmoud Abbas, presidente palestino, que esteve ao lado dos demais países da ONU pela primeira vez em 80 anos. O gesto foi celebrado por um delegado palestino, que apontou que a menção “ficará em sua história”.

Lula também reclamou da falta de representatividade da entidade, da ausência de representantes africanos e latino-americanos no Conselho de Segurança e do poder de veto dos Estados Unidos no colegiado. As declarações foram vistas de forma positiva e um diplomata sul-africano apontou que “essa relação precisa ser explicitada aos poderosos”.

O petista ainda criticou gastos com armas para guerras, as sanções americanas contra Cuba e o abandono do Haiti pela comunidade internacional. Ele defendeu uma proposta de diálogo de paz para acabar com a guerra na Ucrânia e chamou os ataques de Israel a Gaza de “direito de vingança”.

O presidente ucraniano demonstrou insatisfação após a fala do presidente, enquanto a delegação israelense presente na Assembleia Geral decidiu não aplaudi-lo.
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Fonte:DCM

Como a febre nos ajuda a combater agentes patogênicos - mas também pode estimular surgimento de câncer

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Qualquer um que já sofreu miseravelmente prostrado numa cama, assolado por dores musculares e calafrios, já provavelmente se perguntou por que ficamos febris quando adoecidos. Mas os cientistas não sabem com certeza se a febre é um desafortunado subproduto da infecção ou se realmente ela nos ajuda a combater o agente patogênico. Recentemente, um estudo sugere que temperaturas elevadas ajudam a entender melhor como as células imunes se comportam - para o bem e para o mal.

Pesquisadores investigaram como as células brancas do sangue (leucócitos) chamadas células T, que realizam boa parte do "trabalho sujo" na destruição de patógenos, reagem frente a diferentes temperaturas acima do nível normal do corpo. Quando a equipe do estudo elevou o termostato para 39 graus Celsius, observou que as células T reguladoras, que atuam como um freio na resposta imune, silenciavam, enquanto os "guerreiros" imunológicos mais ardorosos - as chamadas células T CD4 - aceleravam sua atividade e proliferação. Isso significa que as células que mais ativamente lutam contra a infecção ficam mais poderosas ao fazerem-no - exatamente o que você iria querer estando adoecida por alguma causa.

O lado negativo, no entanto, é que o calor elevado estragava as mitocôndrias das células T auxiliadoras, as quais apoiam as células T CD4, tornando-as mais propensas a produzir moléculas que podem danificar o DNA. Isto é, o calor - seja o da febre, ou de sua mais localizada contrapartida, a inflamação - pode estimular alterações cancerosas, especula a equipe desse estudo. "Um pouco de febre é bom, mas febre muito alta é ruim", diz o co-autor da pesquisa, Jeff Rathmell.
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Fonte: Science Immunology - 20/09/2024

domingo, 22 de setembro de 2024

Chapa 3 vence Consulta Direta para Reitoria da UFPR

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A consulta direta para escolha da nova administração central da UFPR, realizada em dois turnos (10-11/09 e 18-19/09) contou com a participação de 9.495 estudantes, 2.158 servidores docentes ativos e aposentados e 3.228 servidores técnico-administrativos em educação (TAEs) ativos e aposentados e servidores HC/Ebserh (total de 14.881 votantes).

Saiu-se vitoriosa a Chapa 3, composta pelo professor Marcos Sunye (Setor de C. Exatas) e pela professora Camila Fachin (Setor de C. da Saúde), obtendo 61,98% dos votos válidos. Em seguida, no segundo turno, ficou a Chapa 2, do professor Fernando Mezzadri (Setor de C. Biológicas) e Cristina Rodrigues (Setor de C. da Saúde), que recebeu 38,01% dos votos.

A Chapa 3 teve 5.716 votos do total de discentes, 1.247 votos de docentes e 2.186 votos de TAEs e HC/Ebserh. Já a Chapa 2 teve 3.779 votos de discentes, 911 votos de docentes e 1.042 votos de TAEs e HC/Ebserh.

O Colégio Eleitoral, formalidade da lei atual, é integrado por membros do Conselho Universitário e reúne-se no final de setembro, para compor a lista tríplice a ser enviada ao MEC, tendo o professor Sunye como primeiro nessa listam e outros dois membros da comunidade apenas proforma. Em dezembro o novo reitor toma posse.

