- Está feito e acho que não deixamos rastros.
- Me sinto triste, apesar das bobeiras, ele era
um cara legal. Não entendo por que deu aquela vacilada.
- Ele andava ligado demais à igreja dele, pode
ter influenciado.
- E daí, você é um cara de igreja, você é um “obreiro”
dessa porra dessa tua igreja evangélica!
- Calma, calma, em nossa igreja separamos as
coisas da terra e as do espírito...
- Porra, o que eu sei é que o cara saiu desta
terra e agora no máximo é um espírito! E o espírito dele não te incomoda? E a
família do cara que apagamos?
- Eu sei, eu sei, mas afinal de contas foi para
um bem maior, não é? Se o cara desse com a língua nos dentes pra polícia, pra
Receita, ou até pra gente da oposição, aí a coisa ia ficar feia pra nós, pra
todos, pra nossos próprios filiados que precisam de uma administração
equilibrada! Vamos rezar pela alma de nosso bom vacilão John Dick!
Diante desse argumento racionalizador, o
presidente relaxou um pouco. Sentiu
menos a perda de seu principal tesoureiro, ao lado de quem já tinha feito
tantas lutas na Clínica Geral da universidade dez anos antes. Sua disposição voltou, o negócio era ir
adiante. O morto tinha que virar passado. Enterrado e abolido da memória. Até a Polícia já estava dando o crime como de
difícil solução e ninguém havia chegado na USCU para maiores investigações, além
de uma visita para perguntas protocolares. Tudo ia bem e tudo iria bem.
Em breve a transação imobiliária seria
anunciada para a multidão ignara dos filiados, num grande almoço pago pelos próprios,
mas com aparência de “boca livre”, é claro. O presidente ligou para Marla
pedindo uma matéria especial para o jornal da USCU anunciando o negócio concluído. Depois, emborcou mais uma dose de JB, murmurando frases obscenas e encomendando alguém do serviço de acompanhantes de Daytona Beach.
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