Meu finado amigo João Batista contemplava lá de cima, do céu, o inextricável cenário eleitoral do 2. turno de Curitiba. Na nuvem a seu lado, o também falecido reitor Ocyron, que alcunhava Batista, nas sessões do Conselho Universitário da UFPR, de “o intrépido gozador”, também assistia àquela menoscabável disputa.
Aparecendo-me em sonho, com seu infalível martelinho na mão, Batista me expôs a metáfora comparativa que vai a seguir.
“Imagine, caro velho amigo Nitsche”, começou Batista, “que você tenha que tomar uma decisão sobre uma situação desagradável. Você tem que tomar alguma decisão. Para você comer, diante de si tem uma porção de vômito e uma porção de fezes, e tem que decidir quanto a qual dessas inefáveis porções excrementais optar para deglutir.”
“Que asco, Batista! Não dá para aceitar fazer escolhas nessa situação!”, eu replico.
“Eu sei, amigo Nitsche”, retruca Batista. “Mas, aqui, não importa por quais constrangimentos, você está obrigado a assumir uma opção – sair correndo para longe, com nojo e fechando as narinas com a mão; olhar para as opções e negar-se peremptoriamente a fazer uma escolha; optar por uma das desagradáveis porções sobre as quais moscas já sobrevoam. O que você decide?”, cobra o Batista.
“Ah, Batista, agora me confundiu…”, fico eu redarguindo entre muxoxos.
“Reflita amigo: Eduardo Pimentel é o vômito. Cristina Gremlins é o cocô. Ambos dejetos do organismo, um saindo por cima e outro saindo por baixo. Se você sair correndo para longe, isso é não ir votar no dia 27. Se você meramente se recusar a uma decisão, isso é seu voto nulo. Então, a tomada de posição racional é comer o vômito, que, aliás, tem no meio um resto semidigerido de salsicha(*). E, claro, recusar de plano a bosta dita durinha, embora possa até aparentar estar meio cheirosa. Entendeu?”
“Meu velho Batista, confesso que não alcancei o significado do gesto pelo vômito! Mixplica!”
“Ora, pense nos conteúdos das duas porções nojentas. Um vômito é constituído por alimentos semidigeridos, suco gástrico demolidor (enzimas, ácido clorídrico) e pouquíssimas bactérias viáveis por causa da ação desse suco derretedor. O cocô, por sua vez, além de representar a sobra inservível dos alimentos ingeridos, é constituído por grande massa apenas de muitos milhões de bactérias, tanto as boas como as patogênicas, as quais, se comidas, podem causar um problemão para o organismo. Assim, o vômito seria menos perigoso que a bosta. Fica mais claro?”
“É, assim posto, parece mais claro e lógico”, entrego-me eu, no sonho, rendendo-me à racionalidade do meu finado amigo Batista. “Mas que é nojento, é!”
E Batista: “Pois é, mas quando a política não é percorrida por numerosos traços nojentos?”
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(*)A salsichinha no meio do vômito corresponde à figura asquerosa do mega-reacionário Paulo Martins, candidato a vice de Pimentel.