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quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Simão Bacamarte para salvar o Brasil das Bets




Nenhum contribuinte poderá declarar à Receita que enriqueceu jogando em cassino clandestino. Mas se o cassino é legalizado, pode.


A iniciativa do vice-presidente e Ministro da Indústria e Comércio Geraldo Alckmin de convocar reunião com a Ministra da Saúde, Nísia Trindade, e representantes do Ministério da Saúde e da Justiça para tratar da regulamentação de jogos online e bets, é a primeira iniciativa saudável do governo em relação ao tema.

Segundo o Banco Central, os brasileiros gastam cerca de R$ 20 bilhões por mês com apostas on-line.

A posição do Ministro da Fazenda Fernando Haddad é a de que “o governo vai enfrentar a “dependência psicológica dos jogos” no país. Ele anunciou que a Fazenda vai bloquear a partir de 1º de outubro as empresas de apostas online que ainda não se regularizaram”. Como o vício não separa cassino oficializado de não oficializado, o Brasil acaba de lançar o cassino com filtro.

É curiosa essa pressão da Faria Lima [avenida-símbolo do mercado financeiro, dos ricaços do grande capital financeiro] sobre os gastos públicos. É um carnaval diuturno, estimulado por um jornalismo de quinta categoria, incumbido de espalhar bicho-papão para a classe média. E o governo não se vê em condições de enfrentar a Faria Lima, já que tem que administrar o pior Congresso da história.

Fica-se então nesse gradualismo em que, a cada dia, derruba-se mais um princípio norteador da civilização – já que a divisão esquerda-direita não existe mais, mas resiste bravamente a frente civilizatória. A frente deixa entrar um pouquinho votando contra saidinhas de preso e outras concessões que, somadas, mata qualquer veleidade programática para 2026.

Agora, com a legalização do cassino, finalmente o governo conseguiu juntar o bloco civilizatório, independentemente da cor política, todas as pessoas dotadas de um mínimo de bom senso se indignaram com essa loucura, de legalização do jogo. Foi o momento em que os evangélicos mostraram muito mais bom senso que os burocratas.

O que se conseguirá com a legalização?

Certamente facilitará a lavagem de dinheiro. Nenhum contribuinte poderá declarar à Receita que enriqueceu jogando em cassino clandestino. Mas se o cassino é legalizado, pode. O famoso deputado da CPI dos Anões do Orçamento, que dizia ter vencido dezenas de vezes na Loteria Esportiva, mentia, mas dentro da lei: a Esportiva da Caixa é legalizada.

Apesar de o Nelson Motta ter declarado que não existe corrupção no jogo, que se trata da atividade mais fiscalizada pela Receita – sabe-se lá o que o levou a essa conclusão -, lavar dinheiro com Bet legalizada é simples. A Receita sabe o que entra e o que sai de dinheiro.

Mas suponha um sujeito que quer lavar R$ 20 milhões. Basta acertar com o dono da Bet que programará o algoritmo para premiá-lo e entregar a ele o prêmio de R$ 15 milhões. O restante é comissão. É atividade de menor risco do que lavar dinheiro em igreja neopentecostal.

Mas, se for acatada a proposta de que as bets serão responsáveis pelo tratamento aos viciados, será uma festa. Veremos, do mesmo modo, milhões de famílias destruídas, lares desfeitos, mas os louquinhos pelo jogo estarão apinhados em hospitais psiquiátricos, bancados pela benevolência das bets.

Provavelmente, a terapia será submetê-los a jogos de dama. E a única aposta permitida será em torno do crescimento diário da arrecadação da Receita com o jogo.
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P.S.: Simão Bacamarte é o personagem do conto de Machado de Assis, "O Alienista", que é médico e resolve abrir um hospício numa pequena cidade do Rio, a "Casa Verde".  Ele se investe da condição de psiquiatra e vai aos poucos internando os habitantes da cidadezinha, até que praticamente todos estão lá internados, restando apenas ele como o único "normal".  Leiam!

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