Passeata pelo #ForaBolsonaro no centro de Curitiba, em 3/7/2021
(vídeo longo: 13m40s)
O golpe que Jair Bolsonaro vem armando é tão evidente que uma parte dos democratas brasileiros já começou a sentir inveja da normalidade alheia.
Por André Petry, na revista Piauí
No segundo fim de semana de junho, o sentimento ficou mais nítido para quem viu a foto dos líderes do G7, grupo das sete democracias mais ricas do mundo. Sob um céu plúmbeo, à beira do mar sereno de uma baía da Cornualha, os líderes se cumprimentaram com os cotovelos, subiram no estrado montado na areia da praia e posaram para fotógrafos. Depois, reuniram-se em torno de uma grande mesa redonda e discutiram os problemas do mundo – o aquecimento global, o coronavírus, a onda autoritária, a China.
Foi a primeira vez, desde o início da pandemia, que se sentaram frente a frente, enterrando a diplomacia via Zoom. Debateram e divergiram, e sem a presença desagregadora de Donald Trump deram um show de civilidade. Em seus países, no mesmo fim de semana, a Eurocopa retomou o espetáculo de jogar em estádios com a presença de torcida. A promessa de retorno à vida civilizada ganhou força com a ausência de Trump e a vacinação contra o coronavírus.
Os líderes dos países do G7 no litoral da Inglaterra
E nós, aqui, lidando com o pesadelo: o golpe virá antes, durante ou depois da eleição presidencial de 2022? Naquele mesmo fim de semana, para sublinhar nossa anormalidade, um surto de Covid-19 atingia atletas e delegações da Copa América, arranjada às pressas num país derrotado pela pandemia. Enquanto os líderes do G7 anunciavam a doação aos países pobres de 1 bilhão de doses de vacina, Bolsonaro regia em São Paulo, onde o governador priorizou a vacinação, um coro de motoqueiros que gritava: “Ei, Doria, vai tomar no cu.”
E o golpe é para quando?
Na fábula do escritor russo Ivan Krylov (1769-1844), um homem encontra um amigo depois de passar três horas no museu de história natural. O amigo lhe pergunta como foi a visita:
– Vi tudo que havia para ver, examinei tudo cuidadosamente – responde ele, ainda fascinado pela experiência. É tudo tão espantoso que, honestamente, não tenho palavras para descrever nem a metade. A natureza é maravilhosa na sua imensa diversidade.
Depois de ouvir o homem contar que viu insetos diminutos, menores que a cabeça de um alfinete, que examinou pássaros, borboletas, besouros, alguns verdes como esmeraldas, outros vermelhos como coral, o amigo indaga...
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