Replicados com disciplinado zelo pela emissão conservadora, disparos regulares da mídia internacional defendem a rendição inapelável do Brasil aos ditames da restauração neoliberal. O tom é de ‘basta!’. ‘Intervencionismo, ineficiência e corrupção’ formam o tripé de um mantra repetido à exaustão pelo dispositivo midiático para qualquer tema ou circunstância.
Por Saul Leblon, no site Carta Maior
Explica-se: a dissidência brasileira na crise afrontou com sucesso o sopro de morte da austeridade optando por políticas contracílicas baseadas em crédito estatal, investimentos públicos (PAC 2), fomento à habitação, valorização do poder de compra do salário mínimo e geração de empregos.
O saldo gerou uma inércia de demanda e geração de empregos que resiste até hoje como uma gigantesca costela de pirarucu entalada na garganta dos mercados. Se isso funciona, como é que fica a restauração neoliberal aqui e na América Latina?
É preciso desqualificar um passado que pode ser usado para credenciar novas heterodoxias no futuro e, sobretudo, nas urnas.
Chegou a hora de colocar as cordas, os pescoços e as agendas nos devidos lugares, diz o jogral que nunca desafina.
Ponto número um: o Brasil é um grandioso caso de desastre intervencionista.
Ou não é isso o que reafirma o caso da refinaria de Pasadena, agora brindado com a obsequiosa decisão da juíza Rosa Weber de criação de um palanque nacional para a mídia e seus candidatos execrarem a Petrobras em plena campanha sucessória?
Ponto número dois: o país deve aceitar os termos da rendição incondicional que a emissão conservadora local e forânea advoga diuturnamente.
A saber: fim da intervenção estatal na agenda do desenvolvimento; choque de juros ‘para trazer a inflação à meta’ - conduzido por um BC ‘independente’ (das urnas); esvaziamento do BNDES, privatização do pré-sal (tese que ganha agora uma corneta de difusão eleitoral, graças à CPI); cambio livre, arrocho na ‘gastança social’ etc.
O tom imperativo da ofensiva estrangeira remete ao jornalismo da ‘guerra fria’ contra governos não alinhados, nos anos 50/60.
Três exemplos dos últimos quinze dias:
Financial Times: Nova matriz econômica do Brasil ouve anúncio de morte (07/04/2014).
The Economist: Trabalhador do Brasil é gloriosamente improdutivo (17/04/2014).
New York Times: Brasil grandioso se desfaz (21/04/2014).
O denominador comum é a incompatibilidade entre ‘dirigismo’ estatal e ‘gastança fiscal’(assim, vinculados, como xipófagos), e redução do juro para a retomada do investimento.
Como na ‘guerra fria’, o silogismo é ilustrado não raro com exemplos grotescos. Filas no recente Festival de Música Lollapalooza, em São Paulo, abrem a ‘reportagem’ da Economist, por exemplo, para ilustrar a evidência da improdutividade do trabalhador brasileiro.
Um comentário:
Brasil, Argentina, Paraguai, Venezuela.. A América Latina sendo ferozmente atacada em sua dignidade e liberdade. Está bem claro que ou nos enquadramos ou pagamos o preço de uma desmoralização muito bem fabricada.
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