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quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Reminiscências da "Júlia"


Degustando térmitas

No verão era comum nossa casa de Paranaguá (a maior parte feita de madeira) ser invadida por nuvens de milhares e milhares de cupins, cobiçosos de nos devorar paredes, portas, móveis, o que fosse feito de madeira para seus germes simbiônticos intestinais ajudarem na digestão. Claro que muitos desses insetos viravam banquete para as numerosas lagartixas correndo vorazes pelas paredes onde eles pousavam.
Para provocar nojo em minhas irmãs eu comia alguns térmitas ainda vivos, com asinhas e tudo. Ora, chineses comem essas coisas, cruas ou fritas. E no cultuado filme “Estômago”, com várias locações feitas em Curitiba, o personagem principal, que é cozinheiro e está preso, prepara uma farofa de formigas fritas para agradar seus colegas de cela; eles se lambuzam comendo o prato diferente, mas não ficam lá muito felizes ao saber qual o ingrediente principal da farofa…

Além disso, eu também oferecia refeições cupinzentas para Elizabeth, minha aranha de estimação, em seu terrário.



Piromania

Reconheço que, na infância em Paranaguá, eu tinha certo impulso mórbido por fogo. Inseria bombinhas juninas num buraco feito no caule do mamoeiro (havia muitos em nosso quintal) só para ver o efeito implosivo sobre a coluna central da indefesa árvore, o que levava minha mãe à perplexidade e momentos de cólera. Mas nunca levei surra por isso.
A surra que eu merecia foi quando, insensato, incendei um velho colchão de palhinha no porão, imediatamente abaixo de onde ficava, na parte de cima, a cozinha da casa.. Felizmente o fogo foi contido a tempo, ou poderia haver uma explosão daquelas por causa do bujão de gás da cozinha.
Mais tarde eu me limitei a usar controladamente um bico de Bunsen no pequeno laboratório químico no meu quarte.


Hey Jude e minha amiga da praia

Lá pelos fins de 68, fui convidado a uns dias na Praia de Leste, a convite de uma vizinha. Também foi a sobrinha dessa vizinha, muito jovial e já conhecendo algumas músicas e bandas daquela época. Uma das bandas eram os Beatles, e ela tinha um disco (acho que um compacto) com a famosa canção “Hey Jude”. Até então, eu nunca tinha conhecido a música. Minha amiga me chamou à sala para ouvir e eu, bobo – acostumado a só ouvir música brasileira dos anos 50 e 60 dos LP’s do meu pai (sessões domingueiras em casa) – detestei “Heu Jude”. Além disso, mal sabia inglês. Se não fosse tão conservador então, careta mesmo, provavelmente eu ouviria muitas sessões da playlist da turma de Liverpool. E talvez tivesse um tipo um pouco diferente de “sessões” com minha bonita amiga.


Abacateiro – plataforma de paraquedismo e moita de voyeurismo

Já escrevi antes, publicadas no Blog “Na Luta”, umas quatro “Crônicas do Abacateiro’, um dos meus refúgios na parte mais dos fundos do quintal da casa de Paranaguá. Talvez não tenha relatado que uma das ideias de piá doido foi testar se um guarda-chuva serviria como pára-quedas. Para isso, subi com dito cujo a um galho do abacateiro talvez a um galho a uns 12 metros do chão, abri o guarda-chuva e me atirei ao solo. Claro que me esborrachei, contudo a areia na frente da árvoes era fofa e só restei com umas escoriações num joelho. Entretanto, fiz o teste experimentando em mim mesmo. Mais sensato do que o padre de Paranaguá que queria subir aos ceús pendurado em centenas de balões de gás de festa infantil e desapareceu.
Sobre a questão do voyeurismo, deu-se porque um amigo meu havia comprado uma luneta e convidou a um outro e a mim para “frestar” uma moça cuja casa ficava a uns 20 metros distante do fundo do meu quintal, e, quase sempre que ela chegava da escola, trocava de roupa com a janela aberta. Bem,esta “experiência” dos meninos voyeuristas deu certo, e saímos contentes do fundo do quintal.

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