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domingo, 27 de abril de 2014

O cerco

Replicados com disciplinado zelo pela emissão conservadora, disparos regulares da mídia internacional defendem a rendição inapelável do Brasil aos ditames da restauração neoliberal.  O tom é de ‘basta!’. ‘Intervencionismo, ineficiência e corrupção’ formam o tripé de um mantra repetido à exaustão pelo dispositivo midiático para qualquer tema ou circunstância.

Por Saul Leblon, no site Carta Maior

Explica-se: a dissidência brasileira na crise afrontou com sucesso o sopro de morte da austeridade optando por políticas contracílicas baseadas em crédito estatal, investimentos públicos (PAC 2), fomento à habitação, valorização do poder de compra do salário mínimo e geração de empregos.

O saldo gerou uma inércia de demanda e geração de empregos que resiste até hoje como uma gigantesca costela de pirarucu entalada na garganta dos mercados.  Se isso funciona, como é que fica a restauração neoliberal aqui e na América Latina?

É preciso desqualificar um passado que pode ser usado para credenciar novas heterodoxias no futuro e, sobretudo, nas urnas.

Chegou a hora de colocar as cordas, os pescoços e as agendas nos devidos lugares, diz o jogral que nunca desafina.

Ponto número um: o Brasil é um grandioso caso de desastre intervencionista.

Ou não é isso o que reafirma o caso da refinaria de Pasadena, agora brindado com a obsequiosa decisão da juíza Rosa Weber de criação de um palanque nacional para a mídia e seus candidatos execrarem a Petrobras em plena campanha sucessória?

Ponto número dois: o país deve aceitar os termos da rendição incondicional que a emissão conservadora local e forânea advoga diuturnamente.

A saber: fim da intervenção estatal na agenda do desenvolvimento; choque de juros ‘para trazer a inflação à meta’ - conduzido por um BC ‘independente’ (das urnas); esvaziamento do BNDES, privatização do pré-sal (tese que ganha agora uma corneta de difusão eleitoral, graças à CPI); cambio livre, arrocho na ‘gastança social’ etc.

O tom imperativo da ofensiva estrangeira remete ao jornalismo da ‘guerra fria’ contra governos não alinhados, nos anos 50/60.

Três exemplos dos últimos quinze dias:

Financial Times: Nova matriz econômica do Brasil ouve anúncio de morte (07/04/2014).

The Economist: Trabalhador do Brasil é gloriosamente improdutivo (17/04/2014).

New York Times: Brasil grandioso se desfaz (21/04/2014).

O denominador comum é a incompatibilidade entre ‘dirigismo’ estatal e ‘gastança fiscal’(assim, vinculados, como xipófagos), e redução do juro para a retomada do investimento.

Como na ‘guerra fria’, o silogismo é ilustrado não raro com exemplos grotescos.  Filas no recente Festival de Música Lollapalooza, em São Paulo, abrem a ‘reportagem’ da Economist, por exemplo, para ilustrar a evidência da improdutividade do trabalhador brasileiro.


Um comentário:

Rita de Cassia disse...

Brasil, Argentina, Paraguai, Venezuela.. A América Latina sendo ferozmente atacada em sua dignidade e liberdade. Está bem claro que ou nos enquadramos ou pagamos o preço de uma desmoralização muito bem fabricada.