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quinta-feira, 3 de junho de 2021

A navalha enferrujada do senador Heinze

Dra. Luana Araújo e senador Heinze

A internet está coalhada de textos curtos e longos comentando a atuação da médica infectologista Luana Araújo na sessão de ontem, 2/6, da CPI do Genocídio. Longos ou breves, a maioria elogiosos, outros nem tanto, mas o fato é que a Dra. Luana “causou” na CPI. Ela, sempre concisa, objetiva e didática, deu um “show de Ciência” perante os senadores da CPI, contrastando com a fugidia e enroladora oncologista bolsonarista Nise Yamaguchi do dia anterior (a chefe prática do "Gabinete Paralelo" da saúde).

Desesperado ante a performance sensacional de Luana - que estraçalhava, entre outras coisas, o “mito” do tratamento precoce (cloroquina/ivermectina) para COVID-19 - o senador gaúcho Luiz Heinze fez um virulento ataque à infectologista formada numa das principais escolas médicas do planeta (a Johns Hopkins, nos EUA) e professou apaixonada defesa da cloroquina, droga dos amores do despresidente genocida.

Em sua fala, Heinze citou o Índice H, que quantifica a produção científica de pesquisadores a partir das citações (por outros autores) dos trabalhos deles. O senador, que pertence ao partido que mais teve casos identificados de corrupção nos últimos anos, o PP (Partido “Progressista”), enumerou vários nomes e respectivos índices H, entre eles o do controvertido microbiologista francês Didier Raoult.

Didier Raoult, o cientista picareta francês

Ora, Raoult foi o sujeito que fez um “estudo” científico furado no começo de 2020 com pacientes portadores de COVID-19 e uso de hidroxicloroquina como “tratamento”. A amostra que o francês usou em seu “estudo” era pequena demais, o método era errado, ele só divulgou os casos de resultado positivo e escondeu os casos de quem morreu ou teve que ir para a UTI. Mas o francês, ambicionando fama, chamou uma coletiva de imprensa e anunciou para o mundo a grande descoberta da cloroquina como a “cura” para a COVID-19, causando rebuliço nos meios médicos e acadêmicos.

Donald Trump imediatamente abraçou a cloroquina como panaceia para a COVID-19 e, no Brasil, o genocida Bolsonaro, sempre lambe-botas do norteamericano, fez o mesmo. Seu Jair virou garoto-propaganda da droga miraculosa, desdenhando medidas como distanciamento social, uso de máscaras e álcool gel, e até oferecia cloroquina para as emas do jardim do palácio em Brasília, que fugiam dele.

E, apesar de todo o desmentido do mundo científico ao longo de 2020 sobre a completa inutilidade da cloroquina para tratar COVID-19 (fora os efeitos colaterais de risco de infarto cardíaco e lesão de retina), o Messias Bolsonaro continua firme até hoje na defesa da droga. Ele e seu pelotão de enganadores, como a Dra. Nise Yamaguchi, aquela que não soube na CPI explicitar a diferença entre protozoários e vírus.

Voltando à CPI: Luana ouviu pacientemente a arenga do senador Heinze. Na resposta a ele e à sua alusão aos nomes do índice H, em especial o do cientista picareta Didier Raoult (que mais tarde se retratou de seu trabalho furado), a médica usou de fina ironia. Perguntou de volta a Heinze: “o senhor já ouviu falar do prêmio Rusty Razor?”. Mas ela não explicou na hora o que é esse prêmio.

Rusty Razor, ou “Navalha Enferrujada”, é o nome do prêmio anual, concedido pela antiga revista britânica “The Skeptic” (“O Cético”) ao principal promotor de PSEUDOCIÊNCIA do ano. E quem ganhou o prêmio Rusty Razor de 2020? Didier Raoult, ídolo do senador gaúcho bolsonarista.

O patusco senador Heinze, assim como seu capitão genocida, merece em 2021 um prêmio parecido, tamanha a ignorância e obscurantismo. O melhor mesmo será que o povo não reeleja mais trastes como esses dois e os esconjure para longe de Brasília. Para sempre!

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