Depois da comemoração, vamos chamar toda a equipe da gestão atual para conversar, montar da melhor maneira possível o plano de gestão, usar toda a experiência do pessoal que trabalhou todo esse tempo na universidade. A nossa entrada na universidade é uma mesma entrada de união, a eleição termina aqui. Vamos construir uma gestão coletiva”, disse o futuro reitor Sunyê.

Este Blog, que apoiou publicamente a Chapa 2, parabeniza a Chapa 3 vitoriosa, e exprime sinceras esperanças de que os professores Sunye e Camila façam boa gestão no quadriênio 2025-2028.
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Com informações e foto do site da UFPR

domingo, 8 de setembro de 2024

Mezzadri e Cristina na Reitoria da UFPR - Chapa 2 tem total apoio

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Conforme já declarado por este Blog (que existe desde fins de 2007), damos integral apoio à Chapa 2 - Fernando Mezzadri e Cristina Rodrigues - para a eleição direta de 10-11/09/2024, para bem conduzir a Reitoria no próximo quadriênio.

Já publicamos neste espaço virtual nosso ponto de vista racional (e não "ressentimental") sobre porque indicamos à comunidade da UFPR o voto na Chapa 2.  Assim como demonstramos certas contradições em passado recente e atual de por que não é boa opção votar em outra chapa que não a de Mezzadri e Cristina.

Chamamos atenção para que servidores da ativa fiquem atentos à caixa postal de seu email institucional da UFPR e que os aposentados cadastrem seus emails até segunda-feira (09/09). E bom voto a partir da terça-feira (10/09) e quarta.  Possivelmente, se tudo correr bem, sem desesperos e intervenções de úlitma hora de concorrentes, que o resultado de 1o. turno já seja conhecido na noite de 11/09, e se haverá um 2o turno em 18/09.   Se houver...

sábado, 7 de setembro de 2024

Ligações neuronais permanentes predizem depressão

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Embora o transtorno depressivo venha e vá, as pessoas predispostas a isso retem um padrão distinto da sua rede de ligações neuronais intracerebrais ao longo de suas vidas. Uma análise de mais de 180 imagens de Ressonância Magnética funcional mostrou que, em comparação com controles saudáveis, os indivíduos com depressão clínica possuem circuitos cerebrais maiores, denominados redes salientes (ou relevantes, ou proeminentes), que conformam aquilo a que o cérebro dá [mais] atenção. Estas redes tornam-se mais ativas durante um episódio depressivo, mas persistem depois que a depressão some. 

Pesquisadores acharam grandes redes salientes entre crianças mesmo com nove anos de idade, as quais, então, mais tarde, iriam desenvolver depressão como adolescentes. Isto sugere que esta característica pode aumentar o risco de depressão, ao invés de ela ser resultado delas.

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Fonte: revista ‘Nature’, de 5/9/2024




 

"MoviMINTO Pra UFPR", logo, MoviMorro... lascado

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Um pigmento torna camundongos transparentes

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Um pigmento que confere ao salgadinho Doritos sua típica coloração laranja também faz com que tecidos do camundongo fiquem transparentes. Pesquisadores aplicaram esse corante (tartrazina) à pele de camundongos vivos e isso permitiu que os cientistas perscrutassem tecidos de estruturas do roedor tais como vasos sanguíneos e órgãos internos sem quaisquer cirurgias, incisões ou lesões a pele ou ossos. A técnica reversível funciona alterando o modo como o tecido interage com a luz, e isso poderia oferecer um método menos invasivo de monitorar animais vivos empregados em pesquisas médicas. “É um avanço importante”, comenta o biólogo Phillip Keller.

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Comentário: se você é fanático pelo salgadinho Doritos, não vá pensar que, decuplicando seu consumo diário do petisco, ou esfregando Doritos na própria pele, vá se tornar o “Homem Invisível”, conforme aquela famosa novela de ficção científica escrita pelo socialista inglês do século 19, H. G. Wells.
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domingo, 1 de setembro de 2024

Crônicas do abacateiro - 4

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Minha neutroglicerina

Na época de infância/adolescência, eu tinha em meu quarto uma espécie de pequeno laboratório, químico e elétrico. Mas planejava transferir materiais, substâncias químicas e equipamentos, pois receava que, algum dia, fazendo algum experimento mais arriscado ou mistura química sem medir bem as consequências, aquilo explodisse, abrisse uma cratera em meu quarto, pelo que certamente não estaria mais aqui escrevendo.

Eu e mais dois amigos, sob nossos 13 anos de idade de doideiras, resolvemos construir um “laboratório” nos fundos do vasto quintal em minha casa de Paranaguá, justamente à sombra do velho amigo abacateiro. Juntamos economias, compramos uma partida de tijolos e cimento, e nos desembestamos à empreitada. Um dos amigos tinha alguma experiência de pedreiro (até se chamava Pedro!) e foi o principal cimentador de tijolos de nossa edificação de 3 x 3 metros. Éramos impulsionados pelas imaginações de tantos filmes de ficção científica que víamos. Um dos projetos era construir um pequeno foguete que realmente decolasse, sabe-se lá para onde.

No entanto, ao longo dos meses, o ímpeto de construção civil foi se desvanecendo, e nosso modesto edifício nunca foi completado, ficando só com as paredes, sem teto, sem piso, sem porta nem janela.

Nesse meio tempo, eu prosseguia com experimentos químicos no acanhado “laboratório” em meu quarto. Na estante de minha tia professora, encontrei um velho livro de Química, datado de 1927. Ora, ali se encontravam instruções sobre como fabricar nitroglicerina, o que me entusiasmou, pois fiquei a imaginar um “sistema de segurança” para proteger nossa construção no fundo do quintal contra intrusos, pelo qual, num intrincado sistema de cordinhas esticadas no meio do mato, o invasor tropeçaria em alguma delas, e isso faria cair um minúsculo frasco contendo o perigoso explosivo nas proximidades, que estouraria perto do sujeito indesejado e o espantado visitante fugiria correndo.

Fui à farmácia e comprei nitrato de sódio, glicerina e enxofre, seguindo as instruções do livro de Química do começo do século XX. Produzi, em meu quarto, uma mistura de uns 10 mililitros dentro de um pequeno frasco e fui testar no fundo do quintal. Joguei-o contra a parede de nossa construção no quintal, e nada aconteceu, exceto a mancha do líquido inerte escorrendo.

O que deu errado? Algum componente comprado na farmácia era falsificado? Errei na preparação? Nunca descobri, mas, se tudo desse certo, eu abriria um imenso buraco no meu quintal, e, pior, poderia derrubar o meu amigo abacateiro. Nunca mais tentei fabricar explosivos, e mantive meu amigo árvore.

Losurdo, filósofo da História, geógrafo do anticolonialismo

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Domenico Losurdo, o eminente filósofo italiano que tantas vezes visitou o Brasil e aqui foi amplamente publicado, nos deixou na manhã de 28 de junho de 2018. Ao lado das lágrimas pela perda de um intelectual de tamanha envergadura, devemos também nos felicitar pelo enorme legado que Losurdo nos entrega através de suas muitas obras. Delas podemos retirar muitos ensinamentos para ler a história e tomar posição no debate de ideias que se destina a superar este mundo “grande, terrível e complicado”, como costumava dizer Gramsci (Lettere dal carcere, 1926-1937. Org. A. A. Santucci, Palermo: Sellerio, 1996, p. 421). O mesmo Gramsci que foi uma das principais inspirações de Losurdo, e para o qual ele forneceu uma interpretação rigorosa e de grande interesse.

De fato, para Losurdo o grande autor do marxismo italiano é antes de tudo aquele consciente de que a “absorção da parte vital do hegelianismo” pelo materialismo histórico é “um processo histórico ainda em movimento” (Q. 10 II, § 10, p. 1248). Vale dizer, um Gramsci sempre atento à categoria de “desenvolvimento histórico”, como salientou em uma obra dedicada a este tema Alberto Burgio (Gramsci Storico, Roma:Laterza, 2002), não por acaso o primeiro aluno de doutorado de Losurdo. E eis um ponto de partida crucial caso se pretenda entender o modo pelo qual, sempre exercitando uma exigente filologia na citação dos textos de Gramsci, Losurdo apresenta uma leitura do comunista italiano muito diferente daquela a qual durante muito tempo esteve ele associado. Não um Gramsci apartado da Revolução dos bolcheviques, mas um autor que identifica o “nível mais avançado conseguido pelo marxismo” justamente no processo “revolucionário russo” (Antonio Gramsci, do liberalismo ao comunismo crítico. Trad. Teresa Ottoni. Rio de Janeiro: Revan, 2006, p. 273-4). Como se vê, nada aqui a lembrar a leitura que Norberto Bobbio apresentou de Gramsci no conhecido Congresso internacional de estudos gramscianos, realizado em Cagliari no ano de 1967: tão somente um teórico das superestruturas do Ocidente, basicamente um intérprete dos organismos da sociedade civil, lidos sem qualquer relação com a história das lutas de classes.

