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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Nada de preces para Showtrick- Cap. 2


Em Daytona Beach, litoral da Flórida, a temporada ainda não tinha começado. Menos para o casal que curtia e se espreguiçava diante das ondas do Atlântico no Regency.

Joey Axes, ex-lenhador, se impacienta com o celular zurrando em plena praia e se maldiz por não ter trocado aquele tom de chamada idiota. Por fim, atende.

- Marla?, pergunta Salvatore do outro lado.

- Não, é o Joey. O que você quer? Estamos curtindo um descanso aqui em Daytona.

- Desculpe atrapalhar, meus caros, mas vocês vão ter que dar uma chegadinha aqui em Orlando, na USCU. E logo.

- Urgente, assim? Tem certeza? Eu e Marla estamos aqui numa boa. Qual é o lance?

- Tem a ver com aquele terreno da USCU em Alafaya, vamos vender já. Prefiro não falar ao telefone os detalhes. Venham pra cá, já.

Joey disse um “OK” desanimado para Salvatore, desligou e se virou para Marla, que o olhava interrogativamente na espreguiçadeira ao lado.

- O chato do pelego do Salvatore, ele quer que a gente volte pra Orlando o quanto antes...

- Saco! - bufou Marla. O que estão aprontando desta vez?

Marla Weinstein Menganini - judia de Baltimore, morena de olhos verdes ou azuis conforme a incidência da luz, cuja pele não tão morena em Daytona Beach já dava mostras de certo excesso de exposição ao sol – posava como a intelectual da União dos Servidores. Formada em jornalismo e artes cênicas na Corners University, Marla tinha flertado com o marxismo acadêmico quando estudante, o que lhe granjeava certo destaque em discussões num meio sindical onde predominavam a mediocridade e o pragmatismo. A convivência com macacos velhos como Salvatore e Nelly, além do meio sonso Joey, seu companheiro, a estava tornando um tanto pragmática também.

- Vamos, Joey, nos livrar logo dessa chateação, atender Salvatore e ainda voltamos aqui pra esta delícia de praia, ordenou Marla, enquanto tirava a parte de cima do biquíni para convidar Joey a uma última diversão.

*************
- Precisamos desmembrar essa droga de terreno em Alafaya – disse Salvatore diante dos sonolentos Joey e Marla, que acabavam de chegar, bronzeados, na USCU. Sem isso nosso amigo do Box Bank de Alafaya não consegue o financiamento que facilitará para nosso laranja comprar aquele terreno.

- OK, e daí?, não entendo, aquela assembleia de otários da USCU em março mandou vender o bagulho, por que não podemos dar seguimento ao negócio? - indagou o sonso Joey.

- Porque o financiamento de 200 mil dólares pro trouxa de Alafaya é só para os componentes 4 e 5 do terreno todo, e só podemos financiar estas duas drogas se estiver tudo desmembrado em 12 lotes, seu panaca!

- Ainda não entendi - retrucou Joey.

- Não é pra entender - disse Nelly percebendo o olhar inteligente de Marla sobre seu ombro -, trata-se de inventarmos aqui um documento de retificação da assembleia dos otários da base feita em março passado, desmembrando essa droga de terreno nos seus 12 componentes! Sacou? Assinem aqui!

- Mas, então, Nelly, o Box Bank de Alafaya vai financiar somente os componentes 4 e 5 do terreno todo por 200 mil? E o resto, os outros dez lotes? - perguntou Marla.

- Venderemos tudo formalmente pelo valor de 250 mil dólares, é isso que informaremos a nossa contabilidade. Podem deixar que providenciaremos direitinho a escritura para o imóvel todo...

- Eu levo algum nisso? – indagou com um piscar de olhos um Joey de repente interessado.

- Olha, Joey, quem sabe... vamos ver – respondeu melifluamente Salvatore, soltando sua risadinha de Pato Donald.

Marla Menganini e o sonso Joey assinaram um documento chamado “Termo de Retificação”. Sabiam que aquilo era uma reinterpretação da decisão de uma assembleia de duas centenas de filiados da USCU feita meses antes, mas naquele momento seus interesses estavam mais voltados para as areias voluptuosas de Daytona Beach. O que não dimensionavam completamente é que se tratava de um endosso de cumplicidade na maracutaia que Salvatore e Nelly estavam armando.
[CONTINUA...]

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