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sábado, 19 de junho de 2021

O grande ator de volta ao palco


O grande ator, o decisivo protagonista começa, afinal, a dar o ar da sua graça, e retorna ao palco da política nacional. 

Luiz Manfredini(*) - Portal Vermelho

O primeiro passo ocorreu em 29 de maio. Algo em torno de 400 mil pessoas nas ruas de 20 capitais retomaram a era das grandes mobilizações populares, a despeito da pandemia que nos massacra.

O segundo passo, no próximo sábado, 19/06, acena com algo mais possante. Mais gente nas ruas, um grito mais estrondoso contra o governo do sociopata fascista.

Do povo na rua sempre veio a força do movimento democrático. Mas a pandemia e suas restritivas evitou manifestações públicas de massa. Assim a luta política cingiu-se às notas oficiais de representações da sociedade civil, às vozes minoritárias de um congresso sob hegemonia bolsonarista (através do Centrão) e, em menor medida, às conhecidas flutuações do STF. Um ano e pouco de ruas desertas de protesto, salvo as manifestações de torcidas de futebol, que ocorreram entre o final de maio e o início de junho de 2020. Do povo forçado ao recuo, Bolsonaro valeu-se o quanto pode, livre para festas e aglomerações. Isso, no entanto, está mudando.


A força do povo
O povo na rua impacta fortemente o cenário político. Impacta o parlamento, sempre atento aos humores do eleitorado e às perspectivas eleitorais dos seus membros. E o próprio judiciário vê-se tangido a observar a temperatura das ruas. A mobilização da sociedade certamente estimula a CPI da COVID-19 que, ao examinar a questão da pandemia, já vem devassando as entranhas de um governo negacionista e genocida A mídia, particularmente a Rede Globo, a quem Bolsonaro combate desde o início do governo, trata de repercutir – e bem – as investigações da CPI, vocalizando a posição de certos segmentos das elites insatisfeitos com o governo que apoiaram e espalhando denúncias para milhões de brasileiros. Um novo cenário se avizinha, com provável alteração na correlação de forças.

À CPI, obviamente, não cabe, por injunção legal, encaminhar o impedimento de Bolsonaro, ou qualquer outro tipo de interdição. Mas sua avalanche de dados e as conclusões a que vai chegando, todas condenatórias do governo negacionista, ao menos corrói sua imagem, reduz sua popularidade e prepara sua derrota em 2022.

A isso o sociopata fascista responde com sua metralhadora giratória, que radicaliza ainda mais o cenário político, e com as “motociatas” que reúnem militares, policiais militares, milicianos e os chamados “bolsonaristas de raiz”, aquelas hordas descerebradas em que o bolsonarismo se instalou à margem da razão, e que o seguem incondicionalmente. Fazem barulho, espalham fake news, agridem opositores, balizados pela influência do seu líder, um militante da extrema-direita, que mistura fascismo, sociopatia e uso despudorado do poder da Presidência da República.

A julgar pelos acontecimentos atuais, espera-se uma crescente radicalização do quadro político nacional. Afinal, há muito a extrema-direita brasileira não arreganhava os dentes com tal estridência. Collor, em 1992, foi objeto de oposição ferrenha que desembocou no impeachment. Mas ele não tinha base de apoio popular. Bolsonaro tem. Míngua sua base, é verdade, mas ao cabo ainda restará incólume o segmento que lhe é e sempre será mais fiel, ruidoso e truculento como de hábito.

Diante dessa perspectiva, Bolsonaro já faz constantes ameaças de colocar as Forças Armadas numa aventura golpista. Se os militares acatarão isso é outra história. Penso que não. Mas certamente segmentos das polícias militares e das milícias aceitarão a convocatória bolsonarista para quebrar as regras constitucionais, o que poderá ocorrer caso ele seja derrotado nas eleições de 2022, ou mesmo antes. Só mesmo o povo na rua, organizado e consciente, poderá cortar as pernas do fascismo. E isso começa a ganhar força. Aguardemos o desenrolar do dia 19.
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(*)Luiz Manfredini é jornalista e escritor paranaense, autor, entre outros livros, de "As moças de Minas" e "A pulsão da escrita".

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