Dizer isto não significa dizer que Gramsci não ofereça elementos para que se interprete o Ocidente. Recorde-se que os termos Oriente e Ocidente, Norte e Sul, não obstante referências que “correspondem a fatos reais”, são, em Gramsci, construções “histórico-culturais”, “superestruturas”, que afinal expressam “relações entre complexos de civilizações diversas”, e notadamente “o ponto de vista das classes cultas européias”, que “através da sua hegemonia mundial os fizeram aceitar por toda parte” (Q. 11, § 20, p. 1419-20). Vale dizer, estão em imbricada conexão no processo que põe em movimento a história dos homens. E eis quando a história intervém como parceira da geografia na leitura de forte acento hegeliano que nos oferece Losurdo de Gramsci e do materialismo histórico. Ou, ainda melhor, eis quando intervém a filosofia da história em sua dimensão geográfica, a rigor geopolítica, de uma geopolítica popular.

Trata-se de uma chave interpretativa que tem bem presente a categoria gramsciana de tradutibilidade, mas sem dissociá-la daquela de catarse, com a qual mantém relações necessárias. Estamos falando da “elaboração superior da estrutura em superestrutura”, processo a coincidir “com a cadeia de sínteses que resultam do desenvolvimento dialético” (Quaderni del Carcere. 10 II, § 10, p. 1248, p. 1244). Imprescindível aqui é igualmente a categoria hegeliana de Wirklichkeit, tal como Losurdo a apresenta em Hegel, Marx e a Tradição liberal (São Paulo: Unesp, 1998). Ela que remete à noção de realidade em sentido forte, estratégico, realidade em nada assemelhada à pura empiria tão característica de um Hipolit Hipolítitch, o folclórico professor de história e geografia pintado por Tchekhov, que “só falava aquilo que todos já sabiam” (O Professor de letras. O assassinato e outras histórias. Trad. R. Figueiredo. São Paulo: Cosac & Naify, 2002, p. 27). Embora a dimensão empírica da realidade não seja, em Hegel, um simples “não-ser”, é a Wirklichkeit que figura como o eixo central da filosofia hegeliana que chega até Marx e o marxismo. Muito presente nos Quaderni de Gramsci, até mesmo no tratamento dos termos geográficos antes citados (Q. 11, § 18, p. 1417; § 20, p. 1420), é ela que permite observar as tendências de fundo do processo histórico, ou seja, a relação entre o real e o racional, uma relação capaz de exprimir a realização cada vez maior da liberdade formal e real, termos não antitéticos em Hegel. E eis como Losurdo nos remete ao Engels que faz notar a filiação de Hegel às bandeiras da Revolução Francesa: “A monarquia francesa tinha se tornado em 1789 tão irreal, ou seja, tão privada de toda necessidade, tão irracional, que teve de ser destruída pela grande revolução, da qual Hegel fala sempre com o maior entusiasmo. Neste caso, portanto, a monarquia era o irreal e a revolução o real” (Hegel, Marx e a tradição liberal. Op. cit., p.61). O real que ganha expressão no Estado como comunidade ética, o Estado não ocupado apenas com os direitos de propriedade, mas com a sustentação do bem-estar dos indivíduos, do direito ao trabalho, do direito à vida, vale dizer, com a liberdade não apenas formal, mas objetiva, real.

E aqui está a chave que Losurdo nos oferece para ler a Revolução de 1917, ela mesma um momento progressivo da história que parte dos êxitos do processo lançado em 1789. Aliás, entende-se agora o sentido da monumental pesquisa de Losurdo sobre Nietzsche. O filósofo de Röcken (Saxônia) é um crítico acerbo do “ciclo revolucionário que vai de 1789 a 1848 e dos movimentos protossocialistas até a Comuna de Paris”, bem como do aparato teórico saído desta tradição: a categoria de “homem como tal”, de “progresso histórico”, de “égalité” (Nietzsche e a crítica da modernidade, São Paulo: Ideias e Letras, 2016, p. 49). Em especial, para Nietzsche, a tese da “racionalidade do real” não representaria outra coisa senão o “culto à maioria numérica que se expressa na democracia e na crescente presença e pressão das massas e dos servos” sobre a vida social e política, eles que assim estariam gozando de um “inaceitável reconhecimento no plano da filosofia da história, graças a uma visão que exclui antecipadamente qualquer pretensão de retroceder aquém dos resultados do mundo moderno” (passim, p. 27-28).

