O governo federal, desde o começo do ano, adota um ajuste fiscal e medidas que tem feito aumentar o desemprego e aproximar uma recessão na economia. Um forte contingenciamento de recursos (suspensão temporária de repasses) foi adotado sobre todos os ministérios de Dilma, só no MEC sustendo 9 bilhões de reais e provocando situações críticas nas IFES de todo o país.
Há uma severa crise política em curso no Brasil, com o Governo Dilma açoitado diariamente pelos direitistas que comandam o Congresso Nacional e pela grande mídia burguesa monopolista. Segmentos fascistoides promovem na internet um contínuo enxovalhamento de Dilma ( chegando ao ponto da agressão machista) e da esquerda no governo. A direita insufla o clima de impeachment e de incertezas quanto ao futuro imediato. A Operação Lava Jato, com o justiceiro fora-da-lei Moro à frente, detona a Petrobras e empresas de engenharia nacional, levando com isso já milhares de trabalhadores desse ramo ao olho da rua.
No entanto, a avaliação do Comando Local de Greve do Sinditest é cor-de-rosa. Abrimos o site do sindicato na internet e lá vemos uma matéria plena de "wishful-thinking".
Nessa matéria - que relata com fortes tintas de otimismo o que teria sido o debate na assembleia de greve de ontem (14/7), no RU Central da UFPR -, a abertura já diz: "Há chances reais de se obter compromissos inéditos do governo federal, que no momento encontra-se acuado por uma crise política."
Adiante, surge a declaração do colega de irregularidades imobiliárias da gestão Wilson Messias (2008-2011), o ex-diretor Bernardo Pilotto: "Nas últimas greves, o governo havia demorado pelo menos 60 dias só para nos receber (...) Agora, com 45 dias de paralisação, o governo não só já fez uma proposta, como aceitou discuti-la e melhorá-la.”
Se há "chances reais", o debate da assembleia de ontem deveria apontar mais concretamente quais. Se ali se avalia que o governo está acuado (pela direita), e de fato em grande parte está, isso tanto permite avaliar que seria bom como que é ruim para a greve. Governos acuados nada decidem, pois ficam paralisados e deixam a coisa correr.
Na declaração do ex-diretor Bernardo, co-subscritor de documentos sindicais para transações imobiliárias irregulares em 2009, há um erro, talvez involuntário. Na fracassada greve do ano passado, que começou em março, já no começo de abril/2014 o governo enviara contraproposta oficial à pauta da FASUBRA. Só que o Comando de Greve daquela época, já hegemonizado por PSol e PSTU, simplesmente jogou no lixo a contraproposta. Em assembleia geral de greve do Sinditest, então, a contraproposta sequer foi lida para debate, foi rejeitada pelo CLG sem que a base soubesse que existia. Dois meses depois, o CNG-FASUBRA suplicava que o governo recolocasse a proposta rejeitada a priori, mas aí era tarde demais. A greve de 2014 acabou sem nenhuma conquista.
Outra demonstração de "wishful thinking": quem disse ou quem garante que, na proposta original feita, o governo "aceitou discuti-la e melhorá-la" ? O CNG recusou (corretamente) a proposta de acordo amarrado para 4 anos e o índice ridículo total de 21,3%. Porém, em meio a uma política de ajustes restritivos do gasto/investimento público, quantos podem apostar suas fichas que, numa nova reunião, o governo federal virá com um índice muito melhor que esse? O MPOG bem pode vir e propor, em vez de 21% ao longo de 4 anos, 11% ao longo de 2 anos... e só.
Para não sermos, contudo, demasiado céticos e pessimistas, mantenhamos a esperança em ao menos uma coisa que pode ser mais concreta, com a qual, de fato, o MPOG acenou: regulamentar de vez a Convenção 151 (negociação coletiva/data-base). Se o fizer, o governo pode, por seu turno, ganhar um tempo, até os primeiros meses de 2016, sem nada prometer quanto a reajustes. Pelo lado do movimento sindical, a conquista da data-base seria bem importante. Quiçá acompanhada de uma "benevolência" do tipo reajustar algum benefício (como o vale-alimentação) e umas melhorias no PCCTAE. E justificaria um bom encerramento de greve.
Quem sabe, quem sabe. Um pouco de dedos cruzados de torcida, claro, não faz mal. Mas com os dois pés atrás.
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