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segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Nada de preces para Showtrick - Cap. 3

O expediente no Box Bank já havia acabado naquela calorenta tarde em Alafaya, mas numa mesa dos fundos da agência cinco pessoas acertavam um negócio, conversando quase por meio de sussurros.


- Não vai embora, Caccioli?, gritou da porta o penúltimo bancário saindo do trabalho.

- Não, Donald, estou terminando um último negócio aqui. Boa noite e bom descanso pra você, colega! Amanhã almoçamos na Fergie’s.

Subgerente no Box Bank, com autonomia para liberar financiamentos, Fortunato Caccioli pesquisava os olhares ladinos à sua frente de Salvatore, Nelly, Niels e de um corretor imobiliário curiosamente apelidado de “Graceland”.

Gerald “Graceland” Ipkiss era muito fã de Elvis Presley, daí o apelido alusivo à famosa mansão do cantor em Memphis, mas, considerando sua ocupação atual, a alcunha ficava dúbia – “terra da graça”. Mas não de graça. E ele sabia muito bem que interesses estavam em jogo naquela rodinha. Estava intermediando a transação do terreno da USCU entre Salvatore, Nelly e o comprador Niels, contando com a boa vontade do subgerente para liberar o financiamento sem maiores entraves burocráticos, tais como comprovações de renda de Niels e da esposa.

Salvatore resumiu a situação do negócio:

- Olha, Caccioli, acabamos de conseguir as assinaturas de outros diretores importantes da USCU no Termo de Retificação da Ata, que nos permite desmembrar o terreno e com isso vocês do banco financiarem os componentes legalizados 4 e 5 do total do imóvel. Niels vai logo nos passar 50 mil de entrada em cash, o seu Banco repassa 200 mil restantes ao Niels e ele nos paga a segunda parcela, ok?

- Tá certo, mas por favor, sigilo total sobre isto aqui. E o Niels tem que me pagar direitinho as prestações do financiamento estes meses próximos. Antes que a direção superior desconfie que o contrato não é perfeito.

Niels, sempre calado, murmurou um “pode deixar”. E acrescentou: “Minha mulher e eu viremos aqui assinar quando você chamar.”

- Fico no aguardo dos negócios posteriores com os componentes sobrantes do terreno, disse Caccioli. Só espero que isso não demore muito tempo.

- Com a valorização dessa área de Alafaya, não vai demorar para vendermos os lotes restantes, pode ficar tranquilo, asseverou Nelly, mais uma vez com seu sorrisinho falso.

- E o meu lotezinho também!, exclamou contidamente o corretor Graceland. Já tenho em mira um potencial comprador assim que finalizarmos tudo e eu ganhar essa minha comissão na forma desse lote.

Prosseguiram a conversa, acertando últimos detalhes para que nenhum furo ficasse, nenhum fio solto que permitisse a algum xereta chegar à meada da armação. No final, brindaram com goles de água mineral gasosa, a única coisa ainda bebível naquele fim de expediente num banco. 

Niels, Caccioli e Graceland iam ganhar o seu “de direito” pela colaboração, Salvatore e Nelly também iam se dar bem e – pensavam estes dois – os filiados da USCU iam todos ficar também contentes por finalmente terem-se livrado de um terreno tão “inútil” para a organização sindical.

Mas Salvatore estava eufórico e convidou para celebrar mais:

- Aí, pessoal, o negócio todo está encaminhado, graças a nossa capacidade e ousadia! Está um calor danado, e eu acho que a gente devia comemorar de verdade! Que tal irmos todos lá pra Orlando dar um rolé no show de strippers do “Black Cat”?

Os olhares dos outros brilharam de entusiasmo inicial pelo convite à farra, mas Niels e Caccioli desistiram, alegando compromissos com as respectivas “patroas”.

- E você, Graceland?, inquiriu Nelly, do alto de sua religiosidade pragmática.

- Olha, caras, esse lance está tão maneiro que vou nessa com vocês! Uhu!

Dali a três horas, era quase 9 da noite, estavam Salvatore, Nelly e Graceland aboletados numa mesa rústica, pedindo uns petiscos no famigerado “Black Cat”, o point de Orlando que só fechava às cinco da manhã com direito a variadas emoções.

[CONTINUA...]

Um comentário:

Rita de Cassia disse...

Mais uma vez a semelhança com a vida real.