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terça-feira, 16 de agosto de 2022

Como se espalha a monkeypox (varíola “dos macacos”*)?

Diversas partículas virais de monkeypox (vermelhas) infectam uma célula (azul)

O contato prolongado, especialmente com as lesões de pele de uma pessoa, desponta como a principal rota de transmissão

Por Max Kozlov, na "Nature" de 11/08/2022

Enquanto os casos de monkeypox continuam a subir no mundo, os pesquisadores buscam aprender mais sobre como a doença se espalha. Previsões primeiras de que o vírus transmite-se primariamente através de repetido contato de pele com pele entre pessoas tem largamente se confirmado, conforme uma parcela de novos estudos.

“Quando você coloca junto todos esses estudos, vemos que a apresentação clínica é similar – mas também surpreendente”, diz Oriol MItjà, pesquisador de doenças infecciosas do Germans Trias i Pujol University Hospital, em Barcelona, Espanha, que é co-autor de um dos recentes estudos publicados na revista "The Lancet". Isso porque os sintomas e o padrão de disseminação não se parecem com o que os pesquisadores observaram na África Ocidental e Central, onde o vírus da monkeypox tem causado surtos isolados e persistentes por décadas.

Desde o começo de maio, a monkeypox espalhou-se para mais de 90 países, causando mais de 32 mil infecções, com quase 1/3 dos casos sendo relatados nos EUA. A rápida disseminação do vírus levou a OMS a emitir um alerta de alto grau [de risco] para a saúde pública em 23/07: o presidente Joe Biden seguiu o alerta em 04/8 declarando uma emergência de saúde pública para os EUA.

Apesar de algumas mulheres e crianças terem se infectado desde maio, a maioria ampla dos casos até aqui ocorreram em homens que fazem sexo com homens (MSM, na sigla em inglês), principalmente naqueles que tem múltiplos parceiros ou que fazem sexo anônimo. O vírus tem provavelmente obtido vantagem das densas redes sexuais da comunidade MSM para se expandir com eficiência, diz Mitjà. Quanto mais o vírus se espalha, tanto mais oportunidades terá de infectar outras populações, inclusive animais selvagens – sobre os quais os cientistas tem advertido que podem estabelecer reservatórios virais que poderiam infectar seres humanos repetidamente.


“Repletos de vírus”

Quando uma pessoa contrai monkeypox, ela pode desenvolver sintomas parecidos com os da gripe, aumento de linfonodos e diferenciadas lesões cutâneas contendo fluidos. Embora alguns pesquisadores tenham sugerido que o vírus poderia se espalhar através de perdigotos respiratórios ou partículas em suspensão no ar, como acontece com o coronavírus, Mitjà e seus colegas contam que amostras retiradas de lesões de pele, coletadas no momento do diagnóstico, contêm muito mais DNA viral do que aquelas de garganta. As lesões, comparativamente, parecem estar “lotadas de vírus”, diz Boghuma Titanji, médico de doenças infecciosas da Emory University, em Atlanta, na Georgia, que não participou do estudo.

Diversos estudos, incluindo o de Mitjà, mostram que poucas pessoas contraem a doença de um morador infectado da mesma casa com quem não tiveram contato sexual. Este achado, pareado com os dados de carga viral, sugere que gotículas respiratórias e partículas em suspensão no ar provavelmente não são a via de transmissão primária, afirma Titanji. Se isso for corroborado por novas pesquisas, isso colocaria em questão se as pessoas deveriam ficar em isolamento pelo período inteiro da infecção, o que pode ser difícil pois a enfermidade parece levar até um mês para haver a cura, acresce a pesquisadora.

Ainda faltam dados detalhados sobre como a carga viral de uma pessoa muda ao longo do tempo, diz Jessica Justman, uma médica de doenças infecciosas da Columbia University, em New York. Embora Mitjà e seus colegas não tenham detectado muito DNA viral em amostras que coletaram das gargantas de pessoas em início de infecção, é possível que, se houvessem coletado mais tarde – mesmo um pouco antes – os níveis virais poderiam estar mais altos. Tais dados, que a equipe agora está colhendo em um estudo de seguimento (follow-up), autorizaria diretores de saúde pública a oferecer melhores isolamento e orientação terapêutica para pessoas infectadas.


Falando de sexo

Se a monkeypox é sexualmente transmitida em termos absolutos – passada de uma pessoa a outra através de sangue, esperma ou outros fluidos corporais durante a atividade sexual – não é ainda uma questão clara. Porém, vários estudos constataram que o DNA do vírus da monkeypox está presente no sêmen de uma pessoa por semanas depois de ela se infectar. Um dos estudos também isolou o vírus do sêmen de um único indivíduo seis dias depois do aparecimento de sintomas.

Mesmo que o virus possa ser sexualmente transmitido, ainda não está claro qual a grandeza da dimensão deste modo de transmissão, comparativamente com simplesmente alguém estar em contato próximo, pele com pele com outra pessoa ou inalando suas partículas respiratórias – o que também ocorre durante o sexo. Se outros estudos acharem o vírus no sêmen, compreender por quanto tempo ele pode persistir nesse fluido corporal será importante. Vírus como o Ebola podem persistir no sêmen por meses, quando não anos, depois da infecção, o que sempre complicou os esforços para prevenir surtos. Até que os pesquisadores façam mais descobertas, a Agência de Seguridade do Reino Unido recomenda que se continue a usar condoms por oito semanas depois da infecção.
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Fonte: revista ‘Nature’ de 11/08/2022

(*)A expressão “dos macacos” está entre aspas porque a doença não se transmite do macaco para o homem, apenas ela existe também nesse animal. É um absurdo que, mesmo no Brasil, pessoas estejam matando símios por achar que eles estão veiculando o vírus, que só se transmite pelo contato direto entre humanos.

Artigo completo em:

doi: https://doi.org/10.1038/d41586-022-02178-w









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