De fato, é atualizando, ou ainda melhor, traduzindo as muitas bandeiras que fundam a modernidade no ciclo que se abre em 1789, que a Revolução de 1917 encontra solução (real e racional) para a grande desordem a que estava entregue a Rússia czarista. E isto não apenas no que diz respeito ao catálogo dos direitos do homem antes mencionado, mas também e principalmente àquele que constitui o ponto alto desses direitos, a saber, o direito à paz: “a Revolução de Outubro é a primeira revolução que surgiu nos traços da luta contra a guerra, empunhando novamente o ideal da paz perpétua oriundo da Revolução Francesa” (A revolução, a nação e a paz, Estudos Avançados, no 62, jan.-abr., 2008, p. 16).

É claramente a dimensão geopolítica da filosofia da história que é muito valorizada em Losurdo. Mas cabe atentar para o fato de que se trata de uma geopolítica de conotação totalmente diferente daquela de extração clássica fornecida pelo geógrafo Rudolf Kjellén. Ela remete antes às elaborações que partem dos movimentos de libertação nacional de matriz socialista, tal como se desenvolvera depois da II Guerra em Partidos Comunistas como o da URSS, da China, do Vietnã e ainda da Itália (Abdel-Malek, A. Geopolitics and national movements: an essay on the dialects of imperialism. Antipode, 9 (1), 1977), o último visivelmente na esteira das reflexões de Gramsci, que nos Quaderni sempre buscou associar ao “problema complexo das relações das forças internas”, as “relações de forças internacionais” e a “posição geopolítica do país dado” (Q. 10, § 61, p. 1360). Assim é que, enquanto para Hannah Arendt, a grande expoente da filosofia liberal do século XX, “não são nunca os oprimidos que abrem caminho” (La lotta di classe. Una storia politica e filosofica, Roma-Bari: Laterza, 2013, p. 281), em Losurdo, tanto quanto em Gramsci, a emancipação parte da condição subalterna. Um processo que é social, mas também espacial, rigorosamente geográfico. É o que se pode concluir observando a tese de Losurdo segundo a qual a dialética do senhor e do escravo de Hegel, apresentada no capítulo 4 da Fenomenologia do Espírito, é antes de tudo uma dialética que se faz consciência da luta anticolonialista e antiescravista dos jacobinos negros do Haiti (Hegel e la liberta dei moderni. Vol. 2, Napoli: La scuola di Pitagora, 2011, p. 695). A rigor, já ela uma dimensão da luta pela paz.

E aí está a crítica de Losurdo aos intérpretes do liberalismo burguês. Locke, o principal deles, sempre referido como acionista das companhias de colonização, mas não menos que Nietzsche, o filósofo que “justifica (ou celebra) a ‘barbárie dos meios’ empregada pelos conquistadores ‘no Congo ou onde for’” (Nietzsche e a crítica da modernidade. Op. cit., p. 78). Curiosamente, é também esta, embora sem as tintas reacionárias do liberalismo, a falha do marxismo ocidental. É o problema da dominação colonialista, ou neocolonialista, com as tensões geopolíticas a elas inerentes, que figura nos autores desta tradição como a grande ausente, segundo resumiu em sua última obra (Il marxismo occidentale. Come nacque, come morì, come può rinascere. Bari-Roma: Laterza, 2017). Tensões geopolíticas estas que incluem a própria II Guerra Mundial, que Losurdo lê afastando-se da convencional periodização cara à historiografia ocidental. Na esteira das leituras feitas pelas direções dos PCs que resistiam à ignominiosa agressão, este é um episódio que não tem início apenas em setembro de 1939, quando o Reich invade a Polônia, mas já no início dos anos 30, quando a agressão do Japão se lançava contra a Ásia, passando depois pela intervenção ítalo-alemã na Espanha em 1936 e o desmembramento da Tchecoslováquia no ano de 1938 (Il marxismo occidentale. Op. cit., p. 51). Na verdade, uma vez que a I Guerra não se encerrou com um tratado de paz, o que significa dizer que todos os chefes de Estado tinham consciência da iminência do recrudescimento dos conflitos, este é um ciclo que deve ser concebido já a partir da segunda década do século XX (Stalin. História crítica de uma lenda negra. Rio de Janeiro: Revan, 2010).

E o que dizer do processo histórico que se seguiu à vitória sobre o nazifascismo? Se a geopolítica de matriz popular que parte da vitória da URSS sobre o Reich dá sentido aos movimentos de libertação nacional que irão culminar nos processos de descolonização, é também ela que é mobilizada para explicar o ciclo de emancipação e reconhecimento que se abre nas democracias ocidentais do pós-II Guerra. E eis novamente uma oposição ao liberalismo do nosso tempo e ao marxismo ocidental. Se Hannah Arendt deposita todas as esperanças na tecnologia como forma de alcançar a liberdade, ou Habermas prefere falar em pacificação social no contexto do welfare state, Losurdo põe no centro deste debate a luta de classes, insistindo, inclusive, em temas como o do racismo e da emancipação da mulher, no papel positivo que aqui cumprem a Revolução de 1917 e as lutas anticolonialistas que partem do Sul (La lotta di classe. Op. cit.). E não seria demais dizer que também aqui é um Gramsci de extração hegeliana que comparece como a principal inspiração. Que se recorde a crítica de Gramsci a Croce, que buscava “escrever (conceber) uma história da Europa no século XIX sem tratar organicamente da revolução francesa e das guerras napoleônicas” (Q. 10 I, § 9, p. 1227). Mas também, se lembramos que este foi um processo que nem sempre resultou no socialismo, na tese segundo a qual no “movimento histórico não se volta nunca atrás e não existem restaurações ‘in toto’” (Q. 13, § 26, p. 1619).

Decerto, para Losurdo, este não é um movimento já acabado e sem contradições. A despeito da progressividade do movimento histórico, também presente, por exemplo, na rejeição em identificar a União Européia como um Estado imperialista (Esiste oggi un imperialismo europeu? L’Ernesto Rivista, settembre, 2004), trata-se de um processo ainda não concluído, quando mais não seja porque tem diante de si a luta contra uma filosofia necessitarista da história, a mesma contra a qual ao seu tempo ergueu-se a revolução jacobina e depois o materialismo histórico (Entrevista a S. G. Azzarà in:L’humanité commune: dialectique hégélienne, critique duliberalisme et reconstruction du matérialisme historique chez Domenico Losurdo. Paris: Delga, 2012). Vale dizer, a filosofia sustentada pelo Império planetário dos EUA, que se apresenta com as tintas do darwinismo social para proclamar-se como a “nação eleita por Deus” para ser “o modelo para o mundo” (Revolução de Outubro e Democracia no mundo, trad. M. A. da Silva, in: 100 anos da Revolução Russa. Legados e lições. São Paulo: F. M. Grabois e Anita Garibaldi, 2017). Uma cantilena que tem origem no Destino Manifesto, registro ideológico para a conquista do Oeste e o aniquilamento dos peles vermelhas, mas que segue hodiernamente seja com os Clintons, seja com Obama. Mas movimento também não concluído porque o processo do desenvolvimento histórico (e eis novamente as influências de Gramsci) é complexo e sujeito a tempos longos, o que equivale dizer que as lutas por emancipação devem, contra toda impaciência e dogmatismo, concebê-lo como um difícil e tortuoso processo de aprendizagem.

E assim é que se põe diante de nós a experiência chinesa, expressão hodierna de uma geopolítica popular, uma geopolítica anticolonialista e de libertação nacional, que tanto interessou a Losurdo. Um experimento que tantas vezes demarcou como exemplo de uma construção socialista que tem sabido se afastar de uma visão messiânica para assim se posicionar diante da própria história (a Revolução Cultural, o Grande Salto à Frente) e da história do movimento comunista internacional (a dificuldade de organizar um Estado socialista de direito na ex-URSS) com as exigências da crítica e da legitimidade. Um processo capaz de conceber o desenvolvimento histórico em chave rigorosamente dialética, ou seja, como uma Afhebung, esta categoria central da filosofia hegeliana que convida a pensar a negação e a derrubada da ordem existente como simultânea herança dos pontos mais altos do ordenamento político e social negado e derrubado (Il marxismo occidentale. Op. cit., p. 28).

Um pensamento assim tão rigoroso, crítico e ao mesmo tempo de elevada sofisticação, irá sem dúvida fazer enorme falta na luta “pela unificação cultural do gênero humano” a qual nos convidava Gramsci (Q. 11, § 17, p. 1416). Mas com o dissemos no início deste texto, esta falta, e também a saudade que deixa nos amigos, companheiros, alunos e leitores, poderá, pelo menos em parte, ser preenchida com o dedicado estudo da fértil e amplíssima obra de elaboração histórico-filosófica que este gigante da tradição materialista histórica nos deixou.
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Fonte: